Diogo Luís ficará sempre para a história como o primeiro jogador que José Mourinho lançou oriundo da formação do clube que orientava.
Aposta do "Special One" no Benfica, o antigo defesa-esquerdo fez uma boa temporada ao serviço das "Águias", mas uma lesão na época seguinte ditou que fosse acabar a temporada ao Alverca.
Ainda passou dois anos no Beira-Mar emprestado pelos encarnados, antes de jogar quatro épocas na II Liga, ao serviço da Naval - por quem subiu à I Liga -, do Estoril e, novamente, do Beira-Mar.
Regressou ao palco mais alto do nosso futebol em 2008, pela mão do clube que haveria de ser a sensação dessa época: o Leixões. Porém, a meio da época, deixou o emblema matosinhense e rumou a Chipre.
De regresso a Portugal, e sem ofertas que lhe agradassem, Diogo Luís decidiu, aos 28 anos, terminar a carreira de futebolista e dedicar-se a cem por cento à economia, área na qual se formou.
A sua carreira até se começou a fazer no lugar de médio/extremo esquerdo, mas o recuo para lateral, além de lhe abrir as portas da equipa principal do Benfica e da I Liga, "valeu-lhe", também, quinze internacionalizações e quatro golos pelas seleções jovens de Portugal.
Aos 36 anos não descura o regresso ao futebol "no campo", mas, até lá, podemos vê-lo enquanto comentador desportivo n'ABOLA TV e, ocasionalmente, na BenficaTV.
Prémio Carreira: Em 2000, depois de ter começado a época na equipa B do Benfica, é chamado por José Mourinho à equipa principal. Recorda-se de todos esses momentos e da sua estreia na I Liga?
Diogo Luís: Sim, recordo-me de praticamente tudo. Tive a oportunidade de viver um sonho de criança. Recordo-me dos primeiros treinos, do impacto positivo que causei, das primeiras conversas com o José Mourinho, do momento em que me comunicou que ia jogar a titular, e do jogo de estreia com o Sp. Braga na Luz.
PC: Na temporada seguinte, começa bem a temporada, lesiona-se e acaba por sair, em Janeiro, para o Alverca. A decisão de sair foi sua?
DL: A decisão foi minha mas tive um 'empurrão'. Tive uma rotura muscular e ainda não estava curado - estava há três meses parado. Entretanto, no último dia do mercado de Janeiro, fui chamado pelo treinador (Jesualdo Ferreira) que me referiu que ou ia para o Alverca ou para a equipa B. Naquele momento, a poucas horas do fecho das inscrições e, tendo em conta a pouca experiência que tinha, optei por continuar a jogar na Primeira Liga. Foi um momento complicado, porque ainda nem estava a 100%. Tive de continuar a minha recuperação em Alverca, reestabelecer os índices competitivos de forma a poder jogar, isto num ano em que faltavam três meses para acabar o campeonato, uma vez que estávamos em ano de Mundial. Se fosse hoje, possivelmente, teria tido outra decisão.
PC: Depois do Alverca, seguem-se duas épocas de empréstimo ao Beira-Mar, em que fez apenas 26 jogos nesses dois anos. Dentro do ponto de vista desportivo, a experiência foi bem ou mal sucedida?
DL: A experiência foi positiva. Fui para uma cidade fantástica e para um clube que tinha uma grande empatia com a cidade. Encontrei um balneário experiente (era novamente o mais novo) e amigo.
Este 'passo' obrigou-me a crescer em todos os aspetos (pessoal e profissional). Em termos desportivos foram anos agri-doces. No primeiro ano, quando cheguei senti que não era a opção inicial do treinador. Tive de trabalhar muito. Muitas vezes ficava sozinho no relvado a preparar-me de forma a poder estar à altura quando fosse chamado. A primeira época não estava a correr bem ao Beira-Mar e, no primeiro jogo da segunda volta, tive a minha oportunidade, numa altura em que nos estávamos a 'afundar' na tabela classificativa (estávamos abaixo da linha-de-água). Até ao fim do campeonato fui sempre titular e contribuí para que o Beira-Mar conseguisse a manutenção. Senti que o meu trabalho desbloqueou a minha situação, uma vez que foi por aquilo que fazia nos treinos que 'obriguei' o treinador a dar-me uma oportunidade. No segundo ano, comecei de início, mas ao fim de duas jornadas, saí da equipa, sem perceber muito bem o motivo. Não foi um momento fácil, mas continuei sempre a esforçar-me e a auto-motivar-me. Durante essa época tivemos (o Beira-Mar) momentos muito bons e tive de aguardar pacientemente pela minha oportunidade, contribuindo para o bom ambiente de grupo e fazendo o meu trabalho de uma forma profissional e competitiva. Quando faltavam dez jogos para o fim do campeonato, o treinador chama-me e diz que vou jogar, porque o jogador que jogava na minha posição já tinha sido vendido. Nesse momento percebi um conjunto de acontecimentos que se tinham verificado ao longo desta época.
No geral, foram duas épocas positivas, porque gostei muito da cidade, do clube, dos adeptos e do balneário que encontrei. O ponto negativo, foi o facto de jogar numa posição de um jogador que a direção tinha definido que seria o próximo a ser vendido.
PC: Findo o empréstimo e em fim de contrato com o Benfica, esperava voltar à Luz para ficar, ou já contava não fazer parte das opções do clube?
DL: Quando terminou o empréstimo já não contava regressar. Ao longo dos dois anos que tive em Aveiro, não tive contacto com nenhum dirigente. Este foi um dos pontos negativos. Nos dias de hoje, entendo que estas situações já não sucedem. Quando um jogador é emprestado, deve-se ter em conta a sua forma de atuar e o seu potencial de crescimento e tentar encontrar um clube que se enquadre nos objetivos pretendidos, de forma a existir um crescimento natural. Por outro lado, é importante existir um acompanhamento próximo do clube que empresta o jogador, através de contactos regulares e de reuniões com os clubes aos quais os jogadores são emprestados, de forma a analisar de uma forma cuidada e criteriosa a evolução do jogador e, se faz sentido, continuar emprestado ou regressar à 'casa mãe'.
PC: Está quatro temporadas na II Liga e regressa à I, em 2008, para o Leixões. Não teve oportunidades, em épocas anteriores, para voltar ao nosso principal campeonato?
DL: Depois de sair do Beira-Mar, fui para a Naval, onde participei num feito histórico, a subida da Naval à Primeira Liga. Nos dois anos seguintes estive no Estoril. Estes dois anos foram complicados, em virtude das dificuldades financeiras que o clube atravessava. Como grupo, tivemos um comportamento fantástico. Num ano em que desciam seis equipas, jogámos vários jogos com apenas onze jogadores, entre os quais um guarda-redes a avançado, e conseguimos manter 'o barco'. Os onze que ficaram tinham uma personalidade e profissionalismo muito fortes e foi isso que permitiu assegurar a manutenção a duas jornadas do fim do campeonato.No quarto ano regressei ao Beira-Mar e o clube estava irreconhecível. O distanciamento com a cidade também era uma realidade. Tive a sorte de trabalhar com dois treinadores que foram importantes para mim, Rogério Gonçalves e Paulo Sérgio. Praticávamos bom futebol e, em função disso, destaquei-me, surgindo o interesse de vários clubes, entre os quais o Leixões.
PC: Representou o Leixões durante meia época e rumou ao Apollon Limassol, do Chipre. Porquê esta "troca"? Como correu a experiência?
DL: Esta troca surgiu em função do que se estava a passar. A época estava a correr bem para o Leixões, estávamos em primeiro lugar, ganhávamos quase todos os jogos, mas não estava a jogar. Surgiu a oportunidade de jogar no Chipre com um proposta financeira superior à que tinha em Portugal. Acabei por optar por uma questão financeira. Em termos desportivos encontrei uma realidade completamente diferente.
PC: Quando regressou de Chipre, aos 28 anos, terminou a carreira. O que o levou a tomar esta decisão tão cedo?
DL: Quando regressei ainda tive alguns convites, entre eles o Fátima, que era treinado por Rui Vitória. Na altura não chegámos a acordo e acabei por colocar um ponto final na carreira. Foi uma decisão ponderada, tendo por base os vencimentos que se pagam na maioria dos clubes da Segunda Liga e mesmo de alguns da I Divisão. Depois, a vertente familiar também teve um grande peso, uma vez que já tinha um filho pequeno e estava sempre fora de casa. Optei por ficar junto da família e iniciar uma carreira, antecipando um futuro que teria de acontecer, mas com uma idade que me podia proporcionar mais oportunidades.
PC: Quais são os momentos da sua carreira que mais destaca?
DL: Os momentos mais marcantes foram a estreia (com o Braga) na equipa principal do Benfica, e os jogos com Sporting, Porto e Boavista em casa com o estádio cheio, e a oportunidade que tive de ter jogado nos diferentes escalões das Seleção Nacional (até aos Sub-21). O ponto mais negativo foi a lesão que acabou por originar a minha saída do Benfica. Naquela fase estava num bom momento de forma. Esta lesão acabou por ter uma grande influência no desenvolvimento da minha carreira desportiva.
PC: Das cinco épocas que fez na I Liga, qual elege como a sua melhor?
DL: A primeira época foi muito boa, sobretudo a primeira fase. Em termos individuais, destaco também a primeira época no Beira-Mar. Num contexto difícil, consegui impor-me e ser fundamental para a permanência do clube na I Liga. Em termos coletivos e, apesar de não ter jogado com regularidade, a época no Leixões também foi fantástica. Quando saí do clube estávamos em primeiro lugar no campeonato ao fim de catorze jornadas.
PC: Qual o melhor extremo que defrontou?
DL: É difícil escolher apenas um. Defrontei grandes jogadores com características diferentes. Lembro-me, especialmente, das 'guerras' com o Capucho nos jogos contra o Porto.
PC: Foi a primeira aposta de José Mourinho oriunda dos escalões de formação. De que forma este "registo" o marca?
DL: Essa foi a primeira coisa que o José Mourinho me disse: “Vais ser o primeiro jogador que vou lançar e eu serei o treinador que te lançou”. O primeiro treinador a apostar em nós no futebol profissional tem sempre um grande simbolismo, neste caso ainda mais por ser o treinador que é e que sempre foi. Desde os tempos do Benfica que percebíamos que era diferente e que estava um passo à frente de todos.
PC: Que história vivida no futebol pode/quer partilhar?
DL: Vou optar por não descrever nenhum episódio em especial. Prefiro apenas realçar que uma das coisas que tenho mais saudade, é a convivência no balneário, onde se vivem momentos especiais e que ficam para sempre na memória.
PC: Atualmente a sua relação com o futebol resume-se ao papel de comentador desportivo, nomeadamente n'ABOLA TV. Não planeia regressar ao futebol noutras funções?
DL: Efectivamente, atualmente, mantenho-me “ligado” ao futebol como comentador n´ABOLA TV. Tem sido uma experiência muito boa e será para continuar. Relativamente ao futuro e à possibilidade de exercer outras funções, nunca se sabe. Tenho o segundo nível de treinador, tenho uma licenciatura em economia e tenho experiência e conhecimento do mundo de futebol (teórico e prático), o que poderá ser uma mais-valia para muitas organizações/instituições. Nunca se sabe o futuro, mas, naturalmente, se surgir um projecto interessante que me permita estar ainda mais ligado ao futebol (que continua a ser uma das minhas paixões), certamente irei analisar e tomar uma decisão.
A carreira de Diogo Luís, aqui.
Os melhores momentos de Diogo Luís na I Liga em vídeo:
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