sábado, 15 de outubro de 2016

Rui Duarte


Rui Duarte fez um percurso curto na I Liga, mas mais do que suficiente para ficar na história do futebol luso: cumpriu exactamente 100 jogos no nosso principal campeonato.
Depois de ter ajudado o Estoril a ser campeão e a subir de divisão dois anos consecutivos, Rui Duarte estreou-se na I Liga com a camisola dos canarinhos, passou pelo Boavista, e fez duas épocas no Estrela da Amadora.
Em 2008, o antigo defesa-direito decidiu sair do País e iniciava assim um trajeto de cinco temporadas fora-de-portas: esteve quatro anos e meio na Roménia, onde representou Brasov e Rapid Bucareste, e meio ano em Chipre, com a camisola do Anorthosis Famagusta.
A passagem pela Roménia valeu-lhe, além da estreia nas competições europeias, um reconhecimento que nunca teve no nosso País: foi considerado um dos melhores defesas-direitos a jogar no campeonato romeno.
Na primeira metade da época 2014/2015 ainda regressou aos relvados em Portugal, ao serviço do 1º Dezembro, do CNS, mas decidiu colocar um ponto final na carreira, de maneira a não correr riscos de agravar um problema de saúde.
Atualmente com 36 anos, Rui Duarte trabalha como empresário e vai dividindo o seu tempo entre Portugal e Roménia, e não descura ter outras funções no futebol.

Prémio Carreira: Chegou à Liga com a camisola do Estoril, clube que ajudou a ser campeão e a subir de divisão dois anos consecutivos. Recorda-se da estreia na I Liga?
Rui Duarte: Penso que foi com o Rio Ave, se não me engano. Foi o realizar de um sonho de criança: jogar na Primeira Liga. Lembro-me que estava muito nervoso (risos).

PC: Em termos individuais, a época 04/05 correu-lhe muito bem, mas em termos coletivos, a equipa fez uma temporada fraca e acabou por descer de divisão. Na sua opinião, o que falhou?
RD: Sim, a época correu-me muito bem. A equipa começou a ter problemas logo no início da época, com o despedimento do mister Ulisses Morais. Ficou o mister Litos, que também é bom treinador, mas aquele plantel não tinha sido feito por ele, nem para as ideias dele. Além disso, tinhamos grandes jogadores, mas com pouca experiência para a I Liga, o que nos fez perder muitos pontos.

PC: Na época seguinte torna-se jogador do Boavista, mas por empréstimo do Estoril. Como surgiu a possibilidade de se mudar para o Bessa? Que outras propostas teve?
RD: Tive várias. Esse foi o pior verão da minha vida. Fui para França e assinei com uma equipa, estava tudo certo, mas quando regressei a Lisboa, o Paulo Barbosa apareceu com uma proposta da Escócia, a prometer mais dinheiro para o Estoril, e o Estoril já não me deixou ir para França, mesmo com o contrato assinado e exames médicos feitos. Acabei então por ir para a Escócia, e eles pagavam o dinheiro que o Estoril queria, mas eu iria receber menos, pelo que decidi vir-me embora. Fui mantendo o meu "braço-de-ferro" com a direção do Estoril, até aparecer o Boavista no último dia do mercado.

PC: Depois de uma temporada positiva, em que efectuou metade dos jogos do campeonato a titular, porque razão não continuou a jogar no Boavista?
RD: Porque o Estoril e o Boavista não chegaram a acordo, e depois também porque era o primeiro ano dos meus filhos na escola, pelo que vi com bons olhos a proposta do Estrela.

PC: Portanto, por essa razão, o Estrela foi a melhor proposta que teve? O que guarda da passagem pelo clube?
RD: Não tive outras, mas só pelo facto de ficar perto da minha família, foi a melhor que podia ter tido.
Adorei lá estar. No primeiro ano não foi fácil porque haviam já os "jogadores da casa", que tentavam pôr o 'barco' ao agrado deles, mas como tinhamos bom grupo, tinha aqueles com que me dava mais e as coisas foram melhorando. No segundo ano, fiz uma época muito boa. O grupo era fantástico e as coisas correram-me muito bem.


PC: Ao fim de duas temporadas na Reboleira, sai para o Brasov, da Roménia. Não houve nenhum convite de Portugal que o tenha feito pensar em continuar a jogar no nosso campeonato?
RD: Houveram vários, mas a parte financeira contou muito, para além de que me senti um pouco desrespeitado cá, porque era dos laterais com maior regularidade no campeonato e só davam valor aos estrangeiros. Mas quando cheguei à Roménia percebi que era um mal do futebol, pois lá só nos valorizavam a nós (risos).

PC: Esteve quatro épocas e meia a jogar na Roménia, onde representou Brasov e Rapid Bucareste, e meio ano no Anorthosis de Chipre. O que nos pode contar acerca dessas experiências?
RD: Fui sempre muito bem tratado, só os últimos seis meses em que estive lá, no Rapid, é que as coisas ficaram mais complicadas, porque o presidente decidiu sair do clube. Mas, de resto, foram quatro anos maravilhosos e ainda hoje tenho um nome 'feito' lá. As pessoas adoram-me.
O Chipre foi a pior decisão da minha vida. O Anorthosis é um bom clube, mas apanhei o início da crise e também não respeitam as pessoas. Pelo menos eu senti isso. Na minha opinião, são um povo muito diferente do romeno.

PC: Quais os momentos mais marcantes da sua carreira?
RD: Momentos positivos são muitos porque tinha o prazer de fazer o que amo e ainda ganhar dinheiro. Mas o mais marcante posso dizer que foi a estreia na Liga Europa, em que jogámos contra equipas que todos sonham jogar. Gostei de defrontar o Légia de Varsóvia, por exemplo, porque jogar no estádio deles é algo maravilhoso, e a nível europeu são poucas ou quase nenhumas as equipas que têm uma massa associativa como a deles.
O pior momento foi um problema de saúde que me foi obrigando a largar a alta competição.

PC: Fez quatro épocas na I Liga. Qual classifica como a melhor?
RD: Talvez a primeira, pelo Estoril. Mas penso que fiz sempre épocas agradáveis.

PC: Nessas quatro épocas que passou "entre os grandes", fez 100 jogos. Algum que destaque em especial?
RD: Sim, a vitória no Dragão, pelo Estrela. Fizemos um grande jogo. Estivemos muito bem organizados e só atacávamos pela 'certa', como se costuma dizer. Naquele tempo só assim era possível ganhar a um "grande".

PC: Qual o extremo que lhe deu mais "trabalho"?
RD: Foi o Simão Sabrosa, porque nunca ficava muito na linha, jogava onde queria e, para quem está a marcar, é mais complicado.

PC: Que história vivida no futebol pode/quer contar?
RD: São várias, mas os melhores momentos que passei nesse aspeto, foram no Rapid Bucareste, com o Cândido Costa, que é das melhores pessoas e colegas que pode haver num balneário. Passávamos os estágios todos a rir. As histórias com ele são tantas, que até é difícil lembrar de alguma, porque as coisas saiam-lhe de uma forma muito natural.

PC: Atualmente é empresário e vai dividindo o seu tempo entre Portugal e Roménia. É nessa função que conta estar ligado ao futebol nos próximos anos, ou ambiciona ter outras funções?
RD: Sim, para já abracei este projeto e é para continuar, até porque ainda estou no começo, e é algo que gosto. A outra maneira de estar ligado ao futebol, só se for como diretor-desportivo, mas, para isso, ainda gostava de fazer um curso nessa área.


A carreira de Rui Duarte, aqui.

Veja uma assistência de Rui Duarte ao serviço do Estrela da Amadora, aqui.

E aqui, por volta dos 2:25 do vídeo, um golo de Rui Duarte pelo Rapid Bucareste:

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