terça-feira, 25 de outubro de 2016

Ramires


Lançado pelo Vitória de Guimarães na I Liga, Ramires haveria de "marcar posição" no principal palco do futebol luso ao serviço do Alverca, clube que representou durante oito anos.
No Ribatejo, Ramires não só teve a oportunidade de se afirmar na I Liga, como ajudou o clube a subir de divisão por duas vezes.
Formado no Sporting e internacional por Portugal em todos os escalões jovens, o antigo extremo nunca foi aposta do clube de Alvalade, e um ano depois de ter saído para Guimarães como uma das "moedas de troca" por Pedro Barbosa e Pedro Martins, despertou o interesse do Benfica, clube com quem teve contrato durante cinco anos, e que o emprestou sempre ao Alverca.
Em 2004 o Alverca deixou a I Liga e Ramires seguiu igual caminho, de nada valendo os 132 jogos e 17 golos em seis temporadas ao mais alto nível.
Ainda vestiu as camisolas encarnadas do Santa Clara e do Imortal, até rumar a Espanha, para representar o Zamora, que jogava, então, na II Divisão B. A essa experiência, seguiram-se cinco temporadas no Luxemburgo, quatro no Hamm Benfica e uma no Kayl Tétange, antes de terminar a carreira.
Atualmente com 40 anos, a máxima ligação que o antigo futebolista tem com o futebol, é o facto de representar os Veteranos do Benfica, mas não esconde que gostava de voltar ao "desporto-rei" noutras funções.

Prémio Carreira: Estreia-se na I Liga, ao serviço do V. Guimarães, emprestado pelo Sporting. Que motivos o levaram a aceitar mudar-se para a "Cidade Berço"?
Ricardo Ramires: Sim, é verdade, estreei-me na I Liga ao serviço do V. Guimarães, mas não fui emprestado ao V. Guimarães pelo Sporting. Fui cedido a título definitivo, juntamente com o Capucho, o Edinho e o Arley, envolvidos no negócio do Pedro Martins e do Pedro Barbosa. Inicialmente era para assinar por três épocas com o V. Guimarães, mas só cheguei a acordo por uma época.

PC: Pelo Vitória, no campeonato, faz apenas dois jogos como suplente utilizado. Recorda-se da sua estreia na I Liga? O que correu mal para ter jogado tão pouco?
RR: Claro que me recordo da minha estreia na I Liga: foi contra o Tirsense. Foi um dia muito especial e que me marcou para sempre, pois tinha realizado um dos meus sonhos em termos Profissionais, que era jogar na I Liga. Foi, de facto, um dos dias mais felizes da minha vida.
Acho que não correu mal, o 'problema' é que tinha no meu lugar só dois dos melhores extremos direitos do futebol Português naquele momento: o Vítor Paneira e o Capucho. E eu, com 19 anos, tinha muito que aprender, mas fui quase todos os jogos convocado, fruto de muito trabalho nos treinos. Aprendi muito nesta época, pois tínhamos um plantel de grande qualidade, tínhamos uma grande equipa e fomos com naturalidade à Taça UEFA.

PC: No final dessa temporada, 95/96, um ano depois de ter deixado de ser jogador do Sporting, torna-se jogador do Benfica. Como é que surgiu esta possibilidade?
RR: Naquele momento, o meu empresário era o Sr. José Veiga, e no final da época fui convocado para os Sub-21, que iam disputar o Torneio de Toulon, e como a minha prestação foi excelente, surgiu o interesse do Benfica. Tinha, também, a possibilidade de renovar contrato com o V. Guimarães, mas optei por assinar pelo Benfica, porque o Benfica naquela época não tinha nenhum extremo direito.
Fui o primeiro jogador a utilizar a Lei Bosman em Portugal.

PC: Durante os cinco anos de contrato que teve com o Benfica, esteve sempre emprestado ao Alverca. Nunca lhe justificaram o porquê de não apostarem em si?
RR: Não. Na primeira época fiz parte do plantel principal do Benfica durante cinco meses, e o meu empréstimo ao FC Alverca começa em Janeiro dessa época.
Nas quatro épocas e meia que tive emprestado pelo Benfica ao Alverca, fui um dos jogadores com mais produtividade e rendimento na equipa, com a realização de excelentes épocas e nunca me foi dada a oportunidade de fazer uma pré-época. Só realizei uns jogos amigáveis pelo Benfica contra Real Madrid, Gil Vicente e outras equipas mais, e a minha prestação foi sempre muito positiva, cheguei mesmo a marcar o golo da vitória contra o Gil Vicente. Depois desse jogo, renovei contrato com o Benfica e fui novamente emprestado ao Alverca, e os responsáveis do Benfica daquela altura nunca me chamaram para conversar.
O porquê não sei, só os responsáveis do Benfica dessa altura é que podem responder a essa questão.

PC: Jogou oito anos no Alverca, cinco deles na I Liga. O Alverca foi o clube mais importante na sua afirmação como jogador profissional?
RR: Sim, sem dúvida. Foi o clube onde vivi os melhores momentos da minha carreira. Mas quero também ressalvar a importância do Sporting, que foi o clube que marcou a minha carreira, pois foi onde fiz toda a minha formação, e onde aprendi o mais importante para ser profissional de futebol, a par dos tempos que passei na Seleção. Foram cinco épocas de formação e uma de sénior emprestado ao Torreense, cheguei a ser Capitão dos Juniores do Sporting, aos 17 anos estreei-me nos seniores, no campeonato de Reservas contra o Olivais e Moscavide, e até marquei um golo. Fiz jogos amigáveis pelos seniores e cheguei a fazer treinos com a equipa principal, e se o mister Bobby Robson não é despedido, eu ia fazer parte do plantel principal do Sporting com 18 anos, mas, depois, com a chegada do mister Carlos Queiroz, fui emprestado ao Torreense.
Tudo o que fui como profissional de futebol e, o que sou como Homem, devo tudo ao Sporting.


PC: Que recordações e momentos guarda do tempo que lá viveu?
RR: Foram momentos de grande nostalgia que já mais esquecerei. Eu, juntamente com toda a estrutura do FC Alverca, os treinadores e os meus colegas, que eram grandes jogadores, conseguimos formar várias equipas de grande nível, com grandes resultados. Em termos de vitórias, só não conseguimos ganhar ao FC Porto, de resto, a todas a outras equipas do campeonato conseguimos ganhar nas cinco épocas que estivemos na I Liga e, dado à dimensão do clube, conseguimos marcar o FC Alverca no futebol Português.
Fiz bons amigos e foi um privilégio e uma honra ter representado o FC Alverca nessas oito épocas, e de ter jogado ao lado de grandes jogadores de nível Mundial como Ricardo Carvalho, Deco, Maniche, Bruno Basto, Mantorras, Hugo Leal, Milinkovic, Nuno Assis, Bruno Aguiar, Ronald Garcia, Lima, Rui Borges, Cajú, Hugo Costa, José Soares, Valente, Paulo Santos, Kulkov, Anderson, Tinaia, Zeferino e muitos outros jogadores.

PC: Em 2004 o Alverca desceu à II Liga para não mais voltar à I, e o Ramires fez um percurso semelhante. Não teve convites para continuar a jogar na I Liga?
RR: Não, não tive nenhum convite para continuar a jogar na I Liga, para espanto meu, pois tinha realizado praticamente todos os jogos da época e nenhum clube se interessou por mim, estranhei claro, mas sabia bem que o futebol também tem estes momentos maus, e que são muito difíceis de ultrapassar.

PC: Dois anos depois estava a representar o Zamora, da II Divisão B espanhola, e mais tarde jogou cinco épocas no Luxemburgo. Como apareceu o convite para jogar em Espanha? O que retém dessas experiências que viveu no estrangeiro?
RR: O convite para jogar em Espanha surgiu através do meu amigo e colega Toni, que jogava no Zamora, e que em conversa com o seu treinador, este lhe disse que o Zamora procurava um extremo direito de qualidade, e foi então que o Toni mencionou o meu nome ao seu treinador. Fiz uns treinos e dois jogos para me verem jogar e assinei por uma época com outra de opção.
Em Espanha foi nostálgico para mim, foi como renascer para o futebol aos 30 anos, foi o facto de me sentir novamente jogador 'a sério' como em tempos na I Liga Portuguesa. O treinador espanhol gostava muito de mim, foi lá que marquei o melhor golo da minha carreira e só não acabei a carreira no Zamora, porque eu e o presidente tivemos um mal entendido aquando da renovação do meu contrato, o que originou a minha curta passagem pelo Zamora. A minha história em Espanha não é outra e de grande nível, porque cheguei muito tarde ao futebol espanhol, com 30 anos.
No Luxemburgo assinei três épocas e meia de contrato com o Benfica do Luxemburgo e uma época pelo Kayl Tétange. Foi uma honra e um privilégio ter jogado nestes dois clubes portugueses no Luxemburgo. Passei bons momentos e alguns maus, como é normal no futebol, mas fiz grandes amizades e tenho lá grandes amigos que me receberam de braços abertos aquando da minha chegada aos clubes e ao País. Quero, desde já, agradecer a eles todos: o meu muito obrigado por tudo e só não continuei a jogar até hoje, porque as lesões musculares não me largavam e, infelizmente, o meu corpo estava desgastado de muitos anos e assim terminei a minha carreira com 36 anos.

PC: Fez seis épocas na I Liga, qual foi a sua melhor?
RR: A minha melhor época na I Liga foi na época 2000/2001, com o mister Jesualdo Ferreira.

PC: Qual o lateral mais difícil que enfrentou?
RR: Foram vários, mas só vou mencionar três: Roberto Carlos, que defrontei no tal jogo amigável contra o Real Madrid; o Rui Jorge quando estava no Sporting, e o Esquerdinha do FC Porto.

PC: Tem 44 internacionalizações por Portugal em diversos escalões. Chegar à Seleção foi o ponto mais alto da sua carreira? 
RR: Sim, joguei em todas, só não consegui ser Internacional A.
Mas fui Campeão Olímpico no escalão de Sub-16, em Bruxelas, na Bélgica; ficámos em 4º lugar no Campeonato da Europa de Sub-16, no Chipre; fui Campeão Europeu de Sub-18 em Espanha, em Mérida; 3º lugar no Campeonato Mundo de Sub-20, no Qatar; e no primeiro jogo da Seleção B, fiz o golo do empate contra a Roménia.
Sem dúvida que este foi o ponto mais alto da minha carreira, pois para mim não existe feito maior do que representar o meu País. Penso que qualquer jogador profissional de futebol ambiciona jogar nas suas Seleções.
Foi um privilégio e tive a honra de ter representado o nosso País por muitos anos.

PC: Foi jogador de Mário Wilson durante algumas épocas. Tendo em conta que o "Velho Capitão" era conhecido pela boa-disposição e pelas histórias que tinha, que momento vivido com ele quer/gostava de partilhar?
RR: O mister Mário Wilson foi um dos treinadores que marcou a minha carreira, não só pelo bom treinador que era, mas sim, também, pelo ser humano que era.
Vou partilhar uma história com vocês, que aconteceu num determinado treino em Alverca, em que já na parte final do treino fizemos um jogo entre nós, a chamada 'peladinha', que tem o mesmo carácter que um jogo para nós, jogadores, e com apenas cinco minutos de 'pelada', o Deco faz um golo magistral e o mister Mário Wilson disse em voz alta: "Quem é este jogador? Só os mágicos é que marcam este tipo de golos, Deco, podes ir tomar banho!" e assim foi, o Deco foi tomar banho mais cedo que nós.

PC: Neste momento a única ligação que tem com o futebol, é o facto de representar os Veteranos do Benfica. Não gostava de voltar ao futebol noutras funções?
RR: Neste momento, trabalho na área da Saúde e Bem-Estar, sou empresário e distribuidor de um suplemento natural que é único, exclusivo e patenteado no Mundo: a 4Life Research.
Neste momento, não esta na minha mente estar ligado ao futebol de outra forma, mas nunca se sabe e, se isso acontecer, gostava de fazer parte de uma equipa técnica como treinador-adjunto, para começar.


A carreira de Ramires, aqui.

Veja um golo de Ramires ao FC Porto, logo no início do vídeo:


E aqui, por volta dos 2:15 do vídeo, outro golo diante do FC Porto:

sábado, 15 de outubro de 2016

Rui Duarte


Rui Duarte fez um percurso curto na I Liga, mas mais do que suficiente para ficar na história do futebol luso: cumpriu exactamente 100 jogos no nosso principal campeonato.
Depois de ter ajudado o Estoril a ser campeão e a subir de divisão dois anos consecutivos, Rui Duarte estreou-se na I Liga com a camisola dos canarinhos, passou pelo Boavista, e fez duas épocas no Estrela da Amadora.
Em 2008, o antigo defesa-direito decidiu sair do País e iniciava assim um trajeto de cinco temporadas fora-de-portas: esteve quatro anos e meio na Roménia, onde representou Brasov e Rapid Bucareste, e meio ano em Chipre, com a camisola do Anorthosis Famagusta.
A passagem pela Roménia valeu-lhe, além da estreia nas competições europeias, um reconhecimento que nunca teve no nosso País: foi considerado um dos melhores defesas-direitos a jogar no campeonato romeno.
Na primeira metade da época 2014/2015 ainda regressou aos relvados em Portugal, ao serviço do 1º Dezembro, do CNS, mas decidiu colocar um ponto final na carreira, de maneira a não correr riscos de agravar um problema de saúde.
Atualmente com 36 anos, Rui Duarte trabalha como empresário e vai dividindo o seu tempo entre Portugal e Roménia, e não descura ter outras funções no futebol.

Prémio Carreira: Chegou à Liga com a camisola do Estoril, clube que ajudou a ser campeão e a subir de divisão dois anos consecutivos. Recorda-se da estreia na I Liga?
Rui Duarte: Penso que foi com o Rio Ave, se não me engano. Foi o realizar de um sonho de criança: jogar na Primeira Liga. Lembro-me que estava muito nervoso (risos).

PC: Em termos individuais, a época 04/05 correu-lhe muito bem, mas em termos coletivos, a equipa fez uma temporada fraca e acabou por descer de divisão. Na sua opinião, o que falhou?
RD: Sim, a época correu-me muito bem. A equipa começou a ter problemas logo no início da época, com o despedimento do mister Ulisses Morais. Ficou o mister Litos, que também é bom treinador, mas aquele plantel não tinha sido feito por ele, nem para as ideias dele. Além disso, tinhamos grandes jogadores, mas com pouca experiência para a I Liga, o que nos fez perder muitos pontos.

PC: Na época seguinte torna-se jogador do Boavista, mas por empréstimo do Estoril. Como surgiu a possibilidade de se mudar para o Bessa? Que outras propostas teve?
RD: Tive várias. Esse foi o pior verão da minha vida. Fui para França e assinei com uma equipa, estava tudo certo, mas quando regressei a Lisboa, o Paulo Barbosa apareceu com uma proposta da Escócia, a prometer mais dinheiro para o Estoril, e o Estoril já não me deixou ir para França, mesmo com o contrato assinado e exames médicos feitos. Acabei então por ir para a Escócia, e eles pagavam o dinheiro que o Estoril queria, mas eu iria receber menos, pelo que decidi vir-me embora. Fui mantendo o meu "braço-de-ferro" com a direção do Estoril, até aparecer o Boavista no último dia do mercado.

PC: Depois de uma temporada positiva, em que efectuou metade dos jogos do campeonato a titular, porque razão não continuou a jogar no Boavista?
RD: Porque o Estoril e o Boavista não chegaram a acordo, e depois também porque era o primeiro ano dos meus filhos na escola, pelo que vi com bons olhos a proposta do Estrela.

PC: Portanto, por essa razão, o Estrela foi a melhor proposta que teve? O que guarda da passagem pelo clube?
RD: Não tive outras, mas só pelo facto de ficar perto da minha família, foi a melhor que podia ter tido.
Adorei lá estar. No primeiro ano não foi fácil porque haviam já os "jogadores da casa", que tentavam pôr o 'barco' ao agrado deles, mas como tinhamos bom grupo, tinha aqueles com que me dava mais e as coisas foram melhorando. No segundo ano, fiz uma época muito boa. O grupo era fantástico e as coisas correram-me muito bem.


PC: Ao fim de duas temporadas na Reboleira, sai para o Brasov, da Roménia. Não houve nenhum convite de Portugal que o tenha feito pensar em continuar a jogar no nosso campeonato?
RD: Houveram vários, mas a parte financeira contou muito, para além de que me senti um pouco desrespeitado cá, porque era dos laterais com maior regularidade no campeonato e só davam valor aos estrangeiros. Mas quando cheguei à Roménia percebi que era um mal do futebol, pois lá só nos valorizavam a nós (risos).

PC: Esteve quatro épocas e meia a jogar na Roménia, onde representou Brasov e Rapid Bucareste, e meio ano no Anorthosis de Chipre. O que nos pode contar acerca dessas experiências?
RD: Fui sempre muito bem tratado, só os últimos seis meses em que estive lá, no Rapid, é que as coisas ficaram mais complicadas, porque o presidente decidiu sair do clube. Mas, de resto, foram quatro anos maravilhosos e ainda hoje tenho um nome 'feito' lá. As pessoas adoram-me.
O Chipre foi a pior decisão da minha vida. O Anorthosis é um bom clube, mas apanhei o início da crise e também não respeitam as pessoas. Pelo menos eu senti isso. Na minha opinião, são um povo muito diferente do romeno.

PC: Quais os momentos mais marcantes da sua carreira?
RD: Momentos positivos são muitos porque tinha o prazer de fazer o que amo e ainda ganhar dinheiro. Mas o mais marcante posso dizer que foi a estreia na Liga Europa, em que jogámos contra equipas que todos sonham jogar. Gostei de defrontar o Légia de Varsóvia, por exemplo, porque jogar no estádio deles é algo maravilhoso, e a nível europeu são poucas ou quase nenhumas as equipas que têm uma massa associativa como a deles.
O pior momento foi um problema de saúde que me foi obrigando a largar a alta competição.

PC: Fez quatro épocas na I Liga. Qual classifica como a melhor?
RD: Talvez a primeira, pelo Estoril. Mas penso que fiz sempre épocas agradáveis.

PC: Nessas quatro épocas que passou "entre os grandes", fez 100 jogos. Algum que destaque em especial?
RD: Sim, a vitória no Dragão, pelo Estrela. Fizemos um grande jogo. Estivemos muito bem organizados e só atacávamos pela 'certa', como se costuma dizer. Naquele tempo só assim era possível ganhar a um "grande".

PC: Qual o extremo que lhe deu mais "trabalho"?
RD: Foi o Simão Sabrosa, porque nunca ficava muito na linha, jogava onde queria e, para quem está a marcar, é mais complicado.

PC: Que história vivida no futebol pode/quer contar?
RD: São várias, mas os melhores momentos que passei nesse aspeto, foram no Rapid Bucareste, com o Cândido Costa, que é das melhores pessoas e colegas que pode haver num balneário. Passávamos os estágios todos a rir. As histórias com ele são tantas, que até é difícil lembrar de alguma, porque as coisas saiam-lhe de uma forma muito natural.

PC: Atualmente é empresário e vai dividindo o seu tempo entre Portugal e Roménia. É nessa função que conta estar ligado ao futebol nos próximos anos, ou ambiciona ter outras funções?
RD: Sim, para já abracei este projeto e é para continuar, até porque ainda estou no começo, e é algo que gosto. A outra maneira de estar ligado ao futebol, só se for como diretor-desportivo, mas, para isso, ainda gostava de fazer um curso nessa área.


A carreira de Rui Duarte, aqui.

Veja uma assistência de Rui Duarte ao serviço do Estrela da Amadora, aqui.

E aqui, por volta dos 2:25 do vídeo, um golo de Rui Duarte pelo Rapid Bucareste:

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Paulo Sérgio


Paulo Sérgio chegou à I Liga pelo Vitória de Setúbal, em 1989, mas só jogaria no principal campeonato português quatro anos depois, em 1993, na Reboleira, diante do Estrela da Amadora.
Em 1995 os sadinos não evitaram a descida ao segundo escalão, mas o guarda-redes não acompanhou o clube nessa despromoção: saiu para o Campomaiorense, que acabava de chegar pela primeira vez na sua história à I Liga.
Sem sequer imaginar, Paulo Sérgio iniciava aí um percurso de sete temporadas consecutivas ao serviço dos "Galgos", em que, por entre duas descidas de divisão e uma subida, chegou à final da Taça de Portugal e tornou-se num dos capitães do clube.
Com o fim do futebol profissional em Campo Maior, mudou-se para o Beira-Mar, onde viria a assinar a sua despedida da I Liga, doze épocas e 145 jogos depois.
Paulo Sérgio tem ainda dois factos curiosos na sua carreira: esteve presente nas cinco temporadas que o Campomaiorense disputou no escalão maior; e venceu duas vezes o FC Porto, uma no Alentejo, e outra em pleno Dragão, pelo Beira-Mar, diante daquele que era o campeão europeu em título.
Atualmente com 45 anos, é gerente de uma mediadora imobiliária, e nas últimas temporadas trabalhou no Oriental, integrado na equipa técnica de João Barbosa, na função de, claro está, treinador de guarda-redes.

Prémio Carreira: Em 1989 subiu a sénior no Vitória, mas só em 1993 se estreou na I Liga. Recorda-se dessa estreia?
Paulo Sérgio: Vou começar por contar o início da minha aventura pelo futebol, que foi no União Futebol Clube Moitense, na categoria de Juvenis, com quinze anos de idade. A minha ida para o Vitória acontece pela intervenção do Magno Marta, mais conhecido pelo "Maguinho", eterno amigo que guardo no coração. Fui convidado pelo mesmo a ir fazer testes com a equipa de juvenis do Vitória, na data treinada por um amigo que também guardo no coração, de nome Jacinto João, também conhecido por "JJ". Depois do primeiro treino fui chamado à secretaria para assinar pelo clube. Recordo esse momento come se fosse hoje... era o início de um sonho, o de jogar no Vitória de Setúbal.
Comecei, nesse mesmo ano, a fazer uns treinos com a equipa principal do Vitória, treinada na altura por Malcolm Allison. No ano seguinte subi aos juniores e no último ano do escalão fiz o meu primeiro contrato como profissional, com dezassete anos, e o treinador era o Manuel Fernandes. Foi muito importante para todo o meu crescimento como homem e profissional toda a informação que o Conhé (treinador de guarda-redes da equipa principal e coordenador das camadas jovens) me deu. Ele foi, sem dúvida alguma, a pessoa que mais me ajudou no crescimento enquanto profissional. Nesse ano jogava pelos juniores alternadamente com o Carlos Ribeiro (atual treinador de guarda-redes do Vitória) e fazia de terceiro guarda redes dos séniores, juntamente com o Jorge Martins (o meu "velhote") e o Rui Correia.
Quando subi definitivamente aos séniores e agora respondendo à questão, o Vitória encontrava-se na II Divisão, onde permaneceu por dois anos. Comecei a jogar precisamente nesse ano, lançado pelo Raúl Águas. O meu primeiro jogo foi contra o Mirense, para a Taça de Portugal, e ganhámos 3-0, salvo erro. A partir dai continuei a jogar, e o Vitória acabou por subir de divisão na época seguinte.
Quanto à minha estreia na I Divisão Nacional, sinceramente não me recordo muito bem do primeiro jogo, sei que joguei os primeiros cinco jogos, o último em Guimarães, onde sofri uma grave lesão no ombro direito, que me consumiu até à última jornada da época contra o Belenenses em Belém. Esta foi uma das fases mais difíceis da minha carreira, e quero aqui deixar uma palavra de agradecimento para o Dr. Henrique Jones, Professor Fidalgo Antunes, ao falecido Maguinho e ao Cotovio, pela ajuda e empenho que tiveram na minha recuperação.

PC: O Vitória desce à II Liga em 1995, e o Paulo sai para o Campomaiorense. Porquê esta decisão?
PS: Com a manutenção do Vitória no escalão principal, regressa também um amigo ao Vitória, o Silvino Louro proveniente, na altura, do Benfica. Esperava-se vida difícil novamente para mim, pois tinha estado praticamente um ano parado e com um guarda-redes com o historial do Silvino pela frente, não seria fácil jogar. O treinador nesse ano era o conhecido Abel Braga. A aposta na baliza foi para o Silvino e, irónicamente, à quinta jornada, tenho a minha oportunidade de regresso. O jogo foi contra o Tirsense, não correu muito bem e acabámos por perder 2-1. No jogo seguinte fomos a Braga e somámos mais uma derrota por 2-0. Na semana seguinte o infortúnio bateu-me novamente à porta: durante um treino em Tróia, tive uma recaída da lesão, tive de ser operado e acabei por estar parado mais três meses. A baliza foi recuperada novamente pelo Silvino, até ao final da época. Acabámos por descer de divisão, o Silvino foi para o FC Porto e eu, por opção, e por convite do Manuel Fernandes, fui abraçar um novo projeto em Campo Maior. Acabei por fechar um ciclo de oito anos no Vitória, um clube que me deu tudo, dirigido por pessoas humildes, onde dei os meus primeiros passos como profissional, numa fantástica cidade onde estudei e onde conheci boas pessoas... mas a vida é assim mesmo, temos de continuar!

PC: No auge da sua carreira, assumiu-se como titular do Campomaiorense e, em 2001, mesmo com a descida do clube, decidiu continuar. Sendo que, na altura, tinha vários clubes de I Liga interessados em si, o que o levou a renovar contrato?
PS: Em Campo Maior fui encontrar uma realidade diferente. O clube tinha acabado de subir de divisão, não tinha o estatuto de um Vitória de Setúbal, mas acabei por encontrar o que sempre me deu mais estabilidade: boas pessoas, uma vila do "outro mundo", recheada de humildade, e acabei por ficar durante sete épocas, cinco na I Liga e duas na II Liga. Passei belos momentos no Campomaiorense, vi o clube crescer, participei activamente nesse crescimento, conseguimos levá-lo a uma final da Taça de Portugal, fomos campeões da II Liga, enfim, muitas alegrias passadas no Alentejo. Não é de admirar que uma pessoa com 31 anos, e com o estatuto que tinha, com o compromisso que tinha, voltasse a cara a uma instituição e a pessoas que me deram muito, e abandonasse o projeto. Foi o que fiz quando o clube caiu na II Liga, em que mesmo tendo convites dos melhores clubes portugueses, optei, juntamente com o clube, por assinar por mais quatro anos. Infelizmente, somente um foi cumprido, com o fim do clube nas competições profissionais.

PC: Como viveu essa situação do clube acabar com o futebol sénior?
PS: Com alguma frustração, mas sempre olhando em frente. Tinha acabado mais um ciclo, aprendi com os erros para no futuro conseguir estar mais preparado para situações idênticas. É assim que vejo a vida.


PC: Regressa à I Liga para o Beira-Mar. De todos os convites que recebeu, esta era a melhor opção? 
PS: O Beira-Mar foi uma das opções que me chegaram, entre outras que tinha, mas foi a abordagem do presidente Mano Nunes e do mister António Sousa - duas pessoas de quem guardo muito carinho -, que me levaram a rumar até Aveiro.
No início, a minha vida no Beira-Mar não foi fácil, pois tinha vindo de uma vila, de um clube em que era considerado uma das referências e, em Aveiro, inicialmente não fui muito feliz. Tudo era estranho, e demorei algum tempo a adaptar-me, mas com o trabalho e o focus que coloquei em mim, consegui dar a volta e consegui quase ser o Paulo Sérgio do Campomaiorense. Consegui atingir esse ponto alto no último jogo da primeira época no Mário Duarte, frente ao Marítimo, num jogo que tínhamos de ganhar para conseguir a manutenção, conseguimos, e para mim foi o ponto mais alto. Guardo grandes amigos que fiz lá, como Ribeirinho, Filipe, Fusco, entre muitos outros, que me percebiam e que me fizeram levantar. O meu muito obrigado a eles.

PC: Fez a sua carreira toda no nosso País. Nunca se sentiu tentado a emigrar? Não surgiram hipóteses?
PS: Nunca surgiu oportunidade para sair do País.

PC: Qual o melhor momento da sua carreira?
PS: Tive alguns. Recordo a subida de divisão no Vitória de Setúbal, com pessoas fervorosas que rodeavam o relvado à espera do apito final do árbitro para nos abraçar e levar em ombros. Recordo-me da passagem à final da Taça de Portugal em Campo Maior, e da recepção do povo à comitiva. Recordo-me do tal jogo que já referi, frente ao Marítimo, em Aveiro, que tínhamos de ganhar para conseguir a manutenção. Recordo-me de um jogo no Dragão, pelo Beira-Mar, em que ganhámos por 1-0; um jogo em Campo Maior, frente ao Sporting; e outro frente ao FC Porto, que ganhámos depois de muito sofrimento. Um dos grande momentos que tive até hoje foi um conjunto de acontecimentos vividos de uma forma diferente do que tinha vivido como profissional até então: falo da minha passagem como Guarda-Redes do Olivais e Moscavide, na II Divisão Nacional, e que me marcou bastante, por tudo o que conseguimos conquistar no primeiro ano. Faltou somente a subida de divisão, que perdemos por grandes penalidades frente ao Covilhã, depois de termos feito uma época dividida por três fases, em que fomos inteiramente superiores em duas delas. Fiz grandes amigos, deu para ver o futebol de outra forma, e foi sem dúvida um dos meus maiores momentos, participar numa prova diferente de tudo o que já tinha feito e sentir-me realizado e feliz por ali estar em ajudar, somente isso.

PC: No Vitória praticamente só foi aposta na II Liga, e pelo Campomaiorense perdeu uma Taça de Portugal. São as grandes mágoas da sua carreira?
PS: Sem dúvida que acertou em cheio. Outros momentos tristes foram as duas grandes lesões que contraí no ombro direito: a primeira ao serviço do Vitória de Setúbal e a segunda já ao serviço do Beira-Mar.

PC: Das doze épocas que jogou na I Liga, qual foi a melhor?
PS: As que passei com o Carlos Manuel, Agatão e com o Madureira, foram, sem dúvida alguma, as mais divertidas, pois conseguiu-se de alguma forma conjugar a responsabilidade do jogo com o divertimento diário nos treinos.

PC: Fez 145 jogos na I Liga. Qual ou quais os jogos que lhe ficaram na memória?
PS:  Pelos piores motivos, os das lesões em Guimarães - foram as duas feitas na mesma baliza, distanciadas por doze anos. Recordo-me também de um jogo horrível que fiz ao serviço do Beira-Mar, frente ao Leiria, na Marinha Grande, em que dei um "frango" monumental.
Pelos melhores motivos, felizmente tenho muitos, mas o que me ficou mais gravado foi a vitória no Estádio do Dragão, por 1-0, na altura, ao serviço do Beira-Mar.

PC: Que avançado foi o seu "maior carrasco"?
PS: O avançado carrasco, pode-se dizer que foi o Jardel, apanhei o homem no momento alto da sua carreira. Foi um privilégio, mas ao mesmo tempo...

PC: Que história vivida no futebol pode ou quer partilhar?
PS: Na passagem do João Alves pelo Campomaiorense, lembro-me de um episódio fantástico que os três guarda-redes viveram: fomos jogar a Salamanca numa determinada noite, acho que foi a apresentação do Salamanca aos sócios, mas eu acabei por ficar em Campo Maior a recuperar de uma pequena lesão e seguiram para jogo os outros dois colegas, acho que foi o Poleksic e o Daniel Rocha, salvo erro. O jogo não podia ter corrido pior para nós: "encaixámos" 6-0.
No outro dia de tarde fomos treinar e o que nos esperava depois do treino??? Uma consulta ao oftalmologista em Portalegre, porque o João desconfiava que os guarda-redes não viam as bolas à noite (risos). Só mesmo o grande João, homem de muito apreço e grande amigo.

PC: Nas últimas épocas foi treinador de GR do Oriental, integrado na equipa técnica de João Barbosa. O futuro no futebol continua a passar por essa função ou pretende ser, por exemplo, treinador principal?
PS: Neste momento, tenho uma mediadora imobiliária (imosolution.pt), e pertenço à equipa técnica do João Barbosa, pelo que não passa por mim qualquer ambição de um dia ser treinador principal de futebol. 
Fazemos uma magnifica equipa técnica, somos quatro, cada um especialista na sua área. Neste momento estamos à espera de uma oportunidade que aparecerá com toda a certeza, não só pela mais-valia que somos, como por todo o percurso que fizemos enquanto equipa técnica do Clube Oriental de Lisboa nos últimos três anos, em que fomos aos Quartos-de-Final da Taça de Portugal, temos uma subida de divisão e uma manutenção na II Liga.


A carreira de Paulo Sérgio, aqui.

Recorde uma das muitas boas exibições de Paulo Sérgio ao longo da sua carreira: 


E veja um vídeo que explica bem o porquê de Jardel ser um "carrasco" para Paulo Sérgio:

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Artur Jorge


Artur Jorge será sempre uma das grandes referências do Sp. Braga.
Bracarense de gema e capitão de equipa, o antigo defesa-central representou durante doze épocas consecutivas o emblema minhoto na I Liga, e viveu a fase em que o clube ultrapassou as dificuldades, ergueu um projeto e se afirmou em definitivo no futebol português.
Quando os bracarenses regressaram às provas da UEFA, em 1997, após uma longa ausência, coube a Artur Jorge assinar a vitória minhota sobre o Vitesse, da Holanda, no jogo da segunda mão, com dois golos marcados, ambos na conversão de grandes penalidades, e que resultaram numa vitória por 2-0.
Em 2004, com 240 jogos na I Liga ao serviço do seu clube de sempre, rumou ao Penafiel, onde realizou apenas um encontro, lesionando-se com gravidade logo de seguida, algo que precipitou o fim de um percurso futebolístico, onde constam, também, seis internacionalizações por Portugal, sempre no escalão Sub-21.
Artur Jorge tem no seu filho um digno sucessor: herdou o mesmo nome do Pai, joga na mesma posição e representa o mesmo clube. Recentemente foi promovido à equipa principal bracarense, por quem já leva quatro jogos consecutivos, três deles como titular.
Aos 44 anos, é dono de uma academia de futebol em Bissau, ao mesmo tempo que gere uma empresa de agenciamento de jogadores. Para trás fica, por enquanto, a carreira de treinador, que conta com passagens por Famalicão, Tirsense e Sp. Braga B.

Prémio Carreira: Em 1992, depois de dois anos de empréstimo ao Arsenal de Braga, é integrado no plantel principal do Sp. Braga. Lembra-se de como recebeu a notícia?
Artur Jorge: Fiz toda a minha formação no SC Braga e o Arsenal de Braga funcionava como funcionam hoje as equipas B. Foi uma enorme alegria saber que iria integrar a equipa A, era a realização de um sonho e uma grande prova de confiança do clube em apostar em mim. Tanto mais que, no mesmo dia, final de época, em que me foi comunicada essa decisão, a direção do clube reuniu com o plantel do Arsenal, para informar que o projeto da equipa B terminaria nessa época. Fui o único jogador desse ano a continuar, depois de uma época que individualmente correu muito bem.

PC: No primeiro ano fez doze jogos no campeonato, sete deles como titular. Recorda-se da sua estreia na I Divisão?
AJ: Perfeitamente. Fui suplente em Belém num jogo que ganhamos pela margem mínima. A cerca de vinte minutos do fim, o mister Vítor Manuel apostou em mim, estreando-me, para uma maior solidez defensiva.

PC: Foi titular indiscutível do Sp. Braga durante vários anos consecutivos, mas nunca deixou o clube. Não recebeu propostas para sair para outros campeonatos e até para os "nossos grandes"?
AJ: Naturalmente que sim. Anteriormente a visão dos clubes era menos empresarial, algumas dessas propostas eu apenas tive conhecimento passado anos. Desportivamente o SC Braga sempre acreditou em mim e eu nunca manifestei vontade de sair apenas por sair. Sempre me senti honrado e realizado por servir o SC Braga, o clube que foi a minha casa desde os doze anos. 

PC: Viveu o período em que o Sp. Braga se afirmou em definitivo no futebol português. Como bracarense e capitão de equipa, como viu e sentiu esse crescimento do Braga?
AJ: De facto o período da minha carreira coincide com o crescimento e afirmação do SC Braga. Uma carreira em crescendo internamente onde, no início, passamos por muitas dificuldades até ao momento em que há uma estabilidade e um projeto. Como atleta, sentimos de uma forma forte esse momento em que a estabilidade financeira ajudou a crescer desportivamente. Hoje é um clube de grande dimensão, com afirmação desportiva nacional e internacional. Um caso de sucesso!

PC: Em 2004 saiu do Sp. Braga, pondo fim a uma ligação de dezoito anos com o clube. Qual ou quais os motivos para a sua saída?
AJ: O final do meu contrato e o facto de não entrar nos planos do treinador para a época seguinte.

PC: Continua a jogar na I Liga, assinando pelo Penafiel. Porém, fez apenas um jogo e não mais voltou aos relvados. O que aconteceu?
AJ: Continuei na I Liga, onde assinei com o Penafiel por dois anos, mas uma lesão na segunda semana de campeonato e nova operação ao joelho, fizeram com que eu tomasse a decisão de terminar a minha carreira imediatamente.


PC: Qual foi o melhor momento da sua carreira?
AJ: Destaco não o melhor, mas um dos mais marcantes, onde conseguimos a minha primeira qualificação para as competições europeias, de onde o SC Braga andava afastado à mais de dezoito anos. Terá sido o arranque definitivo para a afirmação do SC Braga.

PC: Pelo Sp. Braga alcançou dois quarto lugares na I Liga, teve três qualificações para as competições europeias e jogou uma final da Taça de Portugal. Essa final perdida no Jamor, em 1998, é a maior mágoa da sua carreira?
AJ: Mágoa por perder, mas um dos momentos mais bonitos e emocionantes que vivi. A final da Taça de Portugal tem uma mística incrível e foi um privilégio ter a oportunidade de a disputar.

PC: Cumpriu treze épocas na I Liga. Qual destaca como a sua melhor?
AJ: A época de 1996/97 onde cumpri 32 dos 34 jogos do campeonato, com a conquista do quarto lugar e apuramento para as competições europeias.

PC: Qual ou quais os pontas-de-lança que mais "trabalho" lhe davam?
AJ: Defrontei avançados de grande qualidade como Nuno Gomes, Domingos, Jardel, João Pinto, Jimmy e Caniggia.

PC: Que história vivida no futebol pode ou quer partilhar?
AJ: O que acontece no futebol fica no futebol.

PC: Tem no seu filho um digno sucessor: tem o mesmo nome, joga na mesma posição e no mesmo clube. Tendo em conta as atuais conjunturas do futebol, pensa que o Artur pode fazer um trajeto semelhante ao que o Pai fez no SC Braga?
AJ: Tem todas as condições para atingir um nível superior, tendo em conta a dinâmica empresarial que hoje são os clubes. É um excelente atleta, muito profissional, ambicioso e competente. Está muito feliz por representar o SC Braga, o seu clube de coração.

PC: Neste momento tem uma academia de futebol em Bissau e gere uma empresa de agenciamento de jogadores, mas também já foi treinador. O futuro no futebol não passa por voltar a treinar?
AJ: Treinar diria que é uma grande paixão, mas reconheço que tenho dificuldades em me identificar com propostas ou clubes onde não existe um plano, um projeto. Poderia estar a treinar mas continuo convicto de que não vale tudo para isso.
A academia em Bissau é um projeto de grande valor social paralelamente ao desportivo. Fazemos o scout de atletas em toda a Guiné e selecionámos os melhores para fazerem parte da nossa equipa. Proporcionamos a todos melhores condições de treino e do seu próprio dia-a-dia. É muito gratificante acompanhar o empenho e a ambição de quem pouco tem, para conseguir uma oportunidade de atingir o seu sonho. Gosto da simplicidade e do reconhecimento puro dos atletas no trabalho que fazemos juntos.
A empresa agencia todos os atletas da academia e intermedia a sua colocação fora do mercado da Guiné. É igualmente objetivo alargar o mercado de atletas representados assim como o de outros mercados.


A carreira de Artur Jorge, aqui.

Veja os dois golos de Artur Jorge diante do Vitesse, na Taça UEFA, em 1997:


E aqui, por volta do 1:15, um golo de Artur Jorge ao Sporting, em 2002: