quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Artur Jorge


Artur Jorge será sempre uma das grandes referências do Sp. Braga.
Bracarense de gema e capitão de equipa, o antigo defesa-central representou durante doze épocas consecutivas o emblema minhoto na I Liga, e viveu a fase em que o clube ultrapassou as dificuldades, ergueu um projeto e se afirmou em definitivo no futebol português.
Quando os bracarenses regressaram às provas da UEFA, em 1997, após uma longa ausência, coube a Artur Jorge assinar a vitória minhota sobre o Vitesse, da Holanda, no jogo da segunda mão, com dois golos marcados, ambos na conversão de grandes penalidades, e que resultaram numa vitória por 2-0.
Em 2004, com 240 jogos na I Liga ao serviço do seu clube de sempre, rumou ao Penafiel, onde realizou apenas um encontro, lesionando-se com gravidade logo de seguida, algo que precipitou o fim de um percurso futebolístico, onde constam, também, seis internacionalizações por Portugal, sempre no escalão Sub-21.
Artur Jorge tem no seu filho um digno sucessor: herdou o mesmo nome do Pai, joga na mesma posição e representa o mesmo clube. Recentemente foi promovido à equipa principal bracarense, por quem já leva quatro jogos consecutivos, três deles como titular.
Aos 44 anos, é dono de uma academia de futebol em Bissau, ao mesmo tempo que gere uma empresa de agenciamento de jogadores. Para trás fica, por enquanto, a carreira de treinador, que conta com passagens por Famalicão, Tirsense e Sp. Braga B.

Prémio Carreira: Em 1992, depois de dois anos de empréstimo ao Arsenal de Braga, é integrado no plantel principal do Sp. Braga. Lembra-se de como recebeu a notícia?
Artur Jorge: Fiz toda a minha formação no SC Braga e o Arsenal de Braga funcionava como funcionam hoje as equipas B. Foi uma enorme alegria saber que iria integrar a equipa A, era a realização de um sonho e uma grande prova de confiança do clube em apostar em mim. Tanto mais que, no mesmo dia, final de época, em que me foi comunicada essa decisão, a direção do clube reuniu com o plantel do Arsenal, para informar que o projeto da equipa B terminaria nessa época. Fui o único jogador desse ano a continuar, depois de uma época que individualmente correu muito bem.

PC: No primeiro ano fez doze jogos no campeonato, sete deles como titular. Recorda-se da sua estreia na I Divisão?
AJ: Perfeitamente. Fui suplente em Belém num jogo que ganhamos pela margem mínima. A cerca de vinte minutos do fim, o mister Vítor Manuel apostou em mim, estreando-me, para uma maior solidez defensiva.

PC: Foi titular indiscutível do Sp. Braga durante vários anos consecutivos, mas nunca deixou o clube. Não recebeu propostas para sair para outros campeonatos e até para os "nossos grandes"?
AJ: Naturalmente que sim. Anteriormente a visão dos clubes era menos empresarial, algumas dessas propostas eu apenas tive conhecimento passado anos. Desportivamente o SC Braga sempre acreditou em mim e eu nunca manifestei vontade de sair apenas por sair. Sempre me senti honrado e realizado por servir o SC Braga, o clube que foi a minha casa desde os doze anos. 

PC: Viveu o período em que o Sp. Braga se afirmou em definitivo no futebol português. Como bracarense e capitão de equipa, como viu e sentiu esse crescimento do Braga?
AJ: De facto o período da minha carreira coincide com o crescimento e afirmação do SC Braga. Uma carreira em crescendo internamente onde, no início, passamos por muitas dificuldades até ao momento em que há uma estabilidade e um projeto. Como atleta, sentimos de uma forma forte esse momento em que a estabilidade financeira ajudou a crescer desportivamente. Hoje é um clube de grande dimensão, com afirmação desportiva nacional e internacional. Um caso de sucesso!

PC: Em 2004 saiu do Sp. Braga, pondo fim a uma ligação de dezoito anos com o clube. Qual ou quais os motivos para a sua saída?
AJ: O final do meu contrato e o facto de não entrar nos planos do treinador para a época seguinte.

PC: Continua a jogar na I Liga, assinando pelo Penafiel. Porém, fez apenas um jogo e não mais voltou aos relvados. O que aconteceu?
AJ: Continuei na I Liga, onde assinei com o Penafiel por dois anos, mas uma lesão na segunda semana de campeonato e nova operação ao joelho, fizeram com que eu tomasse a decisão de terminar a minha carreira imediatamente.


PC: Qual foi o melhor momento da sua carreira?
AJ: Destaco não o melhor, mas um dos mais marcantes, onde conseguimos a minha primeira qualificação para as competições europeias, de onde o SC Braga andava afastado à mais de dezoito anos. Terá sido o arranque definitivo para a afirmação do SC Braga.

PC: Pelo Sp. Braga alcançou dois quarto lugares na I Liga, teve três qualificações para as competições europeias e jogou uma final da Taça de Portugal. Essa final perdida no Jamor, em 1998, é a maior mágoa da sua carreira?
AJ: Mágoa por perder, mas um dos momentos mais bonitos e emocionantes que vivi. A final da Taça de Portugal tem uma mística incrível e foi um privilégio ter a oportunidade de a disputar.

PC: Cumpriu treze épocas na I Liga. Qual destaca como a sua melhor?
AJ: A época de 1996/97 onde cumpri 32 dos 34 jogos do campeonato, com a conquista do quarto lugar e apuramento para as competições europeias.

PC: Qual ou quais os pontas-de-lança que mais "trabalho" lhe davam?
AJ: Defrontei avançados de grande qualidade como Nuno Gomes, Domingos, Jardel, João Pinto, Jimmy e Caniggia.

PC: Que história vivida no futebol pode ou quer partilhar?
AJ: O que acontece no futebol fica no futebol.

PC: Tem no seu filho um digno sucessor: tem o mesmo nome, joga na mesma posição e no mesmo clube. Tendo em conta as atuais conjunturas do futebol, pensa que o Artur pode fazer um trajeto semelhante ao que o Pai fez no SC Braga?
AJ: Tem todas as condições para atingir um nível superior, tendo em conta a dinâmica empresarial que hoje são os clubes. É um excelente atleta, muito profissional, ambicioso e competente. Está muito feliz por representar o SC Braga, o seu clube de coração.

PC: Neste momento tem uma academia de futebol em Bissau e gere uma empresa de agenciamento de jogadores, mas também já foi treinador. O futuro no futebol não passa por voltar a treinar?
AJ: Treinar diria que é uma grande paixão, mas reconheço que tenho dificuldades em me identificar com propostas ou clubes onde não existe um plano, um projeto. Poderia estar a treinar mas continuo convicto de que não vale tudo para isso.
A academia em Bissau é um projeto de grande valor social paralelamente ao desportivo. Fazemos o scout de atletas em toda a Guiné e selecionámos os melhores para fazerem parte da nossa equipa. Proporcionamos a todos melhores condições de treino e do seu próprio dia-a-dia. É muito gratificante acompanhar o empenho e a ambição de quem pouco tem, para conseguir uma oportunidade de atingir o seu sonho. Gosto da simplicidade e do reconhecimento puro dos atletas no trabalho que fazemos juntos.
A empresa agencia todos os atletas da academia e intermedia a sua colocação fora do mercado da Guiné. É igualmente objetivo alargar o mercado de atletas representados assim como o de outros mercados.


A carreira de Artur Jorge, aqui.

Veja os dois golos de Artur Jorge diante do Vitesse, na Taça UEFA, em 1997:


E aqui, por volta do 1:15, um golo de Artur Jorge ao Sporting, em 2002:

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