quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Marco Almeida


Marco Almeida teve uma estreia de sonho na I Liga: aos 20 anos, ao serviço do Sporting, foi titular diante da Académica e apontou o único golo do encontro.
Esse foi o ponto de partida para uma época em que fez quatro jogos e dois golos no campeonato, mas, depois, e ao contrário do que se pensava, só voltou a jogar pelo Sporting duas épocas mais tarde, entrando nos minutos finais de um jogo em Campo Maior.
Porém, esses poucos minutos em campo valeram-lhe algo muito especial: foi Campeão Nacional pelo seu clube de sempre, que, em 2000, pôs um ponto final num jejum que durava há dezoito anos.
O Campomaiorense, sempre por empréstimo do Sporting, e o Alverca, foram os outros clubes que o antigo central representou na nossa I Liga, tendo estado presente e sido titular no momento mais alto da história do clube alentejano: a final da Taça de Portugal em 98/99.
Experiências no estrangeiro foram quatro: a primeira no Southampton, emprestado pelo Sporting; o Ciudad de Múrcia, depois de sair do Alverca; e o Nea Salamina e o Akritas do Chipre, intervalados pelas passagens por Maia, Portimonense e Lourosa.
Clubes à parte, Marco Almeida somou 53 internacionalizações por Portugal, entre os Sub-15 e a extinta Seleção B.
Aos 39 anos é um dos treinadores dos Juniores do Alta de Lisboa, depois de já ter passado pelas camadas jovens do Águias de Camarate.

Prémio Carreira: Teve uma estreia na I Liga de que poucos se podem gabar...
Marco Almeida: Sim, é verdade. Foi um momento único. Recordo-me perfeitamente: foi um jogo contra a Académica, em Dezembro, ganhamos 1-0 e eu fiz o golo. O Marco Aurélio estava lesionado, o Beto castigado, e "sobrava" eu e o Nené. Sinceramente não esperava jogar. Sempre achei que o Vicente Cantantore optasse por outra situação, mas não, decidiu dar-me a oportunidade, e eu agarrei-a. 

PC: Nesse primeiro ano no Sporting, quatro jogos e dois golos. Foi um ano de aprendizagem?
MA: Sim, sim, acima de tudo, foi um ano de aprendizagem. Não de aprendizagem sobre a mística do clube, porque estava no Sporting desde os dez anos de idade e estava perfeitamente identificado com o clube - aliás, estava e estou. De repente, passei a estar lado a lado com grandes profissionais, que admirava imenso, e que estava habituado a ver apenas do lado de "fora". Mas foi uma fase muito complicada para o clube, o Sporting atravessava um mau momento, não tinha muita estabilidade, e a prova disso foi que nessa época tivemos quatro treinadores: começámos com o Octávio Machado, depois ficou o Vital, que era adjunto do Otávio, durante algum tempo, veio o Cantatore e ficou duas semanas, e por fim veio o Carlos Manuel, que terminou a temporada.

PC: No ano seguinte é emprestado ao Campomaiorense. Foi uma boa opção?
MA: Foi uma opção viável. Fui ao Torneio de Toulon pela Seleção Sub-21, tive uma proposta do Bétis, o Sporting aceitou mas eu não quis sair. Queria ficar cá e afirmar-me pelo Sporting, pelo que não tinha nenhum interesse em sair do clube. Entretanto surgiu a hipótese de ser emprestado ao Campomaiorense, o João Alves falou comigo, disse o que pretendia de mim e para a época do clube, e eu aceitei porque era mais benéfico jogar em Portugal, onde podia ser visto pelos diretores do Sporting, e principalmente porque ia poder jogar com regularidade, visto que era jovem e precisava de jogar. E foi, sem dúvida, uma decisão acertada. Fizemos uma excelente temporada, fomos à final da Taça, e tinhamos uma grande equipa: Isaías que tinha jogado no Benfica, Paulo Sérgio, Abílio, Luís Miguel, Mauro Soares, Jorge Ferreira que tinha sido capitão do Braga, Demétrios, Jorginho... era uma excelente equipa.

PC: Imagino que tenha ficado a mágoa por causa da Taça...
MA: Sim, ficou a mágoa, claro. São as chamadas "oportunidades de uma vida". Se calhar, nem daqui a duzentos anos tanto o Campomaiorense como o Beira-Mar voltam a ir a uma final da Taça. Não posso dizer se foi injusto ou não, porque o Beira-Mar marcou e nós não. Lutámos até ao fim, demos tudo o que podíamos para vencer a Taça e dar o prémio às pessoas de Campo Maior, mas, infelizmente, não conseguimos.

PC: Em 1999/2000, é emprestado ao Southampton, onde acaba por fazer apenas um jogo em meia época pela equipa principal. Como é que apareceu esta oportunidade e o que correu mal?
MA: Mais uma vez, não queria sair do Sporting. Posso mesmo dizer que fui "empurrado" para fora do Sporting, porque eu não queria sair do clube. Queria ficar e afirmar-me. Mas alguém se aproveitou da situação, porque houve muito dinheiro envolvido -  não foi o meu empresário, porque ele sempre me acompanhou desde os meus 18 anos e esteve sempre a meu lado -, e acabei por ir "parar" a Southampton.
Já tinha sido observado pelo olheiro do Southampton num jogo pela Seleção, penso que contra a Grécia, ele gostou de mim e indicou-me ao clube. Tive duas lesões durante o tempo em que lá estive, e houve outra questão que não ajudou: a adaptação. Fui sozinho, não conhecia ninguém... enfim, foram tempos muito complicados. Acabei por fazer só um jogo na Premier League, com o Arsenal, mas fiz muitos jogos pela equipa de reservas, até porque ainda era um "miúdo", tinha 20 ou 21 anos.

PC: E porque razão regressa ao Sporting a meio da época?
MA: Nessa época acabava contrato com o Sporting, e com a Lei Bosman, a partir de Janeiro estava livre para assinar por outro clube. O Southampton queria-me contratar em definitivo, oferecia-me cinco anos de contrato, e também apareceu o Benfica, penso que treinado pelo Graeme Souness. Penso que o Benfica me dava três anos de contrato mais um de opção, ia ganhar mais do que no Sporting, mas disse logo que nem pensar. Para isso preferia ficar em Inglaterra, apesar das dificuldades que lá sentia. No mesmo dia em que o meu empresário me falou desta situação, ligou-me à noite o Dr. Luís Duque, da SAD do Sporting - e que nunca tinha falado comigo -, a dizer que já sabia do interesse do Benfica e que sabia da minha situação contratual, e só me disse para eu apanhar o primeiro avião para Portugal assim que pudesse, que ia assinar por mais dois anos com o Sporting. E assim foi, no dia seguinte, às oito e tal da manhã, lá estava eu no meu aeroporto com tudo na mala para voltar ao Sporting (risos). Eu nem sabia, nem queria saber, quanto ia ganhar ou se ia ser aumentado. Só queria era renovar com o meu clube (risos). 

PC: Podemos dizer que regressou bem a tempo de ser Campeão Nacional...
MA: Sim, foi-me dada essa oportunidade pelo Inácio, e foi a concretização de um sonho que tinha desde criança, desde que entrei naquela casa com dez anos de idade. Joguei perto de cinco minutos em Campo Maior, mas foram cinco minutos que ficam para a vida. A ideia do Sporting quando me fez regressar, até era eu fazer dupla com o Beto, mas entretanto o clube decidiu ir buscar o André Cruz, que era um jogador e uma pessoa excepcional, e ficou mais complicado eu ter oportunidades. Passado uns dias de ter chegado, recordo-me que fui logo convocado para um jogo com o Benfica. Tinhamos uma equipa muito unida, de qualidade, mas não havia ninguém, na minha opinião, que se destacasse claramente dos demais, apesar do nosso guarda-redes ser o Schmeichel. O Inácio passou-nos sempre uma mensagem muito forte, o Sporting não era campeão há dezoito anos, ele dizia-nos constantemente que tinhamos uma grande oportunidade de ficar na história do clube, etc, nós agarra-mo-nos a isso e, felizmente, fomos campeões.

PC: Na época seguinte é novamente emprestado ao Campomaiorense, mas as coisas não correram tão bem como da primeira vez, certo?
MA: Certo. Nessa altura, tive também o interesse do Paços de Ferreira, mas como já tinha estado em Campo Maior e conhecia a realidade do clube e as pessoas, optei por voltar. Mas as coisas não correram muito bem, porque a equipa era totalmente diferente daquela que tinha "apanhado" dois anos antes, e acabaram por correr de uma maneira diferente da que eu esperava, tanto que descemos mesmo de divisão.


PC: Seguiu-se o Alverca, cinco meses de fora por lesão, e nova descida de divisão...
MA: Mais uma vez, voltei a sair contra a minha vontade. Fui chamado a uma reunião a Alvalade, onde um dos diretores da altura me disse "ou vais, ou vais", porque o Sporting tinha ido buscar o Diogo ao Alverca, e surgi como uma das "moedas de troca". Foi uma reunião muito difícil essa, porque eu não queria voltar a deixar o Sporting, e fui colocado entre "a espada e a parede", porque disseram-me que ou saia para o Alverca ou ia para a equipa B. Se eu tivesse 27 ou 28 anos naquela altura, aí sim, ia para a equipa B muito tranquilamente. Mas como tinha 23 ou 24 e queria jogar, acabei por assinar pelo Alverca. Pessoalmente foi uma época algo azarada, porque fui operado ao tendão de Aquiles e perdi cinco meses como disseste, e a nível coletivo a época também correu mal e acabamos por descer.

PC: Em 2002/2003 ajuda o Alverca a subir, mas em 2003/2004 voltam a descer. O que falhou para não conseguirem a permanência?
MA: As coisas começaram a correr mal quando fomos ao Bessa, estávamos a ganhar 1-0, e deram sete minutos de desconto. Nesses minutos de compensação, meteram-nos dentro da nossa área, o Boavista marcou dois golos e ganhou 2-1. No fim do jogo, o mister Couceiro até disse na flash-interview que a Maria José Morgado devia de investigar o que se passava no futebol português. Nessa época tivemos uns dez ou catorze penaltis contra, algo assim exagerado. Depois, na última jornada, em Moreira de Cónegos, ainda tinhamos a hipótese de permanecermos na I Liga, e estávamos na luta com o Belenenses. Lembro-me que ao intervalo estávamos empatados a zero, e o Belenenses estava a perder, logo a conjugação de resultados servia para nós. Mal começa a segunda parte, o Torrão faz uma falta na meia-lua, é marcado penalti contra nós e em poucos minutos sofremos três golos e acabamos por descer. Penso que, nesse ano, não havia grande coisa a fazer (risos).

PC: Deixou a I Liga aos 27 anos e não mais voltou. Não teve convites para continuar na I Liga?
MA: Quando saí do Alverca, tive um convite para o V. Guimarães, por parte do Manuel Almeida, que era candidato à presidência, e estive presente nas eleições como um dos trunfos da lista dele, juntamente com o Dominguez e com o Rui Marques que jogava no Estugarda, por exemplo. Mas depois quem ganhou as eleições foi o Vítor Magalhães e já não fui para lá. Entretanto apareceu-me o Ciudad de Múrcia, para a segunda divisão espanhola, e decidi aceitar com aquele objetivo de me manter em competição para depois voltar à nossa I Liga, mas acabei por nunca mais regressar.

PC: Além de Inglaterra, jogou em Espanha e no Chipre. Como foram essas experiências?
MA: Foram duas experiências completamente diferentes, mas que gostei muito de as viver. Em Espanha só estive um ano, em Múrcia, e em Chipre estive duas vezes, a primeira durante uma época, e a segunda durante duas épocas. Antes de ir a primeira vez para o Chipre, falei com o Rui Dolores e com o Tiago Lemos, que já estavam no clube para onde eu ia - Nea Salamina - e o feed-back deles foi bom, pelo que decidi ir. Mais tarde voltei para o Akritas, mas aí já não correu tão bem porque em duas épocas ficaram-me a dever vários meses de salário.

PC: Das seis épocas que fez na I Liga, qual destaca como a sua melhor?
MA: Destaco as duas pelo Alverca, porque fui titular assíduo e consegui destacar-me.

PC: Qual foi o ponta-de-lança mais difícil que enfrentou?
MA: Nuno Gomes. Tinha uma grande capacidade para jogar de costas para a baliza e para jogar ao primeiro toque, os movimentos que fazia eram difíceis de acompanhar... era difícil marcá-lo.

PC: Qual foi o melhor momento da sua carreira?
MA: Sem dúvida o golo pelo Sporting no primeiro jogo oficial que fiz.

PC: E o que falhou na sua carreira?
MA: Eu tenho orgulho da minha carreira e do que alcancei, mas é assim, se me perguntares se poderia ter chegado mais longe, eu respondo que claro que podia. Podia-me ter afirmado no Sporting, por exemplo, como falaste, no primeiro ano, fiz dois golos em quatro jogos, o que é muito bom para um central, ainda por cima "miúdo" como eu era na altura. Mas penso que não fui mais longe não por demérito, mas por faltar aquela oportunidade para me poder afirmar. Recordo-me até que na altura, juntamente com o Beto, batemos o recorde da dupla de centrais mais jovem do Sporting, em que superámos a dupla Venâncio-Morato.
Faltou a Seleção A, também. Joguei todos os escalões entre os Sub-15 e a Seleção B, fui internacional 53 vezes... enfim, faltou só mesmo a Seleção principal.

PC: Que história vivida no futebol pode partilhar?
MA: Quando estava no Campomaiorense, no ano em que fomos à final da Taça, a época estava a correr tão bem, que as pessoas do próprio clube bem como as pessoas da terra, davam-nos mais "liberdade" para sairmos etc. Então, ali na zona, fomos apanhados em tudo quanto era sítio desde Portalegre, Badajoz, Vila Viçosa, Évora... éramos sempre apanhados (risos). Uma vez estávamos a jantar e alguém falou para irmos até Setúbal. E eu disse que para ir para Setúbal, mais valia ir para o Barreiro e ia dormir a casa (risos). Acabei por não ir e a meio da noite, acordo com uns estrondos fortes nas persianas de minha casa. Assustei-me e perguntei quem era, e era o Professor Fidalgo Antunes, preocupado com os meus colegas e a berrar comigo: "ó Marco eles tão malucos, onde é que eles estão?" e eu, sem querer denunciar ninguém, perguntei "mas eles quem? eu estava sossegado a dormir e você tá aí aos berros, o que é que se passa?" e ele diz-me "eles foram para Setúbal, Marco", e eu aí digo "então se sabe, para que é que me tá a perguntar?" e o prof responde-me "era para ver se tu dizias. mas olha, eles são tão burros tão burros, que foram para o sítio onde estão a fazer a festa da Delta" (risos). Foi uma situação engraçada, porque ninguém os convidou e eles, sem saberem, foram parar à festa de uma empresa que "mandava" no clube onde eles jogavam (risos). Mas depois aquilo resolveu-se facilmente com uma multa e tudo voltou ao normal (risos).

PC: Atualmente é treinador-adjunto dos Juniores do Alta de Lisboa. Quais são os seus objetivos enquanto treinador?
MA: Fui convidado pelo Wilson Teixeira a trabalhar com ele nos Juniores do Alta de Lisboa, decidi aceitar o convite e estou muito contente por o ter feito. Nesta altura, estamos a lutar para subir de divisão, e espero que consigamos alcançar esse objetivo. Já tinha estado dois anos no Águias de Camarate, com os Juvenis e com os Juniores, e o Wilson chegou a ver alguns jogos e identificou-se com a minha maneira de estar e com as minhas ideias de jogo. Estamos, naturalmente, a trabalhar para tentarmos entrar no futebol sénior, e claro que o objetivo passará sempre por chegarmos à I Liga. Há clubes que representei enquanto jogador e que gostava de representar enquanto treinador: gostava de trabalhar no Sporting, não só pelo sentimento que existe, mas também porque foi lá que me fiz Homem, mas também gostava de voltar ao Alverca ou ao Portimonense, porque foram clubes que me marcaram muito positivamente.


A carreira de Marco Almeida, aqui.

Veja aqui o golo de Marco Almeida na estreia pelo Sporting:


Uma peça da RTP sobre a assinatura do contrato profissional de Marco Almeida com o Sporting:


E veja aqui mais um golo de Marco Almeida pelo Sporting:


sábado, 11 de fevereiro de 2017

Tony


Tony é o Senhor que se segue no Prémio Carreira.
Formado na cantera do Paris Saint-Germain, o antigo defesa-direito decidiu regressar a Portugal assim que subiu a sénior e passou pelo Sandinenses e pelo D. Chaves, antes de um outro Toni, de seu nome António Conceição, o ter contratado para jogar no Estrela da Amadora e na I Liga.
Ao fim de uma temporada e meia na Reboleira, chamou a atenção do Cluj, e foi para a Roménia ajudar o clube dos ferroviários a tornar-se num "grande": foi duas vezes Campeão, venceu três Taças e duas Supertaças, já para não falar das idas à Liga dos Campeões.
Em 2011 voltou ao nosso País, para o V. Guimarães, e passou depois por Paços de Ferreira e Penafiel, totalizando assim 104 jogos na I Liga, divididos por sete temporadas.
Golos na I Liga, só um. E que golo. Ao Sporting, pelo Paços, de cabeça, num jogo que marca uma temporada que foi excepcional para os castores: terceiro lugar final no campeonato, em 2012/2013.
Estreou-se na I Liga em pleno Estádio do Dragão, o mesmo sítio onde, ironia do destino, viria a fazer, dez anos mais tarde, o último jogo da carreira.
Atualmente com 36 anos, Tony é treinador-adjunto de Ricardo Chéu, uma "aventura" que começou na temporada passada no Académico de Viseu, e que conhece esta época novo capítulo, ao serviço do Freamunde.

Prémio Carreira: Do D. Chaves ao Estrela e à I Liga. Como é que surgiu esta hipótese?
Tony Silva: Eu era seguido pelo António Conceição (Toni) há muito tempo, desde a altura que ele trabalhava no Braga e até me queria levar para lá. Na altura jogava no Sandinenses, na II Divisão B, e até tive a oportunidade não só de ir para o Braga, como de ir para o FC Porto B, mas optei por escolher o D. Chaves, porque é a terra do meu Pai e porque o GD Chaves é o clube do meu coração. Uns anos mais tarde, o Toni foi para o Estrela e veio-me buscar. Tive, também, o interesse do Paços de Ferreira, que era treinado pelo José Mota, mas o Toni já me conhecia, veio ter comigo pessoalmente e eu senti-me "desejado", e saber que ia para um clube no qual o treinador me queria, fez-me sentir que seria um passo importante para me impor na Primeira Liga.

PC: Recorda-se onde se estreou na I Liga?
TS: Foi no Estádio do Dragão...

PC: E onde fez a despedida, já agora?
TS: No Dragão também. É curioso, porque isso foi um "sinal" para terminar a carreira, digamos assim.
Tinha e sentia-me com condições físicas e psicológicas para jogar mais dois ou três anos, mas já tinha emigrado durante alguns anos, e preferi parar quando fui convidado pelo Ricardo Chéu para ser adjunto dele. Ele, na altura, "deu-me" duas semanas para pensar no assunto, e eu pus-me a pensar, e achei que era um sinal ter-me estreado na I Liga no Dragão e ter feito o último jogo lá também. Uma coisa do género: começaste aqui, agora acabas aqui também. Nós, ao longo da carreira, pensamos nestes pormenores todos, e isso foi, para mim, um "sinal" de que estava na altura de deixar de jogar.

PC: A sua primeira época no Estrela foi muito boa...
TS: Foi uma época que pessoalmente correu muito bem. Fui eleito o melhor defesa direito do campeonato ao serviço do Estrela, que não é nada fácil. Falou-se muito do interesse do FC Porto e do Benfica, mas o presidente do Estrela olhou pelos interesses do clube e, inconscientemente, não me deixou sair. Toda a gente sabe que o Estrela era um clube que passava dificuldades financeiras, mas eu recebi sempre tudo direitinho, pelo que também não me vi no direito de forçar a saída. Lembro-me que se falava no interesse do Levante, do Mónaco, de clubes italianos, etc, mas, como disse, o presidente olhou pelos interesses do clube e preferiu manter-me.

PC: Aquela meia época de 06/07 foi uma continuidade da sua afirmação?
TS: Sim, exatamente. Continuei a excelente época que tinha feito, até porque não passava despercebido, e não era só por ser careca (risos). Penso que tinha uma forma diferente de jogar. Se me pedisses para fintar, não fintava, mas dentro do meu registo, penso que era um jogador diferente, porque tinha intensidade, porque era muito concentrado e inteligente a jogar, mantinha a mesma intensidade durante os noventa minutos, etc. E em Dezembro apareceu uma proposta muito boa do Cluj, irrecusável que é mesmo assim, e aí sim, senti que era o momento ideal para sair e fui junto do presidente forçar a minha transferência.

PC: A experiência na Roménia correu-lhe muito bem, certo? Ganhou tudo o que havia para ganhar, foi à Liga dos Campeões...
TS: Sim sim, correu muito bem. Durante o tempo que lá estive, ganhei dois Campeonatos Nacionais, três Taças, duas Supertaças, fui duas vezes à Liga dos Campeões, outras duas à Liga Europa... Pelo Cluj atingi aquele patamar que todos os jogadores querem atingir, que é ganhar títulos e serem reconhecidos. Foi uma experiência que me correu mesmo super bem. Em meio ano passei a ser a "coqueluche" do Cluj, toda a gente gostava de mim, e no estádio em cem camisolas, oitenta tinham o nome do Tony. Fui, e ainda sou, muito respeitado na Roménia. Semanalmente dou entrevistas para lá, e muitos presidentes ligam-me a pedir informações sobre determinados jogadores que jogam em Portugal.

PC: Em Dezembro de 2011 dá-se o regresso a Portugal, mais concretamente para o V. Guimarães. Que razões o levaram a regressar e porquê o Vitória?
TS: É uma história atípica. Achei que era o fim da minha história no Cluj, porque já tinha ganho tudo e não tinha mais motivação para continuar. Surgiu o interesse do Sp. Braga, que me agradou, mas acabei por ir para o V. Guimarães. No dia anterior a fazer os exames médicos no Braga, fui almoçar a Sande, onde tinha jogado, e encontrei lá o Emílio Macedo, que era o presidente do Vitória. Ele admirou-se por me ver lá e perguntou: "então Tony que andas a fazer aqui?", e eu disse que ia para Braga, e ele disse logo "é pá, para o Braga não! vens para o Vitória!". E foi assim que ele me conseguiu "desencaminhar". Mais tarde, claro, fiquei a pensar naquela escolha porque o Braga acabou por ir, nesse ano, à final da Liga Europa.
Acho que escolhi mal e escolhi bem. Quando digo que escolhi bem, penso que toda a gente entende o porquê: lá vive-se o clube de uma forma que não se vive em mais lado nenhum. Ser do Vitória, em Guimarães, é quase como uma religião. A nível desportivo as coisas correram mal, porque acabei por não ser aposta. O mister Manuel Machado apostava no Alex, que era uma figura do clube, com muitos anos de casa, e eu respeitava as decisões dele. Acabo por fazer um jogo contra o V. Setúbal, em que fiz um bom jogo, e até fui eleito pela SportTv e por alguns jornais como o melhor em campo, e na semana seguinte nem sequer fui convocado. Não virei a cara à luta, continuei a trabalhar duro à espera que a minha oportunidade surgisse, mas não surgiu, e até fui ao Jamor na final da Taça que perdemos com o FC Porto (6-2). No ano seguinte, fiz a pré-época normal, fomos a Aveiro jogar a Supertaça com o FC Porto também, e num treino rasguei um dos gémeos e estive dois meses parado. O treinador já era o Rui Vitória, que também optava pelo Alex, e eu, como vi que ia voltar a viver a mesma situação da época passada, pedi para sair.


PC: E o Paços de Ferreira como é que "apareceu"?
TS: O convite do Paços apareceu através do Carlos Barbosa, que era o presidente naquela altura. O Paços estava "condenado" a descer de divisão quando fui para lá, mas fizemos uma recuperação extraordinária com o mister Henrique Calisto, e na segunda volta, exceptuando os "grandes", fomos a equipa que mais pontos somou. Acabámos por ficar numa posição tranquila, praticamente a meio da tabela. Passei anos fantásticos em Paços. É um clube à minha imagem. Revejo-me totalmente naquela ideologia. É um clube humilde, ao dia 8 de cada mês pagam a toda a gente, e não falta nada a quem lá trabalha. Não me canso de dizer isto: é um clube à minha imagem.

PC: O que significou para si a época 2012/2013?
TS: De tudo o que alcancei na carreira, essa época é a maior satisfação pessoal que tive. Quando estava no Cluj, nós pusemos o clube a ganhar títulos e a ir à Liga dos Campeões com regularidade. Fizemos do Cluj um "grande", que foi mesmo assim. Mas o terceiro lugar com o Paços tem um significado completamente diferente. Fizemos uma grande época, em que só perdemos com o Benfica e com o FC Porto. Há aquele jogo com o Sporting, que faço o golo da vitória, lembro-me perfeitamente de tudo: era um livre para nós, o Josué estava para bater, e eu decidi subir. O Fonseca começou a dizer para não ir, para ter cuidado com o Bruma, por causa do contra-ataque, mas eu disse que ia, e lá fui. O Josué bate, a bola vai ao poste, eu atiro-me de cabeça, e faço golo. Costumo dizer que dei os três milhões ao Paços (risos). O empate era muito bom para nós, não só por ser com o Sporting, mas porque nos permitia manter-mos a vantagem de quatro pontos para eles, mas ao ganharmos, "arrumámos" praticamente com o Sporting do terceiro lugar e, até ao fim, a nossa luta foi com o Sp. Braga. Na última jornada, jogávamos em casa com o FC Porto, e queríamos festejar o terceiro lugar e nem podíamos, porque o jogo decidia o título, e fomos ameaçados e "picados" por todos os portistas e benfiquistas.

PC: Em 2014 deixa o Paços e assina pelo Penafiel, que tinha acabado de regressar à I Liga. Porquê?
TS: O último ano em Paços foi duro, porque só conseguimos a manutenção num play-off com o Aves, depois de uns meses antes termos ido às competições europeias, e de termos jogado com o Zenit no play-off da Liga dos Campeões. Senti que precisava de outro desafio, e como a direção do Paços ia mudar e ninguém sabia quais os jogadores que ficavam ou não, decidi sair para o Penafiel. Infelizmente as coisas não correram bem, foi uma época má a todos os níveis, e descemos. Penso que se tivessem dado mais tempo ao Ricardo Chéu, ou tivessem mantido o Rui Quinta até ao fim, acredito que tinhamos garantido a manutenção. A direção optava por mudar para ver se as coisas melhoravam, e o grupo ressentia-se disso. Faltou estabilidade, na minha opinião.

PC: Essa época marca o fim do seu percurso como jogador, e uns meses depois já estava como treinador-adjunto. É mais difícil estar do lado de dentro ou de fora?
TS: Do lado de fora, sem dúvida. Enquanto jogador só tens que pensar em treinar e jogar, e depois tens o tempo todo livre. Quando és treinador, as coisas mudam. Tens que tomar decisões, tens que planear treinos, analisar adversários, analisar jogadores, ocupa muito do nosso tempo. Podia ter continuado a jogar, porque ainda recebi alguns convites para continuar, nomeadamente do Gil Vicente, e outros para voltar a emigrar, mas o Ricardo Chéu ligou-me para ir para o Ac. Viseu, e eu até lhe disse "achas que o Académico tem dinheiro para me pagar?" (risos), mas ele disse que não era para jogador, mas sim para adjunto, e eu até fiquei na dúvida se ele estava a falar a sério ou se estava a brincar, porque só o tinha conhecido uns meses antes, quando fui jogador dele em Penafiel durante dois meses e meio. E foi assim que decidi terminar a carreira como jogador e abraçar este desafio de ser adjunto.

PC: Das sete épocas que fez na I Liga, qual foi, para si, a melhor?
TS: Claramente a época 2012/2013, do terceiro lugar com o Paços de Ferreira. Pessoalmente foi uma boa época e aprendi imenso com o Paulo Fonseca. Posso dizer que ele me deu uma visão do futebol que eu não tinha. Foi importante para mim. E acredito que se lhe tivessem dado mais tempo no FC Porto, ele tinha feito algo semelhante ao que o Mourinho fez.

PC: E o extremo que mais "trabalho" lhe deu, quem foi?
TS: Em Portugal, o Quaresma. Era complicado marcá-lo, mas gostava de jogar contra ele. Nas competições europeias, "apanhei" o Robben, e o homem só queria correr (risos). Eu até digo que às vezes ia para lhe dar umas porradas, mas já não conseguia, porque ele era tão rápido tão rápido, que conseguia fugir (risos).

PC: Qual foi o melhor momento da sua carreira? O terceiro lugar conseguido pelo Paços ou ser campeão pelo Cluj?
TS: Como já falei e pelas razões que já mencionei, sem dúvida, o terceiro lugar pelo Paços.

PC: O que ficou por atingir na carreira?
TS: Se calhar faltou jogar num "grande" em Portugal. Lembro-me que num ano em que o Fernando Santos era treinador do Benfica, o Benfica foi à Roménia fazer a nossa apresentação, e eu fiz um grande jogo, e o mister quis-me logo trazer para o Benfica, mas o Cluj não deixou. Uns anos mais tarde, o Cluj recebeu uma proposta do Sevilha por mim, mas não aceitaram, e isso deixou-me alguma mágoa. E houve sempre o objetivo da Seleção, mas sabia que não tinha grandes hipóteses porque o titular era o Bosingwa, e ainda havia o Paulo Ferreira como alternativa. Mas não me arrependo de nada do que fiz.

PC: Agora vem a parte em que o Tony é "especialista". Que história é que pode contar?
TS: (risos) É verdade, só queria fazer asneiras (risos).
Quando estava no Paços de Ferreira, fomos à Madeira, jogar com o Marítimo, não sei se era o último ou o penúltimo jogo, na época do mister Calisto. O Filipe Anunciação ia casar, então decidimos fazer-lhe lá a despedida de solteiro, e combinámos ir a uma casa de striptease. Atenção, que a futura mulher dele sabia disso (risos). Chegámos lá, começamos a olhar para as senhoras que lá estavam, mas elas eram tão fracas, que eu mesmo decidi dispensá-las e fui para cima do palco (risos). Até me virei para uma e disse: pega lá o dinheiro, mas não é para fazeres nada, é mesmo para saires daqui (risos). Foi um momento caricato, mas o pior foi para o Filipe, que em vez de ter um strip de uma mulher, teve que levar com um strip aqui do careca.
Tenho outra de quando estava no Cluj, em que o nosso roupeiro era um senhor já com alguma idade. Um dia fomos jogar não sei se a Munique ou a Bordéus, para a Liga dos Campeões, e como é sabido, nos aeroportos todos temos que passar pela revista. Antes de chegar a vez dele ser revistado, eu meti um vibrador preto com uns 50 cm dentro da mala dele, e quando eles passaram aquilo no controlo, aquilo começou a vibrar e eles chamaram o homem à parte. Ele lá foi ver o que seria, sem sequer imaginar, e quando os funcionários do aeroporto tiraram aquilo da mala, haviam de ver a cara dele (risos).

PC: Atualmente é treinador-adjunto. Quais são os seus objetivos para o futuro?
TS: O objetivo, a curto prazo, é dar continuidade enquanto adjunto do Ricardo Chéu. Sou um adjunto feliz, digamos assim, porque o Ricardo dá-me toda a liberdade para exprimir as minhas ideias e as minhas opiniões, e trocámos, constantemente, opiniões e ideias sobre tudo.
Quanto ao futuro, não penso nisso. Neste momento revejo-me muito mais em potenciar jogadores, por isso, gostava de, um dia, treinar uma equipa de Juniores ou mesmo treinar uma equipa B, mas não tenho aquele desejo "forte" de ser treinador principal de uma equipa Sénior.


A carreira de Tony, aqui.

Veja aqui um vídeo de homenagem a Tony, feito por adeptos do Cluj:


E veja o golo de Tony, pelo Paços, ao Sporting, aqui.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Yannick


Com a chegada do novo ano civil, o Prémio Carreira decidiu começar pelo princípio de uma equipa de futebol: ou seja, a primeira entrevista de 2017 é com um antigo guarda-redes.
O francês Yannick Quesnel, que em Portugal se notabilizou com a camisola do Alverca e chegou ao Benfica, aceitou o convite para falar acerca da sua experiência no nosso País e, com um português bastante aceitável para quem já saiu de Portugal há quase doze anos, recorda aqui o que viveu no nosso futebol, numa passagem que durou quatro anos e meio.
A Naval "descobriu-o" em França, o Alverca deu-lhe a oportunidade de jogar na I Liga e de se "mostrar", e o Benfica conseguiu-o contratar em 2004, depois de uma tentativa falhada dois anos antes. Sem espaço nos encarnados, esteve meia temporada emprestado ao Estoril e terminou assim o seu percurso em Portugal.
Em três épocas de I Liga fez 75 jogos, grande parte deles pelo Alverca, por quem viveu duas descidas e uma subida em três temporadas.
Antes de chegar a Portugal, Yannick já contava com passagens por Sochaux, Bordéus e Cannes, e depois de sair do nosso país, ainda representou Marselha e Mónaco, terminando a carreira em 2011, nos escalões inferiores do futebol gaulês.
Atualmente com 43 anos, é um treinador desempregado em França e não esconde que gostava de treinar em Portugal.

Prémio Carreira: Chegou a Portugal para jogar na Naval, que estava na Segunda Liga. Como surgiu a possibilidade de vir jogar para cá?
Yannick Quesnel: A possibilidade de vir jogar para a Naval chegou em Dezembro de 2000. Acabei em Junho o meu contrato no Cannes, da Segunda Liga francesa, o clube estava com dificuldades financeiras, os contratos que foram mandados para renovação, foram cancelados pela Liga Francesa, e fiquei desempregado mesmo no inicio da época, na altura em que os clubes já tinham o plantel definido. Estava a abandonar a minha carreira e, de facto, voltei mesmo para a minha terra - Bordéus. Jogava na Quarta Divisão para ficar em boas condições caso aparecesse uma boa oportunidade, e ela chegou em Dezembro: o guarda-redes da Naval estava lesionado, o mister José Dinis pediu para me ver à experiência, recebi a chamada do empresário Artur Santos no dia 25 (boa prenda de Natal!), e fui logo com o meu carro para estar no treino do dia seguinte. Treinámos no campo pelado, devido à forte chuva, e quase fiz o melhor treino da minha carreira! Assinei o contrato no dia 27, na parte da tarde, e na semana seguinte disputei o meu primeiro jogo na II Liga portuguesa. Acabámos por perder em Espinho, mas fui a figura do jogo! É uma grande lembrança que tenho.

PC: Depois mudou-se para o Alverca, da Primeira Liga. Foi o único convite que recebeu? Que razões o levaram a aceitar a proposta do Alverca?
YQ: Recebi convites do Beira-Mar e do Guimarães, que dependiam da mudança do Palatsi do Beira-Mar para o Vitória, mas na altura não queria trabalhar com o Pimenta Machado, que era o presidente do Vitória, devido a uma antiga historia no verão de 2000, quando sai do Cannes. A única pessoa que me ligou e mostrou atenção foi o José Couceiro. Ele queria-me no Alverca e pagou a transferência à Naval. Aceitei o convite com satisfação, porque era uma boa oportunidade de jogar na Primeira Liga.

PC: Recorda-se da estreia na I Liga?
YQ: Foi um jogo em casa, com o Paços de Ferreira. Ganhámos 1-0 e fui a figura do jogo. Essa é uma das melhoras recordações que tenho da minha passagem por Portugal...

PC: Foi uma temporada positiva para si, que jogou quase sempre, mas negativa para o clube, que acabou por descer de divisão. Fale-nos dessa época.
YQ: Foi uma época estranha. O grupo de jogadores era mesmo bom, fizemos um bom percurso na Taça, mas não conseguimos ganhar os jogos importantes na luta pela manutenção. Faltou-nos assumir a responsabilidade, não houve líderes para levar o grupo para cima. Na minha opinião, não descemos por falta de qualidade, porque qualidade havia.

PC: Na época seguinte ajudou o Alverca a regressar à I Liga, mas a verdade é que em 03/04 voltou-se a repetir o cenário de 01/02: o Yannick foi sempre titular, mas o clube desceu novamente. O que falhou?
YQ: No regresso à I Liga, tivemos mais maturidade, e fizemos bons jogos, a luta foi até o fim. Tentámos evitar a despromoção, mas perdemos um jogo decisivo em casa com o Vitória de Guimarães, e no último jogo, em casa do Moreirense, fomos um pouco "roubados", como se diz aí. Foram épocas bem diferentes, no espaço de poucos meses conseguimos ser dos piores da I Liga e dos melhores da II Liga.

PC: E a hipótese de jogar no Benfica, como surge?
YQ: A hipótese surgiu já no final da primeira época que eu fiz no Alverca, mas faltava pagar uma percentagem da transferência à Naval. A Naval pediu dinheiro, a tal metade da transferência, mas não houve acordo entre Alverca, Benfica e Naval. Em 2004, no final da temporada acabámos por descer, mas fiquei livre, o meu contrato terminava, e houve uma proposta do Vitória de Guimarães, com o Jorge Jesus, e também do Benfica, com o José Veiga. A minha ideia era ir para o Vitória, mas a situação era complicada, porque o Palatsi ainda estava lá, e enquanto ele não saísse, não havia espaço para assinar, e assim fui para o Benfica, que foi mais rápido a tratar de tudo.


PC: Fez apenas um jogo oficial em meia época, e logo na pré-eliminatória da Champions, e em Janeiro foi emprestado. Esperava ter jogado mais?
YQ: Sim, claro que eu esperava jogar mais, mas fui logo enganado pelo "sistema". Estavam lá dois bons guarda-redes internacionais, Quim e Moreira, que voltavam do Euro com a Seleção. Fiz a pré-temporada como titular, joguei na primeira-mão da Liga dos Campeões e na segunda-mão, fomos ao Anderlecht disputar a eliminatória, com o Mister Trapattoni. Na véspera fizemos um treino para preparar a equipa, eu estava como titular, juntamente com cinco outros jogadores. Fizemos um bom treino e recebemos os últimos conselhos do mister para o jogo. Estávamos todos preparado para disputar esse jogo importante. Na tarde do jogo, tivemos a habitual palestra, e quando chegamos lá, o mister e o José Veiga estavam a falar e pediram-nos para esperar mais dez minutos lá fora, que foi o que fizemos. Quando descobrimos a equipa que ia jogar, foi uma surpresa e uma grande decepção para seis jogadores, incluindo eu. Não era o Trapattoni que mandava, mas sim o José Veiga, que foi quem mudou a equipa toda, e resultou numa derrota por 3-0, como se devem recordar. Em Lisboa, falei com o Trapattoni, e o seu discurso foi mesmo este: "sabes Yannick, não tenho nenhuma obrigação para dar razões do quem joga ou não, mas tu és uma boa pessoa, então, aqui não posso fazer como eu quero e, por causa disso, não vais jogar muito". Depois tentei falar com o José Veiga, mas ele dizia mentira sobre mentira...

PC: A meio da época seguiu emprestado para o Estoril. Foi uma decisão sua porque queria jogar ou a decisão partiu do treinador/clube?
YQ: Pelo que já falei, era melhor sair. Houve o Estoril, mas, se fosse o Belenenses ou o Setúbal, a decisão era a mesma. Decidi sair para jogar mais, mas sobretudo para ter um sentido no meu trabalho, ter concorrência com honestidade. 

PC: De todas as épocas que jogou em Portugal, qual considera como a sua melhor?
YQ: Na minha primeira época no Alverca - 01/02 -, apesar de termos descido, a título pessoal ganhei o prémio de guarda-redes da época.

PC: Fez 75 jogos na Primeira Liga. Há algum que recorde em particular?
YQ: O meu segundo jogo pelo Alverca, que foi no antigo José de Alvalade, ganhámos 1-0, e eu fiz um bom jogo.

PC: E avançados? Qual foi a sua maior "dor de cabeça" em Portugal?
YQ: Sem dúvida o "Super" Mário Jardel. Que goleador incrível...

PC: Que momento divertido ou história vivida em Portugal gostaria de partilhar?
YQ: Na Segunda Liga com o Alverca, tinhamos que disputar muitos jogos no Norte do País. Houve um acordo no inicio da época sobre os prémios de jogos para subir, mas o clube não tinha dinheiro, então o Mister Couceiro "arranjou" um prémio para nós: cada jogo fora no Norte, com vitória ou empate sobre os rivais na luta pela subida, dava um jantar no restaurante "Azevedo dos Leitões" na viagem de regresso para casa! Era mesmo muito bom, e preferíamos esse prémio!

PC: Jogou quatro anos e meio em Portugal. Que balanço faz da sua passagem por cá?
YQ: Jogar em Portugal, foi o melhor momento da minha carreira, a todos os níveis: não só na situação profissional, como também na pessoal. Portugal está no meu coração. Descobri um País, um futebol e uma maneira de viver bem diferente do que tenho aqui em França.

PC: Atualmente é treinador. Quais são as suas ambições para o futuro? Treinar em Portugal é um objetivo?
YQ: Tirei curso aqui, tenho o nível UEFA-A, treinei aqui na Divisão Pré-Honra, mas não quero ficar aqui. Acabei o meu contrato em Junho, depois de uma subida na Honra e uma final da Taça. Quero tirar o nível UEFA-Pro, mas tenho que treinar a um nível mais alto. Claro que gostava de treinar em Portugal, se houvesse um clube da Segunda Liga ou do Campeonato Prio com ambições, quem sabe se não regressava...


A carreira de Yannick, aqui.

Recorde aqui uma grande exibição de Yannick, pelo Alverca, contra o Sporting:


E veja aqui, entre o minuto 0:15 e 0:20 do vídeo, uma boa defesa de Yannick diante do FC Porto: