Paulo Sérgio chegou à I Liga pelo Vitória de Setúbal, em 1989, mas só jogaria no principal campeonato português quatro anos depois, em 1993, na Reboleira, diante do Estrela da Amadora.
Em 1995 os sadinos não evitaram a descida ao segundo escalão, mas o guarda-redes não acompanhou o clube nessa despromoção: saiu para o Campomaiorense, que acabava de chegar pela primeira vez na sua história à I Liga.
Sem sequer imaginar, Paulo Sérgio iniciava aí um percurso de sete temporadas consecutivas ao serviço dos "Galgos", em que, por entre duas descidas de divisão e uma subida, chegou à final da Taça de Portugal e tornou-se num dos capitães do clube.
Com o fim do futebol profissional em Campo Maior, mudou-se para o Beira-Mar, onde viria a assinar a sua despedida da I Liga, doze épocas e 145 jogos depois.
Paulo Sérgio tem ainda dois factos curiosos na sua carreira: esteve presente nas cinco temporadas que o Campomaiorense disputou no escalão maior; e venceu duas vezes o FC Porto, uma no Alentejo, e outra em pleno Dragão, pelo Beira-Mar, diante daquele que era o campeão europeu em título.
Atualmente com 45 anos, é gerente de uma mediadora imobiliária, e nas últimas temporadas trabalhou no Oriental, integrado na equipa técnica de João Barbosa, na função de, claro está, treinador de guarda-redes.
Prémio Carreira: Em 1989 subiu a sénior no Vitória, mas só em 1993 se estreou na I Liga. Recorda-se dessa estreia?
Paulo Sérgio: Vou começar por contar o início da minha aventura pelo futebol, que foi no União Futebol Clube Moitense, na categoria de Juvenis, com quinze anos de idade. A minha ida para o Vitória acontece pela intervenção do Magno Marta, mais conhecido pelo "Maguinho", eterno amigo que guardo no coração. Fui convidado pelo mesmo a ir fazer testes com a equipa de juvenis do Vitória, na data treinada por um amigo que também guardo no coração, de nome Jacinto João, também conhecido por "JJ". Depois do primeiro treino fui chamado à secretaria para assinar pelo clube. Recordo esse momento come se fosse hoje... era o início de um sonho, o de jogar no Vitória de Setúbal.
Comecei, nesse mesmo ano, a fazer uns treinos com a equipa principal do Vitória, treinada na altura por Malcolm Allison. No ano seguinte subi aos juniores e no último ano do escalão fiz o meu primeiro contrato como profissional, com dezassete anos, e o treinador era o Manuel Fernandes. Foi muito importante para todo o meu crescimento como homem e profissional toda a informação que o Conhé (treinador de guarda-redes da equipa principal e coordenador das camadas jovens) me deu. Ele foi, sem dúvida alguma, a pessoa que mais me ajudou no crescimento enquanto profissional. Nesse ano jogava pelos juniores alternadamente com o Carlos Ribeiro (atual treinador de guarda-redes do Vitória) e fazia de terceiro guarda redes dos séniores, juntamente com o Jorge Martins (o meu "velhote") e o Rui Correia.
Quando subi definitivamente aos séniores e agora respondendo à questão, o Vitória encontrava-se na II Divisão, onde permaneceu por dois anos. Comecei a jogar precisamente nesse ano, lançado pelo Raúl Águas. O meu primeiro jogo foi contra o Mirense, para a Taça de Portugal, e ganhámos 3-0, salvo erro. A partir dai continuei a jogar, e o Vitória acabou por subir de divisão na época seguinte.
Quanto à minha estreia na I Divisão Nacional, sinceramente não me recordo muito bem do primeiro jogo, sei que joguei os primeiros cinco jogos, o último em Guimarães, onde sofri uma grave lesão no ombro direito, que me consumiu até à última jornada da época contra o Belenenses em Belém. Esta foi uma das fases mais difíceis da minha carreira, e quero aqui deixar uma palavra de agradecimento para o Dr. Henrique Jones, Professor Fidalgo Antunes, ao falecido Maguinho e ao Cotovio, pela ajuda e empenho que tiveram na minha recuperação.
PC: O Vitória desce à II Liga em 1995, e o Paulo sai para o Campomaiorense. Porquê esta decisão?
PS: Com a manutenção do Vitória no escalão principal, regressa também um amigo ao Vitória, o Silvino Louro proveniente, na altura, do Benfica. Esperava-se vida difícil novamente para mim, pois tinha estado praticamente um ano parado e com um guarda-redes com o historial do Silvino pela frente, não seria fácil jogar. O treinador nesse ano era o conhecido Abel Braga. A aposta na baliza foi para o Silvino e, irónicamente, à quinta jornada, tenho a minha oportunidade de regresso. O jogo foi contra o Tirsense, não correu muito bem e acabámos por perder 2-1. No jogo seguinte fomos a Braga e somámos mais uma derrota por 2-0. Na semana seguinte o infortúnio bateu-me novamente à porta: durante um treino em Tróia, tive uma recaída da lesão, tive de ser operado e acabei por estar parado mais três meses. A baliza foi recuperada novamente pelo Silvino, até ao final da época. Acabámos por descer de divisão, o Silvino foi para o FC Porto e eu, por opção, e por convite do Manuel Fernandes, fui abraçar um novo projeto em Campo Maior. Acabei por fechar um ciclo de oito anos no Vitória, um clube que me deu tudo, dirigido por pessoas humildes, onde dei os meus primeiros passos como profissional, numa fantástica cidade onde estudei e onde conheci boas pessoas... mas a vida é assim mesmo, temos de continuar!
PC: No auge da sua carreira, assumiu-se como titular do Campomaiorense e, em 2001, mesmo com a descida do clube, decidiu continuar. Sendo que, na altura, tinha vários clubes de I Liga interessados em si, o que o levou a renovar contrato?
PS: Em Campo Maior fui encontrar uma realidade diferente. O clube tinha acabado de subir de divisão, não tinha o estatuto de um Vitória de Setúbal, mas acabei por encontrar o que sempre me deu mais estabilidade: boas pessoas, uma vila do "outro mundo", recheada de humildade, e acabei por ficar durante sete épocas, cinco na I Liga e duas na II Liga. Passei belos momentos no Campomaiorense, vi o clube crescer, participei activamente nesse crescimento, conseguimos levá-lo a uma final da Taça de Portugal, fomos campeões da II Liga, enfim, muitas alegrias passadas no Alentejo. Não é de admirar que uma pessoa com 31 anos, e com o estatuto que tinha, com o compromisso que tinha, voltasse a cara a uma instituição e a pessoas que me deram muito, e abandonasse o projeto. Foi o que fiz quando o clube caiu na II Liga, em que mesmo tendo convites dos melhores clubes portugueses, optei, juntamente com o clube, por assinar por mais quatro anos. Infelizmente, somente um foi cumprido, com o fim do clube nas competições profissionais.
PC: Como viveu essa situação do clube acabar com o futebol sénior?
PC: Regressa à I Liga para o Beira-Mar. De todos os convites que recebeu, esta era a melhor opção?
PC: Fez a sua carreira toda no nosso País. Nunca se sentiu tentado a emigrar? Não surgiram hipóteses?
PC: Qual o melhor momento da sua carreira?
PC: No Vitória praticamente só foi aposta na II Liga, e pelo Campomaiorense perdeu uma Taça de Portugal. São as grandes mágoas da sua carreira?
PC: Que história vivida no futebol pode ou quer partilhar?
PC: Como viveu essa situação do clube acabar com o futebol sénior?
PS: Com alguma frustração, mas sempre olhando em frente. Tinha acabado mais um ciclo, aprendi com os erros para no futuro conseguir estar mais preparado para situações idênticas. É assim que vejo a vida.
PC: Regressa à I Liga para o Beira-Mar. De todos os convites que recebeu, esta era a melhor opção?
PS: O Beira-Mar foi uma das opções que me chegaram, entre outras que tinha, mas foi a abordagem do presidente Mano Nunes e do mister António Sousa - duas pessoas de quem guardo muito carinho -, que me levaram a rumar até Aveiro.
No início, a minha vida no Beira-Mar não foi fácil, pois tinha vindo de uma vila, de um clube em que era considerado uma das referências e, em Aveiro, inicialmente não fui muito feliz. Tudo era estranho, e demorei algum tempo a adaptar-me, mas com o trabalho e o focus que coloquei em mim, consegui dar a volta e consegui quase ser o Paulo Sérgio do Campomaiorense. Consegui atingir esse ponto alto no último jogo da primeira época no Mário Duarte, frente ao Marítimo, num jogo que tínhamos de ganhar para conseguir a manutenção, conseguimos, e para mim foi o ponto mais alto. Guardo grandes amigos que fiz lá, como Ribeirinho, Filipe, Fusco, entre muitos outros, que me percebiam e que me fizeram levantar. O meu muito obrigado a eles.
No início, a minha vida no Beira-Mar não foi fácil, pois tinha vindo de uma vila, de um clube em que era considerado uma das referências e, em Aveiro, inicialmente não fui muito feliz. Tudo era estranho, e demorei algum tempo a adaptar-me, mas com o trabalho e o focus que coloquei em mim, consegui dar a volta e consegui quase ser o Paulo Sérgio do Campomaiorense. Consegui atingir esse ponto alto no último jogo da primeira época no Mário Duarte, frente ao Marítimo, num jogo que tínhamos de ganhar para conseguir a manutenção, conseguimos, e para mim foi o ponto mais alto. Guardo grandes amigos que fiz lá, como Ribeirinho, Filipe, Fusco, entre muitos outros, que me percebiam e que me fizeram levantar. O meu muito obrigado a eles.
PC: Fez a sua carreira toda no nosso País. Nunca se sentiu tentado a emigrar? Não surgiram hipóteses?
PS: Nunca surgiu oportunidade para sair do País.
PC: Qual o melhor momento da sua carreira?
PS: Tive alguns. Recordo a subida de divisão no Vitória de Setúbal, com pessoas fervorosas que rodeavam o relvado à espera do apito final do árbitro para nos abraçar e levar em ombros. Recordo-me da passagem à final da Taça de Portugal em Campo Maior, e da recepção do povo à comitiva. Recordo-me do tal jogo que já referi, frente ao Marítimo, em Aveiro, que tínhamos de ganhar para conseguir a manutenção. Recordo-me de um jogo no Dragão, pelo Beira-Mar, em que ganhámos por 1-0; um jogo em Campo Maior, frente ao Sporting; e outro frente ao FC Porto, que ganhámos depois de muito sofrimento. Um dos grande momentos que tive até hoje foi um conjunto de acontecimentos vividos de uma forma diferente do que tinha vivido como profissional até então: falo da minha passagem como Guarda-Redes do Olivais e Moscavide, na II Divisão Nacional, e que me marcou bastante, por tudo o que conseguimos conquistar no primeiro ano. Faltou somente a subida de divisão, que perdemos por grandes penalidades frente ao Covilhã, depois de termos feito uma época dividida por três fases, em que fomos inteiramente superiores em duas delas. Fiz grandes amigos, deu para ver o futebol de outra forma, e foi sem dúvida um dos meus maiores momentos, participar numa prova diferente de tudo o que já tinha feito e sentir-me realizado e feliz por ali estar em ajudar, somente isso.
PC: No Vitória praticamente só foi aposta na II Liga, e pelo Campomaiorense perdeu uma Taça de Portugal. São as grandes mágoas da sua carreira?
PS: Sem dúvida que acertou em cheio. Outros momentos tristes foram as duas grandes lesões que contraí no ombro direito: a primeira ao serviço do Vitória de Setúbal e a segunda já ao serviço do Beira-Mar.
PC: Das doze épocas que jogou na I Liga, qual foi a melhor?
PC: Das doze épocas que jogou na I Liga, qual foi a melhor?
PS: As que passei com o Carlos Manuel, Agatão e com o Madureira, foram, sem dúvida alguma, as mais divertidas, pois conseguiu-se de alguma forma conjugar a responsabilidade do jogo com o divertimento diário nos treinos.
PC: Fez 145 jogos na I Liga. Qual ou quais os jogos que lhe ficaram na memória?
PC: Fez 145 jogos na I Liga. Qual ou quais os jogos que lhe ficaram na memória?
PS: Pelos piores motivos, os das lesões em Guimarães - foram as duas feitas na mesma baliza, distanciadas por doze anos. Recordo-me também de um jogo horrível que fiz ao serviço do Beira-Mar, frente ao Leiria, na Marinha Grande, em que dei um "frango" monumental.
Pelos melhores motivos, felizmente tenho muitos, mas o que me ficou mais gravado foi a vitória no Estádio do Dragão, por 1-0, na altura, ao serviço do Beira-Mar.
PC: Que avançado foi o seu "maior carrasco"?
Pelos melhores motivos, felizmente tenho muitos, mas o que me ficou mais gravado foi a vitória no Estádio do Dragão, por 1-0, na altura, ao serviço do Beira-Mar.
PC: Que avançado foi o seu "maior carrasco"?
PS: O avançado carrasco, pode-se dizer que foi o Jardel, apanhei o homem no momento alto da sua carreira. Foi um privilégio, mas ao mesmo tempo...
PC: Que história vivida no futebol pode ou quer partilhar?
PS: Na passagem do João Alves pelo Campomaiorense, lembro-me de um episódio fantástico que os três guarda-redes viveram: fomos jogar a Salamanca numa determinada noite, acho que foi a apresentação do Salamanca aos sócios, mas eu acabei por ficar em Campo Maior a recuperar de uma pequena lesão e seguiram para jogo os outros dois colegas, acho que foi o Poleksic e o Daniel Rocha, salvo erro. O jogo não podia ter corrido pior para nós: "encaixámos" 6-0.
No outro dia de tarde fomos treinar e o que nos esperava depois do treino??? Uma consulta ao oftalmologista em Portalegre, porque o João desconfiava que os guarda-redes não viam as bolas à noite (risos). Só mesmo o grande João, homem de muito apreço e grande amigo.
PC: Nas últimas épocas foi treinador de GR do Oriental, integrado na equipa técnica de João Barbosa. O futuro no futebol continua a passar por essa função ou pretende ser, por exemplo, treinador principal?
No outro dia de tarde fomos treinar e o que nos esperava depois do treino??? Uma consulta ao oftalmologista em Portalegre, porque o João desconfiava que os guarda-redes não viam as bolas à noite (risos). Só mesmo o grande João, homem de muito apreço e grande amigo.
PC: Nas últimas épocas foi treinador de GR do Oriental, integrado na equipa técnica de João Barbosa. O futuro no futebol continua a passar por essa função ou pretende ser, por exemplo, treinador principal?
PS: Neste momento, tenho uma mediadora imobiliária (imosolution.pt), e pertenço à equipa técnica do João Barbosa, pelo que não passa por mim qualquer ambição de um dia ser treinador principal de futebol.
Fazemos uma magnifica equipa técnica, somos quatro, cada um especialista na sua área. Neste momento estamos à espera de uma oportunidade que aparecerá com toda a certeza, não só pela mais-valia que somos, como por todo o percurso que fizemos enquanto equipa técnica do Clube Oriental de Lisboa nos últimos três anos, em que fomos aos Quartos-de-Final da Taça de Portugal, temos uma subida de divisão e uma manutenção na II Liga.
A carreira de Paulo Sérgio, aqui.
Recorde uma das muitas boas exibições de Paulo Sérgio ao longo da sua carreira:
E veja um vídeo que explica bem o porquê de Jardel ser um "carrasco" para Paulo Sérgio:
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