terça-feira, 25 de outubro de 2016

Ramires


Lançado pelo Vitória de Guimarães na I Liga, Ramires haveria de "marcar posição" no principal palco do futebol luso ao serviço do Alverca, clube que representou durante oito anos.
No Ribatejo, Ramires não só teve a oportunidade de se afirmar na I Liga, como ajudou o clube a subir de divisão por duas vezes.
Formado no Sporting e internacional por Portugal em todos os escalões jovens, o antigo extremo nunca foi aposta do clube de Alvalade, e um ano depois de ter saído para Guimarães como uma das "moedas de troca" por Pedro Barbosa e Pedro Martins, despertou o interesse do Benfica, clube com quem teve contrato durante cinco anos, e que o emprestou sempre ao Alverca.
Em 2004 o Alverca deixou a I Liga e Ramires seguiu igual caminho, de nada valendo os 132 jogos e 17 golos em seis temporadas ao mais alto nível.
Ainda vestiu as camisolas encarnadas do Santa Clara e do Imortal, até rumar a Espanha, para representar o Zamora, que jogava, então, na II Divisão B. A essa experiência, seguiram-se cinco temporadas no Luxemburgo, quatro no Hamm Benfica e uma no Kayl Tétange, antes de terminar a carreira.
Atualmente com 40 anos, a máxima ligação que o antigo futebolista tem com o futebol, é o facto de representar os Veteranos do Benfica, mas não esconde que gostava de voltar ao "desporto-rei" noutras funções.

Prémio Carreira: Estreia-se na I Liga, ao serviço do V. Guimarães, emprestado pelo Sporting. Que motivos o levaram a aceitar mudar-se para a "Cidade Berço"?
Ricardo Ramires: Sim, é verdade, estreei-me na I Liga ao serviço do V. Guimarães, mas não fui emprestado ao V. Guimarães pelo Sporting. Fui cedido a título definitivo, juntamente com o Capucho, o Edinho e o Arley, envolvidos no negócio do Pedro Martins e do Pedro Barbosa. Inicialmente era para assinar por três épocas com o V. Guimarães, mas só cheguei a acordo por uma época.

PC: Pelo Vitória, no campeonato, faz apenas dois jogos como suplente utilizado. Recorda-se da sua estreia na I Liga? O que correu mal para ter jogado tão pouco?
RR: Claro que me recordo da minha estreia na I Liga: foi contra o Tirsense. Foi um dia muito especial e que me marcou para sempre, pois tinha realizado um dos meus sonhos em termos Profissionais, que era jogar na I Liga. Foi, de facto, um dos dias mais felizes da minha vida.
Acho que não correu mal, o 'problema' é que tinha no meu lugar só dois dos melhores extremos direitos do futebol Português naquele momento: o Vítor Paneira e o Capucho. E eu, com 19 anos, tinha muito que aprender, mas fui quase todos os jogos convocado, fruto de muito trabalho nos treinos. Aprendi muito nesta época, pois tínhamos um plantel de grande qualidade, tínhamos uma grande equipa e fomos com naturalidade à Taça UEFA.

PC: No final dessa temporada, 95/96, um ano depois de ter deixado de ser jogador do Sporting, torna-se jogador do Benfica. Como é que surgiu esta possibilidade?
RR: Naquele momento, o meu empresário era o Sr. José Veiga, e no final da época fui convocado para os Sub-21, que iam disputar o Torneio de Toulon, e como a minha prestação foi excelente, surgiu o interesse do Benfica. Tinha, também, a possibilidade de renovar contrato com o V. Guimarães, mas optei por assinar pelo Benfica, porque o Benfica naquela época não tinha nenhum extremo direito.
Fui o primeiro jogador a utilizar a Lei Bosman em Portugal.

PC: Durante os cinco anos de contrato que teve com o Benfica, esteve sempre emprestado ao Alverca. Nunca lhe justificaram o porquê de não apostarem em si?
RR: Não. Na primeira época fiz parte do plantel principal do Benfica durante cinco meses, e o meu empréstimo ao FC Alverca começa em Janeiro dessa época.
Nas quatro épocas e meia que tive emprestado pelo Benfica ao Alverca, fui um dos jogadores com mais produtividade e rendimento na equipa, com a realização de excelentes épocas e nunca me foi dada a oportunidade de fazer uma pré-época. Só realizei uns jogos amigáveis pelo Benfica contra Real Madrid, Gil Vicente e outras equipas mais, e a minha prestação foi sempre muito positiva, cheguei mesmo a marcar o golo da vitória contra o Gil Vicente. Depois desse jogo, renovei contrato com o Benfica e fui novamente emprestado ao Alverca, e os responsáveis do Benfica daquela altura nunca me chamaram para conversar.
O porquê não sei, só os responsáveis do Benfica dessa altura é que podem responder a essa questão.

PC: Jogou oito anos no Alverca, cinco deles na I Liga. O Alverca foi o clube mais importante na sua afirmação como jogador profissional?
RR: Sim, sem dúvida. Foi o clube onde vivi os melhores momentos da minha carreira. Mas quero também ressalvar a importância do Sporting, que foi o clube que marcou a minha carreira, pois foi onde fiz toda a minha formação, e onde aprendi o mais importante para ser profissional de futebol, a par dos tempos que passei na Seleção. Foram cinco épocas de formação e uma de sénior emprestado ao Torreense, cheguei a ser Capitão dos Juniores do Sporting, aos 17 anos estreei-me nos seniores, no campeonato de Reservas contra o Olivais e Moscavide, e até marquei um golo. Fiz jogos amigáveis pelos seniores e cheguei a fazer treinos com a equipa principal, e se o mister Bobby Robson não é despedido, eu ia fazer parte do plantel principal do Sporting com 18 anos, mas, depois, com a chegada do mister Carlos Queiroz, fui emprestado ao Torreense.
Tudo o que fui como profissional de futebol e, o que sou como Homem, devo tudo ao Sporting.


PC: Que recordações e momentos guarda do tempo que lá viveu?
RR: Foram momentos de grande nostalgia que já mais esquecerei. Eu, juntamente com toda a estrutura do FC Alverca, os treinadores e os meus colegas, que eram grandes jogadores, conseguimos formar várias equipas de grande nível, com grandes resultados. Em termos de vitórias, só não conseguimos ganhar ao FC Porto, de resto, a todas a outras equipas do campeonato conseguimos ganhar nas cinco épocas que estivemos na I Liga e, dado à dimensão do clube, conseguimos marcar o FC Alverca no futebol Português.
Fiz bons amigos e foi um privilégio e uma honra ter representado o FC Alverca nessas oito épocas, e de ter jogado ao lado de grandes jogadores de nível Mundial como Ricardo Carvalho, Deco, Maniche, Bruno Basto, Mantorras, Hugo Leal, Milinkovic, Nuno Assis, Bruno Aguiar, Ronald Garcia, Lima, Rui Borges, Cajú, Hugo Costa, José Soares, Valente, Paulo Santos, Kulkov, Anderson, Tinaia, Zeferino e muitos outros jogadores.

PC: Em 2004 o Alverca desceu à II Liga para não mais voltar à I, e o Ramires fez um percurso semelhante. Não teve convites para continuar a jogar na I Liga?
RR: Não, não tive nenhum convite para continuar a jogar na I Liga, para espanto meu, pois tinha realizado praticamente todos os jogos da época e nenhum clube se interessou por mim, estranhei claro, mas sabia bem que o futebol também tem estes momentos maus, e que são muito difíceis de ultrapassar.

PC: Dois anos depois estava a representar o Zamora, da II Divisão B espanhola, e mais tarde jogou cinco épocas no Luxemburgo. Como apareceu o convite para jogar em Espanha? O que retém dessas experiências que viveu no estrangeiro?
RR: O convite para jogar em Espanha surgiu através do meu amigo e colega Toni, que jogava no Zamora, e que em conversa com o seu treinador, este lhe disse que o Zamora procurava um extremo direito de qualidade, e foi então que o Toni mencionou o meu nome ao seu treinador. Fiz uns treinos e dois jogos para me verem jogar e assinei por uma época com outra de opção.
Em Espanha foi nostálgico para mim, foi como renascer para o futebol aos 30 anos, foi o facto de me sentir novamente jogador 'a sério' como em tempos na I Liga Portuguesa. O treinador espanhol gostava muito de mim, foi lá que marquei o melhor golo da minha carreira e só não acabei a carreira no Zamora, porque eu e o presidente tivemos um mal entendido aquando da renovação do meu contrato, o que originou a minha curta passagem pelo Zamora. A minha história em Espanha não é outra e de grande nível, porque cheguei muito tarde ao futebol espanhol, com 30 anos.
No Luxemburgo assinei três épocas e meia de contrato com o Benfica do Luxemburgo e uma época pelo Kayl Tétange. Foi uma honra e um privilégio ter jogado nestes dois clubes portugueses no Luxemburgo. Passei bons momentos e alguns maus, como é normal no futebol, mas fiz grandes amizades e tenho lá grandes amigos que me receberam de braços abertos aquando da minha chegada aos clubes e ao País. Quero, desde já, agradecer a eles todos: o meu muito obrigado por tudo e só não continuei a jogar até hoje, porque as lesões musculares não me largavam e, infelizmente, o meu corpo estava desgastado de muitos anos e assim terminei a minha carreira com 36 anos.

PC: Fez seis épocas na I Liga, qual foi a sua melhor?
RR: A minha melhor época na I Liga foi na época 2000/2001, com o mister Jesualdo Ferreira.

PC: Qual o lateral mais difícil que enfrentou?
RR: Foram vários, mas só vou mencionar três: Roberto Carlos, que defrontei no tal jogo amigável contra o Real Madrid; o Rui Jorge quando estava no Sporting, e o Esquerdinha do FC Porto.

PC: Tem 44 internacionalizações por Portugal em diversos escalões. Chegar à Seleção foi o ponto mais alto da sua carreira? 
RR: Sim, joguei em todas, só não consegui ser Internacional A.
Mas fui Campeão Olímpico no escalão de Sub-16, em Bruxelas, na Bélgica; ficámos em 4º lugar no Campeonato da Europa de Sub-16, no Chipre; fui Campeão Europeu de Sub-18 em Espanha, em Mérida; 3º lugar no Campeonato Mundo de Sub-20, no Qatar; e no primeiro jogo da Seleção B, fiz o golo do empate contra a Roménia.
Sem dúvida que este foi o ponto mais alto da minha carreira, pois para mim não existe feito maior do que representar o meu País. Penso que qualquer jogador profissional de futebol ambiciona jogar nas suas Seleções.
Foi um privilégio e tive a honra de ter representado o nosso País por muitos anos.

PC: Foi jogador de Mário Wilson durante algumas épocas. Tendo em conta que o "Velho Capitão" era conhecido pela boa-disposição e pelas histórias que tinha, que momento vivido com ele quer/gostava de partilhar?
RR: O mister Mário Wilson foi um dos treinadores que marcou a minha carreira, não só pelo bom treinador que era, mas sim, também, pelo ser humano que era.
Vou partilhar uma história com vocês, que aconteceu num determinado treino em Alverca, em que já na parte final do treino fizemos um jogo entre nós, a chamada 'peladinha', que tem o mesmo carácter que um jogo para nós, jogadores, e com apenas cinco minutos de 'pelada', o Deco faz um golo magistral e o mister Mário Wilson disse em voz alta: "Quem é este jogador? Só os mágicos é que marcam este tipo de golos, Deco, podes ir tomar banho!" e assim foi, o Deco foi tomar banho mais cedo que nós.

PC: Neste momento a única ligação que tem com o futebol, é o facto de representar os Veteranos do Benfica. Não gostava de voltar ao futebol noutras funções?
RR: Neste momento, trabalho na área da Saúde e Bem-Estar, sou empresário e distribuidor de um suplemento natural que é único, exclusivo e patenteado no Mundo: a 4Life Research.
Neste momento, não esta na minha mente estar ligado ao futebol de outra forma, mas nunca se sabe e, se isso acontecer, gostava de fazer parte de uma equipa técnica como treinador-adjunto, para começar.


A carreira de Ramires, aqui.

Veja um golo de Ramires ao FC Porto, logo no início do vídeo:


E aqui, por volta dos 2:15 do vídeo, outro golo diante do FC Porto:

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