quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Gama


Gama formou-se no Sp. Braga, mas foi no Rio Ave que construiu a sua carreira e ganhou "raízes".
Nome incontornável da história do clube de Vila do Conde, chegou lá pela primeira vez em 1992 e, volvidos vinte e quatro anos, ainda está ao serviço do clube verde-e-branco: foram quinze anos como jogador e já vão nove como treinador-adjunto da equipa principal.
Curiosamente, o verde-e-branco está marcado na vida do antigo avançado logo desde o início da carreira, ou não tivesse a sua estreia na I Liga sido diante do V. Setúbal, com a camisola do Sp. Braga, e quando ainda era júnior.
Entre 1987 e 1992, fez 22 jogos pelos minhotos na I Liga e marcou um golo, com um empréstimo ao Fafe pelo meio. Depois, rumou a Vila do Conde envolvido na saída de Toni para Braga, e foi lá que fez praticamente toda a sua carreira, com 206 jogos e 14 golos na I Divisão.
Ao serviço do Rio Ave, subiu duas vezes à I Liga, chegou às Meias-Finais da Taça de Portugal, e esteve presente na segunda volta sensacional que o clube fez em 96/97.
Foi, ainda, dez vezes internacional por Portugal entre os Sub-18 e Sub-21.
Aos 46 anos é, como já se disse, adjunto do Rio Ave desde 2007, altura em que colocou um ponto final na carreira, marcada, claro está, por quinze épocas consecutivas ao serviço dos vilacondenses.

Prémio Carreira: Era júnior quando foi lançado na I Liga, pelo Sp. Braga, na época 87/88. Recorda-se da sua estreia?
Augusto Gama: Sim, recordo. Entrei contra o V. Setúbal, em casa, e empatámos 2-2. O nosso treinador era o Manuel José, e o Braga tinha jogadores que eram grandes referências como Laureta, Jorge Gomes, Carvalhal, entre outros. E é claro que senti uma grande emoção em estrear-me na I Liga, em pleno Estádio 1º de Maio, perante os sócios do SC Braga.

PC: Até 1992, com um empréstimo ao Fafe pelo meio, nunca conseguiu ter verdadeiramente uma oportunidade para se fixar no Braga. Na sua opinião, o que falhou para não ter tido hipótese de se afirmar no 1º de Maio?
AG: No meu caso, penso que faltou ter uma sequência de oportunidades para jogar. Dou o exemplo de quando estive em Fafe, em que era jovem e tive essa sequência de oportunidades, e consegui impôr-me. Naquela altura, não era fácil um jovem ter muitas oportunidades, e o Sp. Braga vivia uma fase intranquila, precisava de resultados, e quando os clubes não estão bem, não arriscam em lançar jovens.

PC: Precisamente em 1992, saiu para o Rio Ave, que jogava na II Divisão de Honra. De todos os convites que teve, era a melhor opção? 
AG: Recordo-me que sai para Vila do Conde juntamente com o Barroso, em virtude do Toni, que era um ponta-de-lança cabo-verdiano, ter ido para o Sp. Braga. A diferença é que eu saí em definitivo e o Barroso foi emprestado. Tive outras propostas, mas a do Rio Ave foi a melhor que apareceu, tanto para mim, como para o Sp. Braga.

PC: Quando se estreou na I Liga pelo Rio Ave, em 96/97, o clube fez uma péssima primeira volta e uma espetacular segunda volta. O que mudou? Quais foram os "segredos"?
AG: O essencial foi tirarem-nos a pressão. Chegámos a uma altura em que a "obrigação" de ganhar deixou de existir, porque assumimos praticamente a descida de divisão. Quando ganhámos o primeiro jogo sentimos uma grande alegria, voltamos a unir-nos, e fomo-nos superando a cada jogo que fazíamos. O Rio Ave estava há muitos anos sem jogar na I Divisão, tínhamos jogadores com pouca experiência e havia muita pressão para garantirmos a manutenção. Praticamente fizemos o inverso do Espinho: tinhamos 7 pontos na primeira volta e acabámos com 35; e eles acabaram a primeira volta em quarto lugar com 27 pontos e descerem de divisão com 33. Essa permanência era, sem dúvida, algo impensável.

PC: Jogou quinze temporadas no Rio Ave, sete na Primeira Liga e oito na Segunda. Com certeza teve convites para sair. Por que razão nunca saiu?
AG: Essencialmente porque sempre me senti bem em Vila do Conde. Ainda apanhei aquela altura em que os clubes tinham a "carta" dos jogadores e não os deixavam sair a qualquer proposta que houvesse, tinha que ser mesmo uma proposta fora do normal. Mas o Rio Ave é um clube especial, um clube familiar, que proporciona todas as condições de trabalho a quem lá está. Naturalmente que tive várias propostas para sair, uma delas foi do Vasco da Gama do Brasil, que era treinado pelo Abel Braga, que já tinha sido meu treinador no Rio Ave, mas não houve acordo, e outras da I Liga, que fui rejeitando por opção minha. Mas não me arrependo de não ter saído.


PC: Quais são os momentos da sua carreira que mais destaca?
AG: Momentos positivos destaco as duas subidas pelo Rio Ave, em 95/96 e 02/03, e a recuperação que falámos anteriormente, em 96/97. Após o jogo em que garantimos a manutenção, na chegada a Vila do Conde, o autocarro não conseguia passar a ponte, porque estavam centenas de pessoas à nossa espera, e é um momento inesquecível para quem o viveu.
Os momentos negativos são as descidas de divisão pelo Rio Ave, em que ficámos sempre tristes tanto por nós como pelo clube que representámos porque não conseguimos os objetivos. E destaco também a chegada às Meias-Finais da Taça de Portugal em 99/00, em que estivemos perto de cumprir o sonho de ir ao Jamor, mas acabámos eliminados pelo FC Porto.

PC: Fez onze temporadas na I Liga. Qual foi a sua melhor?
AG: Sem dúvida a de 03/04, porque foi uma grande época não só da minha parte, como também da equipa. Praticávamos um futebol de muita qualidade, tinhamos um excelente grupo, e batemos nesse ano o recorde de pontos do Rio Ave na I Liga - 47. Curiosamente só na época passada é que esse recorde foi ultrapassado.

PC: Nessas onze épocas, fez 206 jogos e apontou 14 golos. Há algum jogo que recorde em especial?
AG: Sim, há dois: o jogo que nos garantiu a tal permanência na I Liga em 96/97; e um Varzim - Rio Ave, penso que em 97/98, que ganhámos 3-1, com golos de Emanuel, Quinzinho e Luís Coentrão, e que os adeptos ainda hoje se lembram e falam.

PC: E golos? Qual o golo na I Liga que não esquece?
AG: Não esqueço o golo que marquei ao Estrela da Amadora, em 02/03, que até foi na II Liga, mas que nos garantiu a subida de divisão. Dos que marquei na I Liga, recordo-me de um contra a Académica em 04/05, em que fiz um chapéu ao Pedro Roma, e ganhámos esse jogo por 3-1. Marcava poucos golos, mas diria que 90% dos golos que marquei foram de belo efeito.

PC: Sendo o Gama avançado, qual o defesa mais duro que apanhou? Ou aquele que era mais difícil de ultrapassar?
AG: Apanhei bastantes... Mas destaco o Bruno Alves, que era um jogador agressivo, e atleticamente muito forte, e que era muito difícil de ultrapassar, mesmo quando estava a iniciar a sua carreira, primeiro no Farense e depois no V. Guimarães.

PC: Certamente que ao longo da sua carreira, presenciou vários momentos divertidos. Há algum que se lembre e que possa contar?
AG: Uiii, são tantas histórias (risos). Recordo-me de um episódio que ocorreu no final de um treino no Rio Ave, em que estava a beber água juntamente com o Zé Gomes, e havia um colega nosso que usava um "pivot" dentário e que na altura em que ele estava a beber água, esse mesmo "pivot" soltou-se e ficou-lhe preso na garganta. Ele muito aflito começou a dizer "Gama não consigo respirar", e o Zé Gomes chamou o massagista que estava do outro lado do campo. Entretanto, eu dei um solavanco nas costas desse nosso colega e aquilo saiu-lhe. O massagista quando chegou, perguntou o que se estava a passar, e o Zé disse "foi ele que engoliu o aparelho", e ele pergunta "qual aparelho?", então o Zé, enervado, responde-lhe "olha, foi o aparelho da música" (risos).

PC: Desde 2007 trabalha como adjunto da equipa sénior do Rio Ave. É nessa função que quer continuar a estar ligado ao futebol ou gostava de ter outras?
AG: Eu sinto-me feliz só de estar ligado ao futebol, porque o futebol é a minha vida e algo que me dá prazer. Naturalmente que todos temos ambições, mas o que eu quero e gosto mesmo é de estar ligado ao futebol e ao Rio Ave.


A carreira de Gama, aqui.

Veja aqui, por volta dos 2:10 do vídeo, um golo de Gama ao Sporting:


Aqui, por volta do minuto 1:15, uma assistência de Gama diante do Benfica:


E o golo de Gama à Académica, aqui.

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