sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Riva


Ao fim de cinco meses de existência, o Prémio Carreira decidiu 'alargar os horizontes' e entrevistar, pela primeira vez na sua história, um dos muitos estrangeiros que marcaram o futebol português.
Atravessámos o Atlântico e chegámos a Riva: o antigo extremo brasileiro jogou oito anos em Portugal, representou os grandes rivais minhotos Guimarães e Braga, e foi dando cartas através da velocidade e técnica que possuía.
Foi Vítor Urbano quem lhe abriu as portas de Portugal, em 1993, quando o trouxe para o Paços, e seria o mesmo Vítor Urbano a "repescar" Riva para o nosso futebol, dois anos mais tarde, em 1995, trazendo-o para o Chaves.
Seguiram-se quatro anos em Guimarães, onde privou, entre outros, com Branko Milovanovic, um talento incompreendido (ou mal aproveitado?) que passou pelo futebol português. Com uma grande história na 'Cidade Berço', trocou o Vitória pelo Braga em 2000, onde viria, dois anos mais tarde, a despedir-se do futebol nacional, regressando ao seu País para vestir a camisola da Ponte Preta.
Com mais de 200 jogos e 28 golos no nosso principal campeonato, Riva fez grande parte da sua carreira em Portugal e só tem elogios para tudo o que viveu por terras lusas.
Aos 46 anos, é treinador e responsável pelo projeto Riva Sports, uma espécie de escola de futebol que vai ajudando a integrar e a "lançar" os jovens de Itabira, sua cidade-natal.

Prémio Carreira: Maior parte dos portugueses recorda-se de si em Guimarães, mas foi o Paços de Ferreira que o trouxe para Portugal. Como surgiu a oportunidade de vir jogar para cá?
Riva Silva: Olha, surgi para o futebol no Valério Doce de Itabira, e fui considerado o melhor jogador de base de Minas Gerais. Aí, o Cruzeiro me contratou para disputar o campeonato brasileiro. Depois do campeonato terminar, o empresário Adelson, junto com mister Vitor Urbano do Paços de Ferreira, me contratou por empréstimo.

PC: E na estreia na I Liga, marcou logo um golo...
RS: Sim, contra o Gil Vicente. Lembro que foi um dia especial, pois era a minha estreia e o mister disse que ia fazer um golo. O estádio da Mata Real estava lotado de adeptos. Foi uma festa. Mas quando cheguei aí, no primeiro jogo amistoso que fiz, contra o CSKA Sófia da Bulgária, fiz dois golos também.

PC: No fim da época deixou Portugal e voltaria um ano depois para jogar no Chaves. Porquê este "intervalo" na passagem por cá e porquê o Chaves na hora do regresso?
RS: Voltei ao Brasil, pois o Paços não tinha capital para comprar o meu passe, e a direção do Paços mudou. Ai fui jogar no América, no campeonato estadual. Num belo dia, depois do treino, chega meu grande amigo mister Urbano e perguntou pra mim: "Quer voltar para Portugal mais uma vez para trabalhar comigo?" Na mesma hora aceitei. Mister Urbano me ajudou muito.

PC: Depois surgiu a mudança para o Guimarães...
RS: Olha, você jogar por dois clubes que disputavam a permanência na I Liga e receber um convite de um grande clube como o V. Guimarães, que disputa competição europeia... aceitei na hora! Devo muito ao Paços e ao Chaves o meu crescimento como atleta, e os adeptos deles tem meu carinho e respeito, mas o Vitória era uma grande oportunidade.

PC: O que mais destaca dos anos que passou em Guimarães?
RS: Clube grande, adeptos fantásticos, cidade belíssima. Joguei ao lado de jogadores consagrados. Fui muito feliz lá. Grandes jogos, grandes golos. Conquistei o respeito de todos lá. Classificámos todos os anos o clube para as competições europeias. Cumpri meu dever com o clube. Vitória me projetou para a Europa.

PC: E o Milovanovic era assim tão craque como se falava?
RS: Era diferenciado. Uma classe maravilhosa! Grande amigo que fiz. Eu acho que faltou mais oportunidade e sequência para ele jogar. Tinha concorrência grande lá, como o Vítor Paneira e outros. Cada treinador tem um esquema de jogo diferente. Os dois marcavam pouco, mas chegaram a jogar juntos. Dois talentosos sem dúvida nenhuma.

PC: Curiosamente no último ano em Guimarães foi quando fez mais golos, oito, e mesmo assim saiu para o... Braga. Os adeptos reagiram bem a esta troca?
RS: Sim, no meu último ano, o Professor Quinito me deu mais liberdade de atacar. Antes defendia mais, cumpria outras funções. Mas aprendi muito e cresci como jogador claro.
Apenas sai do Vitória porque o Paulo Autuori não ia contar comigo. Fiquei triste, os adeptos também. A vida é assim. Só saí por isso. Muitos adeptos  não acreditaram, pois saiu eu, o Edmilson, o Brandão. O ataque todo saiu, lembra?


PC: E o Braga era a melhor opção?
RS: Tive outros clubes, mas o projeto do Sp. Braga, naquele momento, era a melhor opção. Quero ressalvar aqui que a minha passagem no Braga foi fantástica também.

PC: O Braga naquela altura tinha muitos brasileiros de qualidade: Edmilson, Zé Roberto, Barata, Miran, o próprio Riva...
RS: Sim, verdade! Jogadores de alto nível que nos demos muito bem, dentro e fora do campo.

PC: E os 'grandes' de Portugal nunca o convidaram?
RS: Uma vez o Benfica, mas o Pimenta Machado não aceitou. Disse que me venderia para Itália, e aí nunca me disse porque não fez o negócio. Tem meu respeito, claro, mas era complicado lidar com ele.

PC: Jogou oito épocas em Portugal. Qual destaca como a sua melhor?
RS: Eu não gosto de dizer qual foi a melhor, porque todas foram o máximo. Cumpri todos os objetivos que tinha em cada uma delas. Mas o jogo te digo: Vitória x Parma, em Guimarães. Ganhámos 2-0. Foi lindo! Fiz um jogo fantástico, tal como toda a equipe.

PC: E golos? Quais recorda em especial?
RS: Todos golos que fazia contra FC Porto, Boavista, Sp. Braga... tinha sorte contra essas equipes. O mais bonito foi contra o FC Porto, no Vítor Baía.

PC: Quais os momentos da carreira que mais destaca?
RS: Positivos foi ter um sonho de ser jogador e fui, jogar no Cruzeiro, jogar na Europa, disputar competições europeias, conhecer o Mundo... enfim, desfrutar o que Deus me deu. 
Negativo foi machucar o joelho com 33 anos e não recuperar. Mas agradeço a Deus por tudo.

PC: Qual o defesa mais difícil que enfrentou?
RS: Fernando Couto.

PC: Que balanço faz da passagem por Portugal? Valeu a pena ter jogado cá?
RS: Foi uma passagem maravilhosa! Povo maravilhoso. Futebol de alto nível. Agradeço a todos treinadores, adeptos, jogadores que conheci. Muitos amigos que fiz! Minha carreira 90% foi feita em Portugal. Portugal tá na minha vida e no meu coração. Nada a reclamar de vocês, nada!

PC: Que momento mais divertido viveu em Portugal e quer partilhar?
RS: Rapaz, viajar para a ilha da Madeira era difícil, tinha medo! A malta ria de mim demais. Gostava de andar de avião, mas a pista lá era pequena...

PC: Neste momento é treinador e lidera a Riva Sports. Ambiciona treinar em Portugal? 
RS: Coloco tudo na mão de Deus. Estou preparado para tudo. Quem sabe treinar ou levar um jogador para Portugal... 
Quero aproveitar para enviar um abraço para todo o povo português!


A carreira de Riva, aqui.

Veja aqui, logo no início do vídeo, um golo de Riva, pelo V. Guimarães, ao FC Porto:


E aqui, por volta dos 2:35 do vídeo, um golo de Riva, pelo Sp. Braga, ao Boavista:

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