sábado, 9 de julho de 2016

Ribeiro


A carreira de Ribeiro confunde-se com o Beira-Mar.
O antigo defesa-direito, que tem agora 37 anos, cumpriu quase 100 jogos no nosso principal campeonato, subiu três vezes à I Liga, e terminou a carreira em 2013.
O Beira-Mar foi a sua casa durante dezanove anos, mas Ribeiro jogou ainda, por exemplo, no Rio Ave e, mais tarde, no Boavista na II Divisão Nacional.
Além destes clubes, há outro que marca a carreira de Ribeiro: o Marítimo. Em 2000, Ribeiro estreou-se na I Liga diante dos madeirenses, e uns anos mais tarde, em 2007, realizou, sem saber, o seu último jogo no escalão maior do nosso futebol, precisamente contra os verde-rubros.
No seu percurso constam, também, quatro internacionalizações por Portugal.
Oficialmente sem ligações ao futebol, Ribeiro vai-se dedicando, por enquanto, a acompanhar o seu Beira-Mar no papel de adepto.

Prémio Carreira: Estreou-se na I Liga em 2000/2001, depois de ter feito parte do plantel do Beira Mar que subiu de divisão. Recorda-se do primeiro jogo que fez na I Liga?
Pedro Ribeiro: Recordo com natural satisfação a minha estreia no principal escalão do futebol português, no Estádio dos Barreiros, frente ao Marítimo. Foi a concretização de um sonho de menino e que qualquer jogador ambiciona quando decide seguir a carreira de futebolista profissional. Tendo sido no clube onde me formei e, onde cresci como Homem, tornou o momento ainda mais especial e inesquecível.

PC: Uns meses antes desta estreia, tornou-se internacional por Portugal. Acha que ter alcançado este patamar, ajudou a que o Beira Mar apostasse em si?
PR: A transição da idade júnior para o plantel sénior nunca é fácil. Felizmente, foi-me dada essa oportunidade, e penso que o facto de ter representado o meu País, me ajudou a crescer e a cimentar a minha posição, também, no Beira-Mar. Facto do qual me orgulho, visto ter pertencido a uma geração de jogadores com um excelente trajecto no futebol internacional.

PC: Jogou sete épocas na I Liga. Qual é que destaca a nível pessoal?
PR: A época que mais me marcou foi, sem dúvida, a época 2003/2004. Realizamos um excelente campeonato, e disputámos, durante parte da época, os lugares europeus. Uma equipa recheada de jogadores com qualidade e na qual sobressaía o colectivo. Mas existem outros momentos ao longo destes anos que foram gratificantes e marcantes na minha vida enquanto profissional de futebol. Obviamente que as subidas de divisão, pela sua carga emocional e dificuldade, são igualmente marcantes, bem como a primeira internacionalização por Portugal.

PC: 93 jogos na I Divisão - todos pelo Beira-Mar. Foi titular, por exemplo, em vitórias no Dragão e na Luz. São estes os jogos que mais o marcaram ou há mais algum em especial?
PR: São vitórias marcantes na vida do Beira-Mar e nas quais tive a felicidade de estar presente. Momentos que ficarão imortalizados na longa história do clube. Mas há ainda a vitória sobre o FC Porto de José Mourinho, no Estádio das Antas, com todo o brilhantismo que se reconhecia a essa equipa. Igualmente marcante, foi a disputa da Taça UEFA, frente ao Vitesse.

PC: Em 2007 trocou o Beira-Mar pelo Rio Ave, e voltou a subir de divisão. Porém nunca jogou pelos vilacondenses na I Liga. Qual/quais o(s) motivo(s)?
PR: Sim, de facto, e após a subida de divisão no Rio Ave, não fui opção para o ano que se seguiu. Novos treinadores, novas ideias, novos jogadores... Faz parte do futebol, e é importante que se saiba conviver com isso. A carreira é feita de altos e baixos, e há que estar mentalmente preparado para isso. De qualquer maneira foi uma casa que me acolheu muito bem, na qual fui bem tratado e a qual recordo pelos melhores motivos. Aliás, à semelhança do que aconteceu no "Boavistão" e no Alba, clube onde terminei a minha carreira. Foi importante para mim viver outras experiências e sentir a alma, a força e a determinação das "gentes do Norte".

PC: Fez cinco temporadas consecutivas ao serviço do Beira-Mar na I Liga. Nunca teve oportunidade de sair para um clube com maiores ambições? 
PR: Sim, tive algumas oportunidades para disputar outras ligas e representar equipas que lutavam por outros objectivos. Mas, na altura, por vários motivos não se concretizou. No futebol, o jogador nunca decide sozinho. Tem por trás dele, sempre, a família, os empresários, o clube, os treinadores, etc. São partes integrantes e que têm influência na tomada de decisões.


PC: Se tivesse que destacar um ponto positivo e um ponto negativo da sua carreira, quais seriam?
PR: Positivo, o facto de ter enveredado pela carreira de futebolista. É, sem dúvida, e como costumo dizer, a "melhor vida do Mundo". Ter dezenas de pessoas a vibrarem e a torcerem por nós, é algo muito especial e apaixonante. Faz-nos vibrar imenso.
Negativo, obviamente, o dia em que percebemos que temos de abandonar o futebol e seguir o percurso natural das coisas.

PC: Deixou de jogar em 2013. Estará, naturalmente, orgulhoso da carreira que construiu. Mas "olhando para trás", ficou alguma coisa por "fazer"?
PR: Não, sinceramente não. Tentei ser, sempre, profissional, dar o meu melhor em campo e em todas as circunstâncias. No entanto, sinto que, por vezes, a emoção se sobrepôs à razão e, aí, talvez me arrependa de não ter sido mais determinado. Mas são tudo aprendizagens para a vida futura.

PC: Qual foi o extremo que lhe deu mais "trabalho"?
PR: (Risos) Foram uns quantos, todos com muita qualidade e é difícil destacar apenas um. Entre Drulovic, Simão Sabrosa, Capucho, João Pinto, Quaresma, e outros mais, "venha o diabo e escolha"!

PC: Durante o FC Porto 0-1 Beira-Mar de 04/05, há uma história curiosa ocorrida ao intervalo, certo? Quer recordá-la?
PR: Uma de muitas histórias que partilhámos, no balneário, ao longo da carreira. Recordo esse dia pela forma como o mister Cajuda se dirigiu ao grupo, no intervalo do jogo no Dragão. Vencíamos ao intervalo e ao chegarmos à cabine, ele deixou que nos sentássemos e quando esperávamos a habitual palestra, apenas nos disse isto: "Ai meteram-se nela? Agora desenrasquem-se". Ficamos estupefactos e obviamente foi motivo de gargalhada no final do jogo.

PC: Além desta história, que outra história quer/pode partilhar?
PR: Aquando da chegada do Fary ao Beira-Mar - em 1998 -, recordo o dia em que, num estágio, resolvemos deixá-lo "pendurado" à espera de uma entrevista que nunca aconteceu. Estávamos no hotel, depois de almoço (período no qual aproveitávamos para descansar para o treino da tarde) e combinámos que, da recepção, alguém iria ligar para que o Fary fosse a uma entrevista fictícia. Ele, no seu ar inocente lá foi, e não fosse alguém avisá-lo, ainda hoje lá estaria à espera de quem nunca viria...

PC: O que significou para si jogar no Boavista, mesmo tendo sido na II Divisão?
PR: Jogar no Boavista foi inesquecível para mim. Ver a raça, a crença, e a grandeza do clube numa situação tão adversa, foi marcante para mim. É um clube com muita mística. Não sentíamos que jogávamos na II Divisão. Ao longo dos dois anos que lá estive, senti sempre o apoio e o carinho das pessoas, e estou-lhes grato pela forma como me trataram. Trouxe comigo uma máxima que os caracteriza: SÓ OS FORTES RESISTEM, SÓ OS FRACOS DESISTEM...

PC: Sendo o Ribeiro um beira-marense confesso e presente no dia-a-dia do clube, como viveu a temporada 15/16? Acredita no regresso do clube aos campeonatos profissionais a curto-prazo?
PR: Obviamente, vi com muita tristeza o Beira-Mar descer aos campeonatos distritais. Um clube quase centenário, com uma história e um trajecto grandioso no futebol nacional, merece estar entre os melhores. Tive a oportunidade de acompanhar o clube de perto nesta fase mais difícil, e estou certo que irá regressar ao escalão que é seu por mérito próprio. Não será fácil até porque existe muita qualidade nestas divisões e a aposta dos outros clubes é muito forte. O Beira-Mar continua a ter dificuldades, apesar de ter subido de divisão, e terá de fazer o seu percurso de forma sustentada. Mas terá de ser, igualmente, competitivo e manter a cultura de vitória, e para isso, é necessário o apoio de todos, sem excepção, nesta fase menos boa do clube.

PC: Como é a vida do Pedro Ribeiro, ex-jogador de futebol? Regressar ao futebol, seja em que função for, está nos seus planos?
PR: É igual à de qualquer comum dos mortais, dividida entre família, casa, trabalho e algumas "peladinhas" com amigos para matar saudades. No entanto, o futebol fará para sempre parte da minha vida. Não ponho de parte essa hipótese, mas, para já, é difícil conciliar.


A carreira de Ribeiro, aqui.

Um golo de Ribeiro ao serviço do Boavista, diante do Lourosa, na II Divisão:

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