sábado, 11 de fevereiro de 2017

Tony


Tony é o Senhor que se segue no Prémio Carreira.
Formado na cantera do Paris Saint-Germain, o antigo defesa-direito decidiu regressar a Portugal assim que subiu a sénior e passou pelo Sandinenses e pelo D. Chaves, antes de um outro Toni, de seu nome António Conceição, o ter contratado para jogar no Estrela da Amadora e na I Liga.
Ao fim de uma temporada e meia na Reboleira, chamou a atenção do Cluj, e foi para a Roménia ajudar o clube dos ferroviários a tornar-se num "grande": foi duas vezes Campeão, venceu três Taças e duas Supertaças, já para não falar das idas à Liga dos Campeões.
Em 2011 voltou ao nosso País, para o V. Guimarães, e passou depois por Paços de Ferreira e Penafiel, totalizando assim 104 jogos na I Liga, divididos por sete temporadas.
Golos na I Liga, só um. E que golo. Ao Sporting, pelo Paços, de cabeça, num jogo que marca uma temporada que foi excepcional para os castores: terceiro lugar final no campeonato, em 2012/2013.
Estreou-se na I Liga em pleno Estádio do Dragão, o mesmo sítio onde, ironia do destino, viria a fazer, dez anos mais tarde, o último jogo da carreira.
Atualmente com 36 anos, Tony é treinador-adjunto de Ricardo Chéu, uma "aventura" que começou na temporada passada no Académico de Viseu, e que conhece esta época novo capítulo, ao serviço do Freamunde.

Prémio Carreira: Do D. Chaves ao Estrela e à I Liga. Como é que surgiu esta hipótese?
Tony Silva: Eu era seguido pelo António Conceição (Toni) há muito tempo, desde a altura que ele trabalhava no Braga e até me queria levar para lá. Na altura jogava no Sandinenses, na II Divisão B, e até tive a oportunidade não só de ir para o Braga, como de ir para o FC Porto B, mas optei por escolher o D. Chaves, porque é a terra do meu Pai e porque o GD Chaves é o clube do meu coração. Uns anos mais tarde, o Toni foi para o Estrela e veio-me buscar. Tive, também, o interesse do Paços de Ferreira, que era treinado pelo José Mota, mas o Toni já me conhecia, veio ter comigo pessoalmente e eu senti-me "desejado", e saber que ia para um clube no qual o treinador me queria, fez-me sentir que seria um passo importante para me impor na Primeira Liga.

PC: Recorda-se onde se estreou na I Liga?
TS: Foi no Estádio do Dragão...

PC: E onde fez a despedida, já agora?
TS: No Dragão também. É curioso, porque isso foi um "sinal" para terminar a carreira, digamos assim.
Tinha e sentia-me com condições físicas e psicológicas para jogar mais dois ou três anos, mas já tinha emigrado durante alguns anos, e preferi parar quando fui convidado pelo Ricardo Chéu para ser adjunto dele. Ele, na altura, "deu-me" duas semanas para pensar no assunto, e eu pus-me a pensar, e achei que era um sinal ter-me estreado na I Liga no Dragão e ter feito o último jogo lá também. Uma coisa do género: começaste aqui, agora acabas aqui também. Nós, ao longo da carreira, pensamos nestes pormenores todos, e isso foi, para mim, um "sinal" de que estava na altura de deixar de jogar.

PC: A sua primeira época no Estrela foi muito boa...
TS: Foi uma época que pessoalmente correu muito bem. Fui eleito o melhor defesa direito do campeonato ao serviço do Estrela, que não é nada fácil. Falou-se muito do interesse do FC Porto e do Benfica, mas o presidente do Estrela olhou pelos interesses do clube e, inconscientemente, não me deixou sair. Toda a gente sabe que o Estrela era um clube que passava dificuldades financeiras, mas eu recebi sempre tudo direitinho, pelo que também não me vi no direito de forçar a saída. Lembro-me que se falava no interesse do Levante, do Mónaco, de clubes italianos, etc, mas, como disse, o presidente olhou pelos interesses do clube e preferiu manter-me.

PC: Aquela meia época de 06/07 foi uma continuidade da sua afirmação?
TS: Sim, exatamente. Continuei a excelente época que tinha feito, até porque não passava despercebido, e não era só por ser careca (risos). Penso que tinha uma forma diferente de jogar. Se me pedisses para fintar, não fintava, mas dentro do meu registo, penso que era um jogador diferente, porque tinha intensidade, porque era muito concentrado e inteligente a jogar, mantinha a mesma intensidade durante os noventa minutos, etc. E em Dezembro apareceu uma proposta muito boa do Cluj, irrecusável que é mesmo assim, e aí sim, senti que era o momento ideal para sair e fui junto do presidente forçar a minha transferência.

PC: A experiência na Roménia correu-lhe muito bem, certo? Ganhou tudo o que havia para ganhar, foi à Liga dos Campeões...
TS: Sim sim, correu muito bem. Durante o tempo que lá estive, ganhei dois Campeonatos Nacionais, três Taças, duas Supertaças, fui duas vezes à Liga dos Campeões, outras duas à Liga Europa... Pelo Cluj atingi aquele patamar que todos os jogadores querem atingir, que é ganhar títulos e serem reconhecidos. Foi uma experiência que me correu mesmo super bem. Em meio ano passei a ser a "coqueluche" do Cluj, toda a gente gostava de mim, e no estádio em cem camisolas, oitenta tinham o nome do Tony. Fui, e ainda sou, muito respeitado na Roménia. Semanalmente dou entrevistas para lá, e muitos presidentes ligam-me a pedir informações sobre determinados jogadores que jogam em Portugal.

PC: Em Dezembro de 2011 dá-se o regresso a Portugal, mais concretamente para o V. Guimarães. Que razões o levaram a regressar e porquê o Vitória?
TS: É uma história atípica. Achei que era o fim da minha história no Cluj, porque já tinha ganho tudo e não tinha mais motivação para continuar. Surgiu o interesse do Sp. Braga, que me agradou, mas acabei por ir para o V. Guimarães. No dia anterior a fazer os exames médicos no Braga, fui almoçar a Sande, onde tinha jogado, e encontrei lá o Emílio Macedo, que era o presidente do Vitória. Ele admirou-se por me ver lá e perguntou: "então Tony que andas a fazer aqui?", e eu disse que ia para Braga, e ele disse logo "é pá, para o Braga não! vens para o Vitória!". E foi assim que ele me conseguiu "desencaminhar". Mais tarde, claro, fiquei a pensar naquela escolha porque o Braga acabou por ir, nesse ano, à final da Liga Europa.
Acho que escolhi mal e escolhi bem. Quando digo que escolhi bem, penso que toda a gente entende o porquê: lá vive-se o clube de uma forma que não se vive em mais lado nenhum. Ser do Vitória, em Guimarães, é quase como uma religião. A nível desportivo as coisas correram mal, porque acabei por não ser aposta. O mister Manuel Machado apostava no Alex, que era uma figura do clube, com muitos anos de casa, e eu respeitava as decisões dele. Acabo por fazer um jogo contra o V. Setúbal, em que fiz um bom jogo, e até fui eleito pela SportTv e por alguns jornais como o melhor em campo, e na semana seguinte nem sequer fui convocado. Não virei a cara à luta, continuei a trabalhar duro à espera que a minha oportunidade surgisse, mas não surgiu, e até fui ao Jamor na final da Taça que perdemos com o FC Porto (6-2). No ano seguinte, fiz a pré-época normal, fomos a Aveiro jogar a Supertaça com o FC Porto também, e num treino rasguei um dos gémeos e estive dois meses parado. O treinador já era o Rui Vitória, que também optava pelo Alex, e eu, como vi que ia voltar a viver a mesma situação da época passada, pedi para sair.


PC: E o Paços de Ferreira como é que "apareceu"?
TS: O convite do Paços apareceu através do Carlos Barbosa, que era o presidente naquela altura. O Paços estava "condenado" a descer de divisão quando fui para lá, mas fizemos uma recuperação extraordinária com o mister Henrique Calisto, e na segunda volta, exceptuando os "grandes", fomos a equipa que mais pontos somou. Acabámos por ficar numa posição tranquila, praticamente a meio da tabela. Passei anos fantásticos em Paços. É um clube à minha imagem. Revejo-me totalmente naquela ideologia. É um clube humilde, ao dia 8 de cada mês pagam a toda a gente, e não falta nada a quem lá trabalha. Não me canso de dizer isto: é um clube à minha imagem.

PC: O que significou para si a época 2012/2013?
TS: De tudo o que alcancei na carreira, essa época é a maior satisfação pessoal que tive. Quando estava no Cluj, nós pusemos o clube a ganhar títulos e a ir à Liga dos Campeões com regularidade. Fizemos do Cluj um "grande", que foi mesmo assim. Mas o terceiro lugar com o Paços tem um significado completamente diferente. Fizemos uma grande época, em que só perdemos com o Benfica e com o FC Porto. Há aquele jogo com o Sporting, que faço o golo da vitória, lembro-me perfeitamente de tudo: era um livre para nós, o Josué estava para bater, e eu decidi subir. O Fonseca começou a dizer para não ir, para ter cuidado com o Bruma, por causa do contra-ataque, mas eu disse que ia, e lá fui. O Josué bate, a bola vai ao poste, eu atiro-me de cabeça, e faço golo. Costumo dizer que dei os três milhões ao Paços (risos). O empate era muito bom para nós, não só por ser com o Sporting, mas porque nos permitia manter-mos a vantagem de quatro pontos para eles, mas ao ganharmos, "arrumámos" praticamente com o Sporting do terceiro lugar e, até ao fim, a nossa luta foi com o Sp. Braga. Na última jornada, jogávamos em casa com o FC Porto, e queríamos festejar o terceiro lugar e nem podíamos, porque o jogo decidia o título, e fomos ameaçados e "picados" por todos os portistas e benfiquistas.

PC: Em 2014 deixa o Paços e assina pelo Penafiel, que tinha acabado de regressar à I Liga. Porquê?
TS: O último ano em Paços foi duro, porque só conseguimos a manutenção num play-off com o Aves, depois de uns meses antes termos ido às competições europeias, e de termos jogado com o Zenit no play-off da Liga dos Campeões. Senti que precisava de outro desafio, e como a direção do Paços ia mudar e ninguém sabia quais os jogadores que ficavam ou não, decidi sair para o Penafiel. Infelizmente as coisas não correram bem, foi uma época má a todos os níveis, e descemos. Penso que se tivessem dado mais tempo ao Ricardo Chéu, ou tivessem mantido o Rui Quinta até ao fim, acredito que tinhamos garantido a manutenção. A direção optava por mudar para ver se as coisas melhoravam, e o grupo ressentia-se disso. Faltou estabilidade, na minha opinião.

PC: Essa época marca o fim do seu percurso como jogador, e uns meses depois já estava como treinador-adjunto. É mais difícil estar do lado de dentro ou de fora?
TS: Do lado de fora, sem dúvida. Enquanto jogador só tens que pensar em treinar e jogar, e depois tens o tempo todo livre. Quando és treinador, as coisas mudam. Tens que tomar decisões, tens que planear treinos, analisar adversários, analisar jogadores, ocupa muito do nosso tempo. Podia ter continuado a jogar, porque ainda recebi alguns convites para continuar, nomeadamente do Gil Vicente, e outros para voltar a emigrar, mas o Ricardo Chéu ligou-me para ir para o Ac. Viseu, e eu até lhe disse "achas que o Académico tem dinheiro para me pagar?" (risos), mas ele disse que não era para jogador, mas sim para adjunto, e eu até fiquei na dúvida se ele estava a falar a sério ou se estava a brincar, porque só o tinha conhecido uns meses antes, quando fui jogador dele em Penafiel durante dois meses e meio. E foi assim que decidi terminar a carreira como jogador e abraçar este desafio de ser adjunto.

PC: Das sete épocas que fez na I Liga, qual foi, para si, a melhor?
TS: Claramente a época 2012/2013, do terceiro lugar com o Paços de Ferreira. Pessoalmente foi uma boa época e aprendi imenso com o Paulo Fonseca. Posso dizer que ele me deu uma visão do futebol que eu não tinha. Foi importante para mim. E acredito que se lhe tivessem dado mais tempo no FC Porto, ele tinha feito algo semelhante ao que o Mourinho fez.

PC: E o extremo que mais "trabalho" lhe deu, quem foi?
TS: Em Portugal, o Quaresma. Era complicado marcá-lo, mas gostava de jogar contra ele. Nas competições europeias, "apanhei" o Robben, e o homem só queria correr (risos). Eu até digo que às vezes ia para lhe dar umas porradas, mas já não conseguia, porque ele era tão rápido tão rápido, que conseguia fugir (risos).

PC: Qual foi o melhor momento da sua carreira? O terceiro lugar conseguido pelo Paços ou ser campeão pelo Cluj?
TS: Como já falei e pelas razões que já mencionei, sem dúvida, o terceiro lugar pelo Paços.

PC: O que ficou por atingir na carreira?
TS: Se calhar faltou jogar num "grande" em Portugal. Lembro-me que num ano em que o Fernando Santos era treinador do Benfica, o Benfica foi à Roménia fazer a nossa apresentação, e eu fiz um grande jogo, e o mister quis-me logo trazer para o Benfica, mas o Cluj não deixou. Uns anos mais tarde, o Cluj recebeu uma proposta do Sevilha por mim, mas não aceitaram, e isso deixou-me alguma mágoa. E houve sempre o objetivo da Seleção, mas sabia que não tinha grandes hipóteses porque o titular era o Bosingwa, e ainda havia o Paulo Ferreira como alternativa. Mas não me arrependo de nada do que fiz.

PC: Agora vem a parte em que o Tony é "especialista". Que história é que pode contar?
TS: (risos) É verdade, só queria fazer asneiras (risos).
Quando estava no Paços de Ferreira, fomos à Madeira, jogar com o Marítimo, não sei se era o último ou o penúltimo jogo, na época do mister Calisto. O Filipe Anunciação ia casar, então decidimos fazer-lhe lá a despedida de solteiro, e combinámos ir a uma casa de striptease. Atenção, que a futura mulher dele sabia disso (risos). Chegámos lá, começamos a olhar para as senhoras que lá estavam, mas elas eram tão fracas, que eu mesmo decidi dispensá-las e fui para cima do palco (risos). Até me virei para uma e disse: pega lá o dinheiro, mas não é para fazeres nada, é mesmo para saires daqui (risos). Foi um momento caricato, mas o pior foi para o Filipe, que em vez de ter um strip de uma mulher, teve que levar com um strip aqui do careca.
Tenho outra de quando estava no Cluj, em que o nosso roupeiro era um senhor já com alguma idade. Um dia fomos jogar não sei se a Munique ou a Bordéus, para a Liga dos Campeões, e como é sabido, nos aeroportos todos temos que passar pela revista. Antes de chegar a vez dele ser revistado, eu meti um vibrador preto com uns 50 cm dentro da mala dele, e quando eles passaram aquilo no controlo, aquilo começou a vibrar e eles chamaram o homem à parte. Ele lá foi ver o que seria, sem sequer imaginar, e quando os funcionários do aeroporto tiraram aquilo da mala, haviam de ver a cara dele (risos).

PC: Atualmente é treinador-adjunto. Quais são os seus objetivos para o futuro?
TS: O objetivo, a curto prazo, é dar continuidade enquanto adjunto do Ricardo Chéu. Sou um adjunto feliz, digamos assim, porque o Ricardo dá-me toda a liberdade para exprimir as minhas ideias e as minhas opiniões, e trocámos, constantemente, opiniões e ideias sobre tudo.
Quanto ao futuro, não penso nisso. Neste momento revejo-me muito mais em potenciar jogadores, por isso, gostava de, um dia, treinar uma equipa de Juniores ou mesmo treinar uma equipa B, mas não tenho aquele desejo "forte" de ser treinador principal de uma equipa Sénior.


A carreira de Tony, aqui.

Veja aqui um vídeo de homenagem a Tony, feito por adeptos do Cluj:


E veja o golo de Tony, pelo Paços, ao Sporting, aqui.

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