segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Sandro


Sandro Mendes é uma das grandes figuras da história do Vitória de Setúbal.
Ao todo e incluindo formação, o antigo médio representou o clube sadino durante dezasseis temporadas, nove delas na I Liga - 195 jogos - e, enquanto capitão, venceu duas Taças, tendo a particularidade de ter sido o primeiro jogador a levantar a Taça da Liga em Portugal - em 2008.
Aos 19 anos já era titular no escalão maior do nosso futebol e ao fim de cinco meses já estava a ser vendido para a I Divisão espanhola, mais concretamente para o Hércules, e em 2005 voltou a ser vendido pelo Vitória, desta feita ao FC Porto, onde não chegou a fazer nenhum jogo oficial.
Regressou a Setúbal e, em 2010, o seu vínculo como jogador ao serviço dos sadinos terminou de uma forma ingrata para Sandro, que ainda jogou mais duas temporadas, primeiro no Ceuta de Espanha e depois na Naval.
Internacional por Portugal em doze ocasiões, entre os Sub-20 e os Sub-21, acabaria por se tornar internacional A ao serviço de Cabo Verde.
Foi seleccionador português de Mini-Football, uma vertente de futebol que em Portugal ainda está um pouco "escondida" e, atualmente, aos 39 anos, é treinador dos Juvenis do Vitória de Setúbal, já depois de ter sido coordenador da formação sadina, e de ter orientado os seniores do Alcacerense. 

Prémio Carreira: Estreou-se na I Liga pelo V. Setúbal em 1996. Recorda-se do jogo de estreia?
Sandro Mendes: É verdade, a minha estreia na I Liga deu-se em 1996, depois de dois anos fantásticos, um ainda Júnior, onde o Vitória, infelizmente, perdeu o título de Campeão Nacional da I Divisão de Juniores na secretaria, e o outro sendo a minha estreia como Sénior, onde atingimos o objectivo que era a subida de divisão da II para a I Liga.
Chega a estreia na I Divisão, no antigo Estádio das Antas, e lembro-me muito bem desse jogo por vários motivos, um deles é que ao minuto 90' estávamos a ganhar por 0-2, e ao minuto 99' o FC Porto lá empatou. Se não tivesse empatado acho que ainda hoje lá estávamos a jogar (risos).

PC: Fez apenas meia época na I Liga e mudou-se para Espanha, onde esteve quatro épocas e meia e representou três clubes. Que memórias guarda da passagem por Espanha e qual o clube que mais o marcou?
SM: Sim, passado meia época na I Liga portuguesa, mudei-me para a I Liga espanhola, onde representei três clubes. Sendo o primeiro o Hércules de Alicante, onde faço a minha estreia logo contra o FC Barcelona, em Camp Nou, onde actuavam na altura Ronaldo Fenómeno, Luís Figo, Guardiola, De La Peña, Vítor Baía, entre outros, e tive a felicidade de vencer esse mesmo jogo por 2-3.
Todos me marcaram de uma maneira ou de outra, o Hércules por ter sido o primeiro e onde passei mais tempo, o Villarreal por ser a primeira vez que o clube estava na I Liga, mas onde passei menos tempo, e acabei em Salamanca num ano que pessoalmente me correu muito bem.

PC: Em 2000 dá-se o regresso a Portugal e ao V. Setúbal. Porquê esta opção?
SM: Foi uma altura complicada da minha vida onde já estava a algum tempo fora e sozinho, visto que sai de Portugal com 19 anos completamente só, sem a companhia de nenhum familiar e, infelizmente, não existia a facilidade em comunicar como há hoje. E isso para mim não foi fácil, pois estava longe dos meus amigos, da minha família e da minha cidade. Quando terminou a época 1999/2000 estava em Salamanca, e depois de uma época a nível pessoal muito boa, não cheguei a acordo com a direção sobre verbas, entre os desacordos, uns dias mais perto outros mais longe, surge uma conversa com um diretor do Vitória e deu-se a hipótese do regresso ao meu clube e à minha cidade, e não pensei duas vezes. Passado dois dias estava em Setúbal a acertar a minha vinda para o Vitória.

PC: Reforçou o FC Porto em 2005, mas nunca chegou a jogar oficialmente, acabando por ser dispensado. Na sua opinião, o que falhou para não ter ficado nos "Dragões"?
SM: De todos os clubes por onde passei foi o único que não joguei, porque nem sequer me deram essa oportunidade. Fiz a pré-época, que até me correu bem, onde o treinador nos jogos de treino sempre me "usou" na posição de central, não faço ideia do porquê, e quando chegou ao fim da pré-época, em conversa me diz que eu não iria ser uma das suas primeiras opções e que o melhor seria "rodar" para poder continuar a jogar, e foi isso que fiz. Na altura tentei voltar ao Vitória, mas por vontade de quem cá estava na altura não regressei, e simplesmente continuei a minha vida.

PC: Do FC Porto seguiu para a Turquia, e em Janeiro já estava de regresso ao seu Vitória. Não gostou da experiência em solo turco?
SM: Foi uma experiência diferente, num país completamente diferente e uma cultura que nada tem a ver com a nossa. Fica a experiência, ficam algumas amizades, mas não me adaptei e preferi regressar.

PC: Saiu novamente do V. Setúbal, desta vez em definitivo enquanto jogador, em 2010. Sente que não lhe "deixaram" terminar a carreira como desejava?
SM: Depois de tantos anos no clube, onde tive a felicidade de ser vendido e com isso ajudar o clube por duas vezes, a primeira por um milhão e duzentos mil dólares - não existiam euros ainda :) - e, posteriormente, ser um dos jogadores que saiu (juntamente com o Jorginho e o Paulo Ribeiro) para o FC Porto por mais um milhão de euros, tive três subidas de divisão e uma descida, venci uma Taça de Portugal, uma Taça da Liga, entre tantas outras coisas...
Sinto que merecia um pouco mais de respeito, não por ter saído, mas sim pela maneira como saí. Quando terminei a época, falei com o treinador - Manuel Fernandes - o qual me disse que contava comigo para a próxima época e que já o tinha transmitido à direcção, para estar tranquilo que estava tudo "certo", mas no final, a meia dúzia de dias para começar a época seguinte, disseram-me que "não tinham nada para mim". A vida é assim, não guardo mágoa nem rancor de ninguém, simplesmente gostava de me ter despedido de outra maneira dos sócios e da massa adepta do Vitória.


PC: Ao serviço do V. Setúbal, venceu uma Taça de Portugal e uma Taça da Liga, e esteve noutra final no Jamor. Qual dessas conquistas o marcou mais?
SM: Sem dúvida nenhuma a Taça de Portugal, por tudo... por ser a minha primeira grande conquista, por ser a festa rainha do futebol português, por ter passado tantos anos (penso que 38 anos entre a segunda e esta que foi a terceira), por poder ter marcado uma geração que, como eu, nunca tinha visto o Vitória ganhar nada, por ter podido actuar os noventa minutos e ter contribuído muito para essa conquista, e por tantas outras coisas! Claro que conquistar a Taça da Liga também me marcou e também tem muita importância, ainda por cima sendo a primeira, tem um sabor especial. Mas a Taça de Portugal foi a Taça de Portugal.

PC: Foi internacional por Portugal nas seleções jovens, mas em 2004 tornou-se internacional por Cabo Verde. Como surgiu a possibilidade de representar os "Tubarões Azuis" e quando é que percebeu que dificilmente seria opção para Portugal?
SM: Em 2004 saiu uma lei que permitia a todos os jogadores que nunca tivessem actuado na seleção A de um país e tivessem dupla-nacionalidade, poderiam optar por jogar por outro país. Eu, como tenho pai cabo-verdiano e podia pedir a nacionalidade cabo-verdiana, surgiu-me esse convite, achei interessante e aceitei com enorme orgulho. Joguei alguns anos pelos Sub-21 portugueses e, com o passar do tempo, existiu a possibilidade de jogar pela Seleção B ou Sub-23, não sei o nome que davam a essa seleção, mas a verdade é que nunca fui opção e, sendo assim, com o convite e a possibilidade de representar outra Seleção, optei por Cabo Verde.

PC: Qual foi o melhor momento da sua carreira?
SM: Felizmente tive muitos, mas sem dúvida nenhuma, o melhor foi a conquista da Taça de Portugal.

PC: Venceu duas Taças, chegou a um "grande" português, jogou na Primeira Divisão Espanhola, representou Portugal e Cabo Verde... ficou algo mais por alcançar?
SM: Por alcançar fica sempre algo... Foi bom, poderia ser sempre melhor, mas também poderia ter sido pior ;) Com muito trabalho, com muita sinceridade, fui traçando o meu caminho, e hoje, sinto-me realizado com o que conquistei, vindo de onde vim.

PC: Realizou nove épocas na I Liga, qual foi a melhor?
SM: A melhor não é fácil encontrar. Sei bem qual foi a pior: a descida de divisão com o Vitória em 02/03.
Agora a melhor é complicado, pois subi de divisão por três vezes, por duas vezes ajudei a apurar o Vitória para a Liga Europa, as duas finais da taça de Portugal, a primeira Taça da Liga... até as permanências na última jornada deixaram a sua marca.

PC: Quem foi o melhor jogador que defrontou?
SM: Tantos... entre eles, Cristiano Ronaldo e Messi.

PC: Que história vivida no futebol pode/quer contar?
SM: Tantas e tantas histórias que poderia contar, mas a verdade é que nunca fui um bom contador de histórias, e por isso, deixo essa parte para os outros (risos).

PC: Foi seleccionador de Portugal de Mini-Football. Para quem não sabe o que é, como funciona esta vertente do futebol? Como analisa a experiência que teve?
SM: É uma realidade diferente, é futebol de seis, que em Portugal ainda não existe. É um contexto diferente, mas de onde se pode tirar muita coisa. A experiência foi muito boa e bastante positiva. 

PC: Já foi coordenador da formação do Vitória, e atualmente é treinador dos Juvenis. O futuro passa por continuar a ser treinador?
SM: O futuro passa por continuar ligado ao futebol, onde sinto que posso ser útil e me sinto bem.


A carreira de Sandro, aqui.

Alguns dos melhores momentos da carreira de Sandro e a conquista da Taça de Portugal:

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