quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Idalécio


Idalécio jogou onze anos consecutivos na I Liga, tendo representado durante esse período, quatro equipas: Farense, Sp. Braga, Nacional e Rio Ave.
Durante o tempo em que alinhou ao mais alto nível, o algarvio de 42 anos ganhou a alcunha de "Bom Gigante" por ser um defesa-central de elevada estatura e de grande porte físico e, ao mesmo tempo, um profissional muito correto e "leal" na disputa dos lances.
Revelado pelo Louletano, Idalécio chegou a internacional Sub-18 por Portugal, quando representava o Almancilense, na extinta III Divisão Nacional, precisamente por empréstimo do emblema de Loulé.
Ajudou o Sp. Braga a chegar à final da Taça de Portugal na temporada 97/98, e quatro anos mais tarde ficou perto de repetir a proeza, quando os minhotos foram afastados na Meia-Final, pelo Leixões, que jogava na II Divisão B.
Em 2002 foi noticiada a sua possível transferência para a Premier League, mas quis o destino que Idalécio viesse mesmo a viver em Inglaterra: em 2013 emigrou para Londres, onde atualmente trabalha num dos restaurantes mais famosos da capital inglesa.

Prémio Carreira: Foi contratado pelo Farense, ao Louletano, em 1995. Como surgiu a oportunidade de jogar na I Liga?
Idalécio Rosa: Essa oportunidade surgiu através do contacto do Sr. Manuel Barbosa (falecido agente de futebol, que a sua alma descanse em Paz). Ele era, naquela altura, um empresário de futebol com muito sucesso, e tive a felicidade de poder assinar um contrato com ele, para me poder ajudar na gestão da carreira durante vários anos.

PC: Recorda-se do primeiro jogo que fez no escalão maior do nosso futebol?
IR: Sim, tenho uma vaga ideia, já lá vão uns aninhos (20/21). Julgo ter sido contra o Tirsense, no São Luís, à noite.

PC: Após um ano em Faro, rumou ao Sp. Braga. Porquê esta transferência?
IR: Sim, é verdade, julgo que a época de estreia na Primeira Liga foi positiva e, sendo o Sr. Barbosa natural de Braga e com fortes ligações ao clube, e com um treinador com grande conhecimento do futebol nacional - o mister Cajuda -, essa possibilidade acabou por surgir e arrisquei em mudar de ares. Felizmente julgo ter sido muito positivo para mim.

PC: Foi uma das grandes figuras do Braga durante seis temporadas, mas quando saiu em 2002, houve alguma "confusão" relativamente à sua situação contratual. O que se passou?
IR: Foi com muita pena minha que na altura saí do SC Braga, ainda por cima depois de seis épocas onde sempre dei o meu melhor e sempre senti o respeito, carinho e admiração dos adeptos. Mas quem anda no futebol sabe como é, toda a gente de um momento para o outro muda, seja para jogadores, seja para treinadores, seja para os clubes... resumindo: é mais difícil do que o que se pensa. Mas, de facto, no ano da minha saída coincidiu com a saída do Sr. João Gomes Oliveira, o presidente que apostou na minha ida para o clube. O que aconteceu já lá vai, mas só eu e os responsáveis que entretanto assumiram aquele período de muitas mudanças e reorganização, sabemos o que se passou. Não existe qualquer mágoa agora passados tantos anos, mas na altura não foi fácil. Felizmente pude continuar a dar o meu melhor por outras equipas. Enfim, são coisas que fazem parte da vida de jogador.

PC: Nessa mesma época, em 01/02, o Sp. Braga eliminou o FC Porto da Taça e tinha fortes possibilidades de chegar à final, mas acabou eliminado, em casa, pelo Leixões, da IIB. Na sua opinião, o que falhou para não vencerem?
IR: Foi uma grande alegria naquela altura ir às Antas e eliminar o poderoso FC Porto, mas depois perder com o Leixões da II Divisão B na eliminatória seguinte (Meia-Final), é que foi um grande balde de água fria para muita gente, mas especialmente para nós jogadores, pois não havia ninguém mais do que nós a querer alcançar a final. Mas o Leixões na altura era muito bem orientado pelo mister Carlos Carvalhal, e tinha uma equipa de grande qualidade com vários jogadores com muita experiência de I Liga, ganhou-nos com todo o mérito, e assim não conseguimos chegar novamente à final no Jamor.

PC: Quando saiu do Braga, foi associado a vários clubes britânicos como Coventry, Bolton e Celtic. Estas hipóteses chegaram mesmo a surgir ou não passaram de rumores? 
IR: Sim, é verdade que surgiram uns empresários estrangeiros e mantivemos alguns contactos e encontros a falar com insistência nessa possibilidade, mas nunca surgiu nada de concreto. Embora tivessem sido enviados alguns olheiros para me observarem, segundo ia sendo noticiado nos jornais naquela altura, não tinha que acontecer...


PC: Seguiu-se o Nacional, por uma temporada, e depois o Rio Ave durante três anos. Foram as melhores opções para dar continuidade à sua carreira na I Liga? 
IR: Sim, foram, e julgo terem corrido muito bem essas apostas. Eram clubes que apostavam na afirmação na I Liga e acho ter contribuído para isso. Tenho um orgulho enorme de ter representado todos esses clubes (Nacional e Rio Ave) depois do SC Braga. Todos eles, entretanto, tiveram um crescimento impressionante. É uma enorme satisfação estar agora do lado de fora a torcer pelas suas conquistas e assistir ao seu crescimento.

PC: De todos os momentos que viveu no futebol, qual destaca como o melhor? 
IR: O apuramento para as competições europeias pelo SC Braga, em que ficamos em quarto lugar no campeonato - 96/97 -, e depois a participação na Taça UEFA, na época seguinte, por este mesmo clube.

PC: E qual foi a maior mágoa da sua carreira? 
IR: Para mim, sem dúvida, a derrota com o Leixões nas Meias-Finais da Taça de Portugal.

PC: Das 11 épocas que fez na I Liga, qual destaca? 
IR: Todas foram bastante positivas. Mas a que destaco, é a época que realizei no Rio Ave, em 04/05, onde fui o totalista do campeonato (jogador com mais minutos da I Liga) com 31 anos.

PC: Qual o melhor ponta-de-lança que defrontou?
IR: Jardel.

PC: Que história vivida no futebol pode/quer contar?
IR: Houveram muitas, naturalmente... Mas há uma que ficará para sempre na minha memória e que tem a ver com a dificuldade enorme que eu tinha em arranjar botas de futebol com o meu número (47). Essa ficará para sempre na minha memória.
E na minha estreia na I Liga, pelo SC Farense, tive a felicidade de me poder estrear logo nas competições europeias frente ao Ol. Lyon, e lembro-me como se fosse hoje: o Jorge Soares, meu ex-colega no Farense, teve que me emprestar umas botas de píton de alumínio já utilizadas por ele e em que com alguma dificuldade o meu pezinho de cinderela, como lhe costumo chamar, lá entrou e pude jogar sem correr o risco de escorregar e pôr a equipa em perigo (risos). Na segunda mão, quando fomos a França, lá fiz os directores andarem comigo nos centros comerciais a ver se conseguia encontrar umas botas que me servissem...

PC: Está emigrado em Londres há três anos e trabalha num local que lhe permite ter contacto diário com muitas pessoas do futebol Mundial. Gostava de voltar a desempenhar funções no "Mundo do futebol"? 
IR: Sim, vim em Março de 2013 há procura de trabalho, e não fazia ideia do que ia encontrar... primeiro, arranjei trabalho num casino durante seis meses, depois um rapaz reconheceu-me de Portugal e do futebol, e arranjou-me emprego num café/restaurante em que ele trabalhava. Estive lá durante um ano e meio até chegar à posição de Assistant Manager, mas arrisquei mais um pouco e mudei-me, em Junho de 2015, para o Novikov Asian Restaurant, que foi considerado o melhor restaurante de Londres em 2015. Neste momento pertenço à equipa de supervisores do restaurante, com a responsabilidade da área do pass (zona de onde sai toda a comida vinda dos chefes de cozinha para os clientes). São inúmeras as figuras nacionais e internacionais que passam todos os dias pelo restaurante, não só do futebol, assim como actores e outros... é um Mundo só visto!
Claro que o bichinho do futebol está cá dentro. Não foram 20 dias, foram 20 anos, e sinto que estou no sítio certo (País das oportunidades e conquista de sonhos) para que um dia possa surgir algo. Mas se não surgir, também não tem mal, pois estou a gostar imenso do que faço e das pessoas que me rodeiam no dia-a-dia, assim como tenho o apoio incondicional da minha família (Mulher e filhas), tenho muito orgulho nelas e sei que elas têm muito orgulho em mim. Tudo o resto não importa! Como eu costumo dizer: haja saúde...


A carreira de Idalécio, aqui.

Um pequeno resumo da carreira de Idalécio em vídeo:

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