sábado, 23 de julho de 2016

Tó Luís


Tó Luís surgiu na I Liga pela mão da Académica, mudou-se para o Boavista, foi indiscutível no Rio Ave, e ainda defendeu a baliza do D. Aves no maior escalão do futebol nacional.
Guarda-redes de qualidade que passou pelo nosso campeonato na década de 90, Tó Luís tinha no cabelo comprido uma das suas imagens de marca.
Quis o destino que se estreasse na I Liga no Estádio dos Arcos, em Vila do Conde, o mesmo estádio onde viria a afirmar-se em definitivo entre "os grandes" do nosso futebol, ao serviço do clube vilacondense - 94 jogos em três épocas pelo Rio Ave.
Antes de se mudar para a Vila das Aves, chegou a ser dado como reforço do Vitesse, e foi apontado à Seleção portuguesa, hipóteses que nunca se concretizaram.
Aos 48 anos é treinador de guarda-redes do histórico Salgueiros, já depois de ter tido experiência semelhante ao serviço do Boavista.

Prémio Carreira: Estreou-se na I Liga, pela Académica, na época 86/87. Recorda-se do estádio onde fez a sua estreia?
Tó Luís: Sim, foi no Estádio dos Arcos, em Vila do Conde.

PC: Que memórias tem desse jogo?
TL: Era um miúdo com muitos sonhos, tal como tantos outros, e entrar em campo com aquele equipamento vestido foi um orgulho. Essa é a maior recordação que tenho.

PC: Acabou por se firmar como titular indiscutível da Briosa na II Liga, e daí saltou para o Boavista. A Académica foi o clube mais importante da sua carreira, não só pela formação que lhe deu, mas, principalmente, por ter apostado em si?
TL: Sem dúvida que a Académica foi muito importante na minha carreira, mas também não me posso esquecer dos outros clubes por onde passei.

PC: No Boavista ganhou uma Taça de Portugal. Como descreve esse momento?
TL: Foi um momento também ele muito importante para mim, pois apesar de não ter jogado, fiz parte dessa equipa maravilhosa.

PC: Após quatro épocas no Bessa, saiu para o Rio Ave. Porquê esta decisão?
TL: Tive quatro épocas no Boavista, em que umas correram melhor que outras, pois tive sempre a concorrência de um Guarda-Redes com muito peso no clube. Mas, mesmo assim, consegui fazer uma época toda como titular e, tirando o primeiro ano que tive uma lesão grave no primeiro jogo do campeonato, praticamente fiz sempre alguns jogos. Depois, com a vinda do Mário Reis, achei por bem tentar continuar a minha carreira noutro clube e foi aí que apareceu o Rio Ave.

PC: O Rio Ave acabou por ser o clube que lhe deu a "grande" oportunidade de se afirmar na I Liga?
TL: Em certa parte sim. Mas eu acho que a minha afirmação foi no Boavista, só não foi tão notada porque sempre associaram o "dono da baliza" ao Alfredo. Mas no ano em que joguei quase todos os jogos, atingimos as competições europeias e fomos a terceira defesa menos batida do campeonato. Acho que nesse ano é que foi a minha afirmação. Depois, só foi realmente a confirmação da qualidade do Tó Luís.


PC: Quando saiu do Rio Ave, antes de assinar pelo Aves, esteve para jogar no Vitesse da Holanda. O que falhou? 
TL: Sim, na altura tive um convite do Vitesse, que só não se concretizou porque o empresário, cujo nome não vou dizer, comunicou-me que ia ganhar um valor e, depois, quando estava para ir fazer os testes médicos, ele começou a falar de outros valores. Eu aí disse logo que ficava sem efeito, e foi quando optei pelo convite do D. Aves.

PC: Em 2000, a Imprensa apontou-o como possível escolhido para a Seleção por causa da lesão de Vítor Baía, mas nunca foi convocado. Chegou, realmente, a ser alguma vez contactado pelos responsáveis da FPF?
TL: É verdade que na altura falou-se nessa possibilidade, o que me deixou muito orgulhoso, mas só soube disso por pessoas ligadas ao clube que estava a representar. Da parte da Federação nunca ninguém me contactou.

PC: Essa foi a maior mágoa da sua carreira?
TL: Claro que qualquer jogador português sonha em representar o seu País e, eu também sonhava, mas a vida é feita destas coisas: umas vezes conseguimos atingir os nossos objectivos e outras não.

PC: Das onze épocas na I Liga qual destaca como a sua melhor?
TL: Sem dúvida aquela pelo Boavista em que atingimos o objectivo de nos qualificarmos para as competições europeias, a faltar quatro ou cinco jornadas para terminar o campeonato - 95/96. Também destaco as primeiras duas que fiz no Rio Ave. Mas considero que todas tiveram a sua importância porque uma carreira só se constrói com momentos bons e momentos menos bons.

PC: Qual é o jogo na I Liga que mais memórias guarda?
TL: Tenho alguns que me ficaram marcados, mas o jogo que mais me marcou não foi por nenhuma defesa em especial, foi sim por jogar nas competições europeias, contra o Nápoles.

PC: Que avançado foi o seu "maior carrasco"?
TL: O Jardel era sempre um "grande problema", mas haviam outros como Cadete, Domingos, Nuno Gomes, até o Rui Barros, e muitos outros.

PC: Que história vivida no futebol pode/quer contar?
TL: Não me recordo de nenhuma história em particular, mas haviam sempre muitas brincadeiras no balneário, desde queimar a camisola do Litos porque era uma camisola com publicidade de uma peixaria, passando por aquela tradicional de colocar a roupa dos colegas nos chuveiros, etc.

PC: É treinador de Guarda-Redes. O futuro no futebol continua a passar por essa função ou ambiciona ter outras responsabilidades?
TL: Enquanto andar no futebol, o meu futuro passará somente por ser treinador de Guarda-Redes, porque é uma coisa que adoro fazer.


A carreira de Tó Luís, aqui.

Recorde uma das boas exibições de Tó Luís ao longo da sua carreira:

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Constantino


Constantino será sempre recordado como uma das figuras do Leça.
Apontou 42 golos em três épocas na I Liga ao serviço dos leceiros, foi Bota de Bronze em 95/96, e foi dele o último golo que o Leça marcou no escalão maior do nosso futebol.
Apesar da ligação ao emblema verde-e-branco, "Tino Bala" estreou-se entre "os grandes" ao serviço do Salgueiros, e também representou o Campomaiorense na I Divisão.
Nas épocas 96/97 e 97/98, logrou marcar golos ao FC Porto durante quatro jogos consecutivos, que era "apenas e só" a equipa que dominava o futebol português.
Os golos que apontou pelo Leça valeram-lhe a ida para Espanha, mais concretamente para o Levante, onde jogou, por exemplo, com Vicente, que mais tarde jogaria no Valencia e, posteriormente, na Selecção espanhola.
Aos 48 anos está empregado, e feliz, na MatosinhoSport, empresa pertencente à Câmara Municipal de Matosinhos, e aguarda para voltar ao activo enquanto adjunto do ex-colega e amigo, Abílio Novais.

Prémio Carreira: Estreou-se na I Divisão em 1987 pelo Salgueiros. Recorda-se do jogo de estreia?
Constantino Jardim: Sim, recordo-me que entrei com o Marítimo. Era o meu primeiro ano de sénior, e o treinador era o Rodolfo Reis. Mas recordo-me mais da época seguinte, também com o Marítimo, em que entrei e marquei o golo da vitória - e o primeiro golo na I Divisão. O nosso treinador era o António Fidalgo, e o Marítimo tinha uma grande equipa, com o Ewerton na baliza.

PC: Apesar de se ter estreado pelo Salgueiros, foi pelo Leça que mais se destacou na I Divisão. O Leça foi o clube mais importante da sua carreira?
CJ: Sim, foi. Até porque foi o clube onde marquei mais golos. Mas claro que o Salgueiros também me marcou, pois fiz lá a formação toda e tive quatro anos nos seniores. Jogar no Levante também foi uma experiência fantástica, mas o Leça foi onde despontei e onde consegui ser Bota de Bronze.

PC: Foi bota de bronze superado por Domingos e João Pinto. Qual foi a sensação de ser o terceiro melhor marcador atrás desses dois jogadores?
CJ: Foi excelente ficar atrás de dois grandes jogadores, que eram verdadeiros tecnicistas e marcavam muitos golos. Eram, sem dúvida, fantásticos. Ainda para mais, um jogador de uma equipa pequena ser Bota de Bronze não era nada fácil, mas com a ajuda de todos, consegui.

PC: O facto de ser goleador pelo Leça abriu-lhe as portas da Europa, neste caso, em Espanha e no Levante. Porquê esta opção e como foi a sua passagem por Espanha?
CJ: Tive outras propostas, nomeadamente do Belenenses e do Rio Ave, por exemplo, mas o futebol espanhol sempre me atraiu. Foi muito bom ter jogado em Espanha. Subimos da II Divisão, equivalente ao CNS, à II Liga espanhola. Era uma grande equipa, com um ambiente fantástico, aliás, como era no Leça. O segredo do Leça era a união no balneário, e no Levante foi igual. Felizmente subi pelos dois clubes. E ainda tive o prazer de ver surgir o Vicente, que tinha 17 anos, e era um craque, posso dizer que foi muito fácil jogar com ele, e que era um jovem muito humilde.

PC: Depois do Levante regressou para Portugal para jogar no Campomaiorense. Que outras propostas teve?
CJ: O Levante não me queria deixar sair, eu pedi, mas o clube não queria. Tive um convite do Leça, mas o Levante disse que só me deixava sair se fosse para a I Liga, apareceu o Alverca e o Campomaiorense, e optei por ir até Campo Maior.


PC: E como era o Campomaiorense?
CJ: Era um grande clube, com umas instalações únicas, cumpridor, e em que não nos faltava nada. É pena que não esteja na I Liga. As pessoas da vila e do clube eram espectaculares.

PC: Jogou sete temporadas na I Liga. Qual é que foi a sua melhor?
CJ: A minha melhor época foi a de 95/96, em que fui Bota de Bronze. Mas posso dizer que as três épocas no Leça foram muito boas.

PC: E dos 48 golos na I Liga qual destaca?
CJ: Destaco os três golos que fiz ao Tirsense, em 95/96, que praticamente nos deu a manutenção - vitória por 3-1. Foi um jogo fantástico para nós.

PC: Ao longo da sua carreira, marcou quatro golos ao FC Porto em quatro jogos seguidos, um ao Benfica e nenhum ao Sporting. Qual era o "segredo" para marcar ao FC Porto?
CJ: Sim, realmente tinha essa tendência. O FC Porto jogava sempre aberto, e nós éramos uma equipa forte no contra-ataque. Penso que se calhar era por isso, mas marcava sempre, é verdade.

PC: Qual foi o melhor central que defrontou?
CJ: Defrontei vários centrais bons, como Aloísio, Jorge Costa, Fernando Couto, Mozer e Ricardo Gomes, que eram fantásticos.

PC: Olhando para trás, o que faltou na carreira?
CJ: Faltou ter o Jorge Mendes (risos). Sem dúvida que tinha tido mais oportunidades...

PC: Tem a curiosidade de ter jogado na I Liga por três clubes que entretanto desapareceram da "ribalta". Como vê o momento atual deles, sendo que um até já não tem futebol sénior?
CJ: O Campomaiorense deixou de ser profissional por opção, mas é pena porque tem todas as condições. O Salgueiros já conseguiu recuperar o nome e tem muitos adeptos, e esta época irá, com certeza, tentar subir. O Leça está a recuperar a formação, está fazer um bom trabalho, e tem os seniores na Divisão de Elite da AF Porto. Para mim, isto é um "crime", pois penso que os três deviam estar na I Liga. São clubes que fazem falta, mas a crise levou a isso.

PC: De onde surgiu a alcunha de "Tino Bala"?
CJ: Foi o Abílio que me pôs, por ser rápido.

PC: Qual é a melhor história de balneário que tem para contar?
CJ: São tantas... o Carlos Manuel no Campomaiorense gostava muito de falar com os jogadores no balneário para nos animar. Falava quase duas horas e, às vezes, eu pedia para ir ao WC e imitava uma sirene enquanto ele falava. Então ele parava de falar e dizia: "Está bom, vamos almoçar!"

PC: É adjunto de Abílio Novais. Ambiciona ser treinador principal?
CJ: Não, gosto mais de ser adjunto e, se possível, sempre com o Abílio. Estivemos nos Sub-19 do Boavista três épocas, e saímos o ano passado. O Abílio é um amigo, um grande treinador, e merece estar no ativo, mas nesta altura não está e, assim, eu também não estou.


A carreira de Constantino, aqui.

Dois dos golos de Constantino ao FC Porto:


sábado, 16 de julho de 2016

Luís Miguel


Formado no Amarante, Luís Miguel começou "por baixo", como se diz na gíria, e saltou diretamente do Aves, da Segunda Liga, para o Sporting, em 1995.
Depois de três anos nos "Leões", Luís Miguel rumou a Braga, de onde sairia para o Paços de Ferreira, tendo terminado a carreira no Felgueiras.
Fez 159 jogos na I Divisão, mas apontou apenas um golo, fruto da sua polivalência, que o fez recuar de um extremo promissor para defesa direito.
O facto de ter nascido em Luanda acrescido ao facto de ter representado o Sporting ao mais alto nível, valeu-lhe a chamada à Selecção A dos "Palancas Negras", por quem jogou a CAN'98.
Para a história ficou também o golo que apontou na Liga dos Campeões, pelo emblema leonino, diante do Mónaco de Henry, Trézéguet e Barthez.
Aos 44 anos, depois de ter treinado clubes como D. Chaves e Tirsense, é, atualmente, um treinador livre.

Prémio Carreira: Saltou do Aves, da II Liga, pro Sporting. Como foi receber a noticia do interesse do Sporting na sua contratação?
Luís Miguel: Foi uma grande alegria, visto que ser contratado por um grande era tudo o que sonhava. Foi um sonho tornado realidade.

PC: Como era o Sporting naquela altura? 
LM: Naquela altura, o Sporting era um dos clubes que lutava sempre para ser campeão, como é agora. Claro que, neste momento, é um clube muito mais evoluído, como é natural.

PC: Recorda-se da sua estreia na I Liga?
LM: Claro que não esqueço a minha estreia quer na I Divisão, quer pelo Sporting, pois o meu primeiro jogo oficial, foi o da minha estreia na I Liga. Foi contra o FC Porto, nas Antas, em que joguei o meu primeiro jogo, a defesa direito, uma posição que nunca tinha jogado, empatámos 1-1, e fui considerado o melhor jogador em campo.

PC: Ao fim de três anos no Sporting mudou-se para Braga. A que se deveu esta mudança?
LM: Fui para o Sp. Braga por opção minha, porque queria jogar mais, e naquela altura não estava a ser utilizado no Sporting.

PC: Jogou em Braga entre 1998 e 2002, e em 00/01 alcançaram o 4º lugar. Sentiu durante a sua passagem por lá, que o clube começava a lançar as bases para ter a dimensão que hoje tem?
LM: Sem dúvida que quando fui para Braga o clube não tinha nada a ver com o que é hoje. Vi o Braga começar a lançar as bases para se tornar no grande clube que é atualmente.

PC: Tem 159 jogos e apenas um golo na I Divisão. Que memórias tem do único golo que fez no primeiro escalão?
LM: Claro que gostava de ter marcado mais golos, mas devido à posição que comecei a jogar na I Liga, que foi de defesa direito, era mais difícil chegar a zonas de finalização.


PC: Das nove temporadas que jogou na I Divisão, qual foi a sua melhor?
LM: A minha melhor época foi em 97/98, quando conseguimos ir com o Sporting ir à Liga dos Campeões.

PC: Qual foi o ponto alto da sua carreira? 
LM: Um dos pontos altos da minha carreira, foi ter jogado na Liga dos Campeões e, ter marcado um golo, ainda por cima contra o Mónaco em França.

PC: Jogou no Sporting e foi internacional por Angola. Ficou algo mais por alcançar na sua carreira?
LM: Sim, ficou. Gostava de ter sido campeão nacional pelo Sporting.

PC: Qual foi o melhor jogador que defrontou?
LM: Defrontei muitos jogadores com muita qualidade. Mas, para mim, o melhor era português: foi o João Vieira Pinto.
 
PC: Sempre foi um jogador polivalente. Em certa medida, a polivalência que tinha, prejudicou ou beneficiou-o mais?
LM: Penso que me beneficiou, porque me permitiu ganhar a titularidade no Sporting. Por outro lado não marquei tantos golos como gostava, pois dificilmente joguei na posição que sempre tinha jogado, que era a extremo direito ou esquerdo.

PC: Que história vivida no futebol pode/quer contar?
LM: Vou optar por recordar um dos melhores momentos que vivi no futebol, que foi o jogo contra o FC Porto, ao serviço do Sporting, no Parque dos Príncipes, em Paris, que vencemos por 3-0 e conquistámos a Supertaça.

PC: Depois de alguns anos a treinar, agora está sem clube. O futuro continua a passar por ser treinador?
LM: Sim, vou continuar como treinador, desde que apareça um projeto que goste.


A carreira de Luís Miguel, aqui.

O golo de Luís Miguel ao Mónaco, na Liga dos Campeões:

sábado, 9 de julho de 2016

Ribeiro


A carreira de Ribeiro confunde-se com o Beira-Mar.
O antigo defesa-direito, que tem agora 37 anos, cumpriu quase 100 jogos no nosso principal campeonato, subiu três vezes à I Liga, e terminou a carreira em 2013.
O Beira-Mar foi a sua casa durante dezanove anos, mas Ribeiro jogou ainda, por exemplo, no Rio Ave e, mais tarde, no Boavista na II Divisão Nacional.
Além destes clubes, há outro que marca a carreira de Ribeiro: o Marítimo. Em 2000, Ribeiro estreou-se na I Liga diante dos madeirenses, e uns anos mais tarde, em 2007, realizou, sem saber, o seu último jogo no escalão maior do nosso futebol, precisamente contra os verde-rubros.
No seu percurso constam, também, quatro internacionalizações por Portugal.
Oficialmente sem ligações ao futebol, Ribeiro vai-se dedicando, por enquanto, a acompanhar o seu Beira-Mar no papel de adepto.

Prémio Carreira: Estreou-se na I Liga em 2000/2001, depois de ter feito parte do plantel do Beira Mar que subiu de divisão. Recorda-se do primeiro jogo que fez na I Liga?
Pedro Ribeiro: Recordo com natural satisfação a minha estreia no principal escalão do futebol português, no Estádio dos Barreiros, frente ao Marítimo. Foi a concretização de um sonho de menino e que qualquer jogador ambiciona quando decide seguir a carreira de futebolista profissional. Tendo sido no clube onde me formei e, onde cresci como Homem, tornou o momento ainda mais especial e inesquecível.

PC: Uns meses antes desta estreia, tornou-se internacional por Portugal. Acha que ter alcançado este patamar, ajudou a que o Beira Mar apostasse em si?
PR: A transição da idade júnior para o plantel sénior nunca é fácil. Felizmente, foi-me dada essa oportunidade, e penso que o facto de ter representado o meu País, me ajudou a crescer e a cimentar a minha posição, também, no Beira-Mar. Facto do qual me orgulho, visto ter pertencido a uma geração de jogadores com um excelente trajecto no futebol internacional.

PC: Jogou sete épocas na I Liga. Qual é que destaca a nível pessoal?
PR: A época que mais me marcou foi, sem dúvida, a época 2003/2004. Realizamos um excelente campeonato, e disputámos, durante parte da época, os lugares europeus. Uma equipa recheada de jogadores com qualidade e na qual sobressaía o colectivo. Mas existem outros momentos ao longo destes anos que foram gratificantes e marcantes na minha vida enquanto profissional de futebol. Obviamente que as subidas de divisão, pela sua carga emocional e dificuldade, são igualmente marcantes, bem como a primeira internacionalização por Portugal.

PC: 93 jogos na I Divisão - todos pelo Beira-Mar. Foi titular, por exemplo, em vitórias no Dragão e na Luz. São estes os jogos que mais o marcaram ou há mais algum em especial?
PR: São vitórias marcantes na vida do Beira-Mar e nas quais tive a felicidade de estar presente. Momentos que ficarão imortalizados na longa história do clube. Mas há ainda a vitória sobre o FC Porto de José Mourinho, no Estádio das Antas, com todo o brilhantismo que se reconhecia a essa equipa. Igualmente marcante, foi a disputa da Taça UEFA, frente ao Vitesse.

PC: Em 2007 trocou o Beira-Mar pelo Rio Ave, e voltou a subir de divisão. Porém nunca jogou pelos vilacondenses na I Liga. Qual/quais o(s) motivo(s)?
PR: Sim, de facto, e após a subida de divisão no Rio Ave, não fui opção para o ano que se seguiu. Novos treinadores, novas ideias, novos jogadores... Faz parte do futebol, e é importante que se saiba conviver com isso. A carreira é feita de altos e baixos, e há que estar mentalmente preparado para isso. De qualquer maneira foi uma casa que me acolheu muito bem, na qual fui bem tratado e a qual recordo pelos melhores motivos. Aliás, à semelhança do que aconteceu no "Boavistão" e no Alba, clube onde terminei a minha carreira. Foi importante para mim viver outras experiências e sentir a alma, a força e a determinação das "gentes do Norte".

PC: Fez cinco temporadas consecutivas ao serviço do Beira-Mar na I Liga. Nunca teve oportunidade de sair para um clube com maiores ambições? 
PR: Sim, tive algumas oportunidades para disputar outras ligas e representar equipas que lutavam por outros objectivos. Mas, na altura, por vários motivos não se concretizou. No futebol, o jogador nunca decide sozinho. Tem por trás dele, sempre, a família, os empresários, o clube, os treinadores, etc. São partes integrantes e que têm influência na tomada de decisões.


PC: Se tivesse que destacar um ponto positivo e um ponto negativo da sua carreira, quais seriam?
PR: Positivo, o facto de ter enveredado pela carreira de futebolista. É, sem dúvida, e como costumo dizer, a "melhor vida do Mundo". Ter dezenas de pessoas a vibrarem e a torcerem por nós, é algo muito especial e apaixonante. Faz-nos vibrar imenso.
Negativo, obviamente, o dia em que percebemos que temos de abandonar o futebol e seguir o percurso natural das coisas.

PC: Deixou de jogar em 2013. Estará, naturalmente, orgulhoso da carreira que construiu. Mas "olhando para trás", ficou alguma coisa por "fazer"?
PR: Não, sinceramente não. Tentei ser, sempre, profissional, dar o meu melhor em campo e em todas as circunstâncias. No entanto, sinto que, por vezes, a emoção se sobrepôs à razão e, aí, talvez me arrependa de não ter sido mais determinado. Mas são tudo aprendizagens para a vida futura.

PC: Qual foi o extremo que lhe deu mais "trabalho"?
PR: (Risos) Foram uns quantos, todos com muita qualidade e é difícil destacar apenas um. Entre Drulovic, Simão Sabrosa, Capucho, João Pinto, Quaresma, e outros mais, "venha o diabo e escolha"!

PC: Durante o FC Porto 0-1 Beira-Mar de 04/05, há uma história curiosa ocorrida ao intervalo, certo? Quer recordá-la?
PR: Uma de muitas histórias que partilhámos, no balneário, ao longo da carreira. Recordo esse dia pela forma como o mister Cajuda se dirigiu ao grupo, no intervalo do jogo no Dragão. Vencíamos ao intervalo e ao chegarmos à cabine, ele deixou que nos sentássemos e quando esperávamos a habitual palestra, apenas nos disse isto: "Ai meteram-se nela? Agora desenrasquem-se". Ficamos estupefactos e obviamente foi motivo de gargalhada no final do jogo.

PC: Além desta história, que outra história quer/pode partilhar?
PR: Aquando da chegada do Fary ao Beira-Mar - em 1998 -, recordo o dia em que, num estágio, resolvemos deixá-lo "pendurado" à espera de uma entrevista que nunca aconteceu. Estávamos no hotel, depois de almoço (período no qual aproveitávamos para descansar para o treino da tarde) e combinámos que, da recepção, alguém iria ligar para que o Fary fosse a uma entrevista fictícia. Ele, no seu ar inocente lá foi, e não fosse alguém avisá-lo, ainda hoje lá estaria à espera de quem nunca viria...

PC: O que significou para si jogar no Boavista, mesmo tendo sido na II Divisão?
PR: Jogar no Boavista foi inesquecível para mim. Ver a raça, a crença, e a grandeza do clube numa situação tão adversa, foi marcante para mim. É um clube com muita mística. Não sentíamos que jogávamos na II Divisão. Ao longo dos dois anos que lá estive, senti sempre o apoio e o carinho das pessoas, e estou-lhes grato pela forma como me trataram. Trouxe comigo uma máxima que os caracteriza: SÓ OS FORTES RESISTEM, SÓ OS FRACOS DESISTEM...

PC: Sendo o Ribeiro um beira-marense confesso e presente no dia-a-dia do clube, como viveu a temporada 15/16? Acredita no regresso do clube aos campeonatos profissionais a curto-prazo?
PR: Obviamente, vi com muita tristeza o Beira-Mar descer aos campeonatos distritais. Um clube quase centenário, com uma história e um trajecto grandioso no futebol nacional, merece estar entre os melhores. Tive a oportunidade de acompanhar o clube de perto nesta fase mais difícil, e estou certo que irá regressar ao escalão que é seu por mérito próprio. Não será fácil até porque existe muita qualidade nestas divisões e a aposta dos outros clubes é muito forte. O Beira-Mar continua a ter dificuldades, apesar de ter subido de divisão, e terá de fazer o seu percurso de forma sustentada. Mas terá de ser, igualmente, competitivo e manter a cultura de vitória, e para isso, é necessário o apoio de todos, sem excepção, nesta fase menos boa do clube.

PC: Como é a vida do Pedro Ribeiro, ex-jogador de futebol? Regressar ao futebol, seja em que função for, está nos seus planos?
PR: É igual à de qualquer comum dos mortais, dividida entre família, casa, trabalho e algumas "peladinhas" com amigos para matar saudades. No entanto, o futebol fará para sempre parte da minha vida. Não ponho de parte essa hipótese, mas, para já, é difícil conciliar.


A carreira de Ribeiro, aqui.

Um golo de Ribeiro ao serviço do Boavista, diante do Lourosa, na II Divisão:

terça-feira, 5 de julho de 2016

Rui Borges


O primeiro convidado do "Prémio Carreira" é Rui Borges.
Atualmente com 42 anos, o antigo extremo, que se destacou pela velocidade e pela evolução técnica que possuía, ficou também conhecido no nosso futebol por ser de baixa estatura. 
Rui Borges cumpriu dez temporadas na I Liga, vestiu a camisola de cinco clubes diferentes no primeiro escalão, e fez mais de 200 jogos no nosso principal campeonato.
Conforme o próprio conta, chegou a estar perto do Benfica quando jogava no Alverca, tendo ainda estado perto de jogar na Coreia do Sul uns meses antes do interesse encarnado.
Depois de abandonar a carreira como futebolista profissional, jogou futsal federado nos campeonatos nacionais, foi treinador-adjunto do Vizela e, mais recentemente, exerceu funções como Diretor Desportivo no Boavista e no Famalicão, este último com o sucesso conhecido.
Aqui fica, então, a primeira entrevista do "Prémio Carreira":

Prémio Carreira: Em 1995 chegou ao Boavista, oriundo do Casa Pia, da II Divisão B. Ainda se recorda de todo o processo da transferência e o que sentiu quando foi convidado?
Rui Borges: Sim, recordo. Estava de férias quando recebi o telefonema dos meus pais a dizerem-me que estavam a tentar entrar em contacto comigo, mas não conseguiam. Naquele tempo ainda não era comum a utilização do telemóvel... Fiquei extasiado mas, ao mesmo tempo, inquieto, porque havia alguma desconfiança relativa à minha altura e teria que cumprir um período de experiência. A verdade é que no final correu tudo bem e a oportunidade e o sonho de jogar na I Liga e, mais ainda por ser num grande clube como o Boavista, concretizou-se.

PC: Dez jogos pelo Boavista e um golo. Recorda-se da estreia na I Liga e do primeiro golo que fez?
RB: Foi uma época de estreia na I Liga muito importante. Pela aprendizagem com uma equipa técnica liderada por um dos melhores treinadores portugueses, Manuel José, colegas com uma experiência fantástica, como Alfredo, Rui Bento, Litos, Sanchez, Timofte, Nuno Gomes, Artur, entre outros, e inclusive pela capacidade de adaptação a uma cidade nova e a viver sozinho. 
O jogo de estreia foi com o Gil Vicente, no dia 10/09/1995, na 3ª jornada do campeonato, com uma vitória por 3-0, no Bessa. O meu primeiro e único golo foi com o Marítimo, na 30ª Jornada, com uma vitória por 1-0, também no Bessa.

PC: Seguiram-se duas épocas na II Liga, e o regresso à I pelas mãos do Alverca, em 1998. Até que ponto esta aposta do Alverca foi importante na sua afirmação como futebolista?
RB: As duas épocas na II Liga foram importantíssimas porque me permitiram jogar com regularidade e ganhar capacidade competitiva para me afirmar na I Liga de forma natural. E foi o que aconteceu no Alverca. Tive a oportunidade de integrar um projecto liderado por dirigentes ambiciosos, - o Presidente do Clube era o Luís Filipe Vieira, e o Diretor Geral o José Couceiro -, que proporcionavam as melhores condições para os treinadores e atletas. Em quatro épocas fui treinado por excelentes treinadores, como Mário Wilson, José Romão, Jesualdo Ferreira, Carlos Pereira e que tinham adjuntos como o Raúl José, José Lima e Mariano Barreto, que me permitiram evoluir e afirmar-me como futebolista de I Liga.

PC: Foi precisamente quando estava no Alverca, que surgiu o interesse do Benfica, certo? Por que razão o interesse não se consumou em transferência?
RB: Sim, na época de 2000/2001. A um mês de terminar o campeonato, o Jesualdo Ferreira e o empresário Paulo Barbosa conversaram comigo sobre a possibilidade de ingressar no Benfica na época seguinte. Inclusive, acertamos com o médico do Alverca terminar a época a dois jogos do final para corrigir uma lesão no menisco que estava programada para o final do campeonato. Correu tudo como estava combinado, iniciei a recuperação e o tempo foi passando... A determinada altura liguei com o empresário Paulo Barbosa, que me disse que com a contratação do Luís Filipe Vieira, do Jesualdo Ferreira e do Mantorras, todos para o Benfica, eu não poderia ir porque não queriam deixar o Alverca desfalcado. E assim, não fui.

PC: A última época que realizou na I Liga, pelo Trofense, não correu lá muito bem para si. Para um jogador experiente como era, imagino que se sentiu desrespeitado com algumas situações que aconteceram...
RB: Não, não correu. As razões não são muito complicadas. Um clube que participava de forma histórica na I Liga manda embora o treinador herói da subida à 3ª jornada e, depois disso, foi sempre a descer. Com a entrada da nova equipa técnica, orientada por uma estrutura dirigente mal preparada, influenciada pelos pseudo consultores/gestores desportivos que gravitam no futebol, os jogadores que subiram de divisão foram encostados sem razões aparentes. Resultado: descida de divisão. É a velha máxima do futebol, num dia és herói no outro mandam-te embora. A verdade é que a partir dessa época nunca mais o clube se encontrou e agora passa por grandes dificuldades. A pergunta que faço é: onde andam esses pseudo consultores/gestores desportivos que sabiam tanto de futebol?

PC: Ao todo soma dez temporadas na I Divisão. Qual foi, para si, a melhor?
RB: Não houve uma em particular, houveram várias. A de estreia em 1995/96, no Boavista, em que vivi todos os momentos com grande intensidade, era tudo novidade, a de 2000/01, no Alverca, em que estive muito próximo do Benfica porque a época me correu muito bem e, a de 2005/06, no Estrela da Amadora, onde mesmo com grandes dificuldades financeiras, jogávamos com uma alegria e capacidade fora do comum para as condições em que trabalhávamos.

PC: E o melhor golo? Foi aquele ao Sporting pelo Belenenses em 2003?
RB: Sim, sem dúvida nenhuma. A jogada em si e o remate final contra um Sporting de João Vieira Pinto, Sá Pinto, Rui Jorge entre outros... O grau de dificuldade era muito elevado.

PC: Realizou 221 jogos no primeiro escalão. Há um Estrela - Académica que estará, certamente, bem vivo na sua memória, correto? Dois golos nos últimos minutos, uma recuperação de 0-2 para 3-2... Há outros que queira destacar?
RB: Os 221 jogos na I Liga são uma marca bonita. Não é difícil lá chegar, o mais difícil é manteres-te lá! Todos os golos foram muito importantes no meu percurso e cada um teve a sua história. Não marcava muitos mas, os que marcava, ou davam vitórias ou empates!


PC: Qual foi o seu melhor momento na carreira?
RB: O melhor momento foi ter sido futebolista profissional. Quando era miúdo, vaticinaram-me que não tinha altura para ser jogador de futebol, e fazer dez épocas na I Liga não é para todos. Adorava o que fazia em todos os momentos.

PC: Sete anos depois de ter deixado de jogar, qual é a maior mágoa que guarda da sua carreira? Ficou algum objetivo por atingir?
RB: Não tenho, nem guardo mágoas a ninguém. Gostava de ter jogado na Seleção Nacional.

PC: Dos muitos laterais que enfrentou, qual foi o melhor que "apanhou"?
RB: Apanhei muitos e bons, mas o César Prates, do Sporting, se o deixava embalar era uma chatice!

PC: O Rui tem a curiosidade de ter jogado praticamente sempre com o número 21. Alguma razão em especial para utilizar esse número?
RB: Nada de especial. Antigamente jogava-se do 1 ao 11, nessa altura era quase sempre o 10. Depois quando se podia escolher era o 21 por causa da escola. Quase sempre nas turmas escolares ficava com o número 21 e ganhei afinidade ao número.

PC: Recorda-se de alguma história de balneário que queira/possa partilhar?
RB: Não conto nenhuma história de balneário, mas conto um episódio que aconteceu no Belenenses e que mostra, também, como o futebol evoluiu noutras áreas. Na minha primeira época de Belenenses, quando distribuíram os equipamentos de treino e jogo, deram-me todos XL. As camisolas chegavam-me aos joelhos e os calções aos pés. Perguntei se não tinham mais pequeno, ligaram para a responsável da marca e nada. Agarrei nos equipamentos e levei-os a uma costureira conhecida. Ficaram por medida.

PC: Já foi adjunto de Vizela e Boavista e Diretor Desportivo de Boavista e Famalicão. O próximo passo é ser treinador, ou pretende continuar pelo dirigismo?
RB: Sei que escolho, normalmente, o caminho mais difícil. No passado diziam-me que não tinha altura para ser futebolista. Agora, dizem-me que não consigo ser Diretor Desportivo com autonomia, capacidade de decisão, que é só para levantar placas. A verdade é que os últimos quatro anos falam por si. No Boavista a organização e a disciplina ficaram vincados e os objectivos alcançados, no FC Famalicão, o impacto ainda foi maior. Um Clube que estava para cair nos distritais, em dois anos e meio chega aos campeonatos profissionais e luta pela subida de divisão até às últimas jornadas. A escolha, para já, é fácil. Seguir a via da Direção Desportiva até onde me deixarem ir ou até onde puder ir.


A carreira de Rui Borges, aqui.

O golo de Rui Borges ao Sporting, pelo Belenenses, aqui.

Um pequeno resumo da carreira de Rui Borges em vídeo: